Paranaense de 7 anos tem alergia ao suor e ao calor: “O desafio é manter uma criança parada”, diz mãe
Se o pequeno Murilo Antônio fizer alguma atividade intensa por mais de 15 minutos, ele já começa a ter uma crise alérgica preocupante. “Começa com uma urticária e ele entra num quadro de anafilaxia, afetando a respiração”, diz a mãe, Jhenifer Verônica, em entrevista à CRESCER. Conheça a história!
Toda criança gosta de correr e pular na hora da brincadeira. Mas já imaginou ter que controlar o tempo em que ela pode fazer isso? Esse é o desafio que a influenciadora e empresária Jhenifer Verônica, 32, de Cascavel, Paraná, precisa enfrentar todos os dias com seu filho, Murilo Antônio, 7, que tem urticária colinérgica, uma reação alérgica ao suor e ao calor. Se o menino fazer atividade física por mais de 15 minutos, ele já começa a ter uma crise de alergia preocupante, com inchaço, manchas vermelhas pelo corpo e falta de ar.
Aos 6 anos, Murilo teve um episódio de anafilaxia, uma reação alérgica aguda grave e potencialmente fatal. “Ele estava na casa da vó, brincando e pulando no sofá, até que a vó dele chamou para comer um chocolatinho, ele comeu e voltou a brincar. Um pouco depois, ele veio contar para a gente que ele estava com falta de ar. Na hora que a gente olhou, ele estava com o rosto inchado, urticária e dificuldade para respirar”, diz Jhenifer em entrevista exclusiva à CRESCER.
Como a sua filha mais nova, Bella, 3, tem alergias alimentares, ela sempre carrega adrenalina na bolsa, o que foi muito útil naquele momento. Após dar o remédio para o filho, eles correram para o hospital. Logo em seguida, ela entrou em contato com a alergista da caçula. “Ela pediu para eu fazer um relatório do que ele estava fazendo três horas antes de tudo acontecer e nos deu um teste para urticária”, lembra.
Diagnóstico
Com os resultados em mãos, ela constatou que o garoto tinha uma urticária bem forte, mas ainda não sabia a causa. “Ela fez mais exames e deu um teste em que o Murilo precisava fazer todos os dias a mesma atividade física intensa por pelo menos 40 minutos. Toda vez quando dava 30 minutos cravados que ele fazia corrida, pulava ou fazia uma caminhada muito intensa, ele entrava num quadro de anafilaxia”, diz a mãe.
Com isso, ele foi diagnosticado com urticária colinérgica. “É genética, eu sofro de urticária, asma e várias alergias. Ele tem alergia com anafilaxia a gato e tinha alergia alimentar quando pequeno também”, afirma.
Vale destacar que todo esse processo levou cerca de cinco meses e o menino teve vários episódios graves nesse meio-tempo antes de saber o que estava acontecendo. “A reação alérgica dele começa com uma urticária e ele entra num quadro de anafilaxia, afetando a respiração, tendo uma crise de asma e provocando edema [inchaço] na glote ou nos olhos. Ele também fica com muita sonolência, porque afeta o sistema nervoso”, explica Jhenifer.
‘O principal desafio é manter uma criança parada’
Para evitar as crises, é preciso tomar várias medidas. “O Murilo tem a orientação de não participar das aulas de educação física em dias de calor na escola, ele faz outros tipos de atividades que não envolvam corrida, pular na cama elástica e esse tipo de coisa. Toda vez que ele precisa fazer algo assim na escola, tem que cronometrar 15 minutos e não pode ultrapassar desse tempo”, afirma a mãe. Nos dias mais quentes, ele também faz uso contínuo de um antialérgico, tomando a cada 12 horas.
“O principal desafio é manter uma criança parada e controlar o tempo da atividade física. É bem complicado, principalmente porque ele tem uma irmã que é superativa e que fica chamando o Murilo o tempo todo para fazer alguma coisa. Então, a gente fica cronometrando o quanto ele já brincou, [quando chega no limite] chamamos para tomar um banho e depois ele volta a brincar. São coisas bem rigorosas”, destaca.
Caso aconteça um episódio de alergia, é preciso baixar a temperatura do corpo o quanto antes, o que nem sempre é uma tarefa fácil para Jhenifer, pois o filho é autista e tem alta sensibilidade a mudanças de temperaturas. Por isso, ela não consegue colocá-lo embaixo do chuveiro e precisa usar a água da torneira para baixar a temperatura aos poucos. Além disso, ele sempre anda com um kit com adrenalina, antialérgico e bombinha para asma. A escola também está ciente da condição de Murilo e sabe o que fazer.
‘Precisa ficar muito atento, às vezes as pessoas banalizam demais’
Jhenifer resolveu fazer um vídeo para alertar sobre a condição do filho, mostrando o corpo dele repleto de manchas vermelhas durante a crise de alergia. “Suor + atividade física = urticária colinérgica. Precisa agir rápido, refrescar o corpo e já usar o antialérgico. Murilo, caso não siga esses passos, já teve situações de entrar em anafilaxia”, escreveu a mãe nas redes sociais. A gravação viralizou, alcançando mais de 4,1 milhões de visualizações, 55 mil curtidas e mil comentários.
“Eu não esperava que o vídeo ia viralizar, confesso que fiquei até um tempo sem entrar no Instagram, quando eu voltei, tinha bombado, até me perdi nos comentários. Mas a repercussão tem sido muito bacana”, afirma. “Precisa ficar muito atento, porque às vezes as pessoas banalizam demais, acabam não levando tão a sério um caso que pode levar a óbito”, finaliza.
Sobre urticária colinérgica
A urticária é dividida didaticamente em aguda e crônica. Entre as crônicas, existem as urticárias induzidas e uma delas é a colinérgica. A urticária colinérgica acontece quando a célula em nosso sistema imunológico se desregula devido ao aumento da temperatura corpórea (por exemplo: em atividades físicas, pós-banho, alta temperatura ambiente, nervosismo, alimentação com pimenta ou muito condimentada), o que resulta na liberação de uma substância em nossa pele que promove coceira, lesão, vermelhidão local e calor, chamadas urticas. Em casos mais graves pode causar inchaço no corpo (olhos, lábios e garganta), pressão baixa, falta de ar ou anafilaxia.
O tratamento é feito com o uso de antialérgico, que alivia os sintomas e ajuda a controlar a situação. Os pacientes com urticária colinérgica devem evitar os fatores desencadeantes, ou se não tiver como evitá-los, utilizar-se do antialérgico antes da exposição. Sempre é bom ter um especialista para acompanhamento e orientação adequada.
Fonte: Cristina Abud de Almeida, alergologista na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo