Atualmente moradora de Cascavel, Thaize entrou para a profissão com incentivo do tio, caminhoneiro há 30 anos
Thaize Mikaele Rodrigues Rocha, de 23 anos, abandonou a casa em que vivia em Sinop, no Mato Grosso, para trilhar caminhos até então desconhecidos no Paraná, os quais a levariam a realizar o grande sonho de sua vida: ser caminhoneira.
Atualmente moradora de Cascavel, na região Oeste do Estado, a jovem enfrentou preconceitos pelo percurso por ser mulher em uma área composta majoritariamente por homens. Quando chegava nos postos de combustíveis para abastecer, ouvia com recorrência: “Quem é o verdadeiro motorista do caminhão? Com quem você viaja acompanhada?”
Além das adversidades pré-existentes, Thaize também driblou as barreiras internas, como a insegurança sobre o futuro que teria nas rodovias. Mesmo com receios, decidiu que este não seria o fim da linha. E acelerou rumo aos objetivos.
Para isso, deixou para trás a família. No Paraná, com a ajuda de um tio com mais de 30 anos de profissão, recebeu a indicação para fazer, primeiro, a carteira C — a categoria permite dirigir veículos de carga com peso bruto total superior a 3,5 mil kg.
Ao perguntar para o tio sobre as dificuldades que teria pela frente, ele a respondeu que a profissão, para ele, não era difícil, mas ela enfrentaria julgamentos devido ao contexto machista em que seria inserida.
Após obter a carteira C, Thaize concluiu o curso de instrutora para motoristas e atuou na função por certo tempo. Depois, resolveu fazer a carteira E — categoria que permite conduzir veículos pesados, como caminhões, ônibus e carretas.
Há quatro meses, em outubro de 2024, foi aprovada no processo seletivo de uma transportadora. Nos primeiros dias, confusa, encontrou-se em apuros para se orientar com o GPS, uma vez que o dispositivo traça rotas, levando-a para as vias urbanas das cidades.
Isso era um problema, porque nem todos os municípios permitem que veículos pesados transitem pelas ruas. Caso essa regra seja descumprida, os caminhoneiros podem ser multados e os veículos apreendidos.
Diário de bordo na boleia, cortando as rodovias do Paraná
Para a alimentação, a empresa em que Thaize trabalha deposita um valor semanal a fim de que ela possa comprar as refeições diárias. “A maioria das pessoas que tem caixa para fazer comida, faz comida na caixa. Quem não tem caixa, opta em comprar marmita ou comer em restaurante”, disse.
A segunda opção, segundo a caminhoneira, custa mais.
A jovem conta ainda que, entre a origem e o destino das cargas, os caminhoneiros precisam se virar como podem nos postos de combustíveis, às margens das rodovias, para fazer a higiene básica.
Ela, especificamente, acorda cedo, sai do caminhão e segue até os banheiros para fazer as necessidades. Ela diz que, quem trabalha no ramo, sabe dos pontos negativos de se parar nos postos.
Alguns estabelecimentos, por exemplo, cobram taxa de estacionamento e banho. Além disso, ela relata que os caminhoneiros precisam carregar potes para usar, em casos urgentes, quando estão distantes dos postos.