Paranaense aposta na produção da pimenta considerada uma das mais ardidas do mundo: ‘Vendo para o país inteiro’
‘Carolina Reaper’ é uma das variedades cultivadas pelo produtor no Paraná. Nutricionista alerta que pimentas muito fortes não devem ser consumidas in natura; saiba quantidade diária recomendada.
A procura pela pimenta “Carolina Reaper”, eleita pelo Guinness World Records a mais ardida do mundo em 2013, é tão grande que o produtor paranaense Rildo Cazé calcula que precisaria ofertar quantidade cerca de cinco vezes maior para dar conta de toda a demanda.
No ramo há cerca de 15 anos, o produtor de Maringá cultiva mais de 50 variedades. Dos 20 a 30 pés da Carolina Reaper, saem aproximadamente 2 mil quilos por ano. O valor varia de acordo com a época do ano e pode chegar a custar R$ 150 o quilo na entressafra.
“Vendo para o país inteiro pela internet”, relata.
Rildo comercializa a pimenta in natura, na forma de molho e batida, concentrando somente o extrato.
O produtor confessa que também é consumidor da iguaria. Todos os dias ele coloca de 4 a 5 gotinhas do extrato da pimenta nas refeições.
“Apenas essa quantidade já é suficiente. Como moderadamente, porque sei que ela é perigosa”, alerta.
Dez anos depois da pimenta Carolina Reaper ser eleita a mais ardida do mundo, em outubro de 2023 a nova variedade Pepper X tomou o lugar em nível de picância. Ambas foram criadas por Ed Currie, fundador de uma fazenda e fornecedora de produtos à base de pimentas nos Estados Unidos.
Questionado sobre planos de passar a produzir a nova recordista Pepper X, Rildo diz que tem, sim, a intenção, mas explica que por enquanto a variedade ainda não existe no Brasil.
“Para chegar coisa falsa aqui é questão de dois minutos. Como em todo tipo de comércio existem os picaretas, que misturam variedades diferentes e falam que é Pepper X. Vou esperar, tem que ter paciência”, completa.
Vai com calma 🌶️
A coordenadora da pós-graduação em Nutrição Funcional da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Gisele Pontaroli Raymundo, alerta que, ao mesmo tempo que a pimenta pode ser benéfica à saúde, também traz riscos, principalmente a quem tem condições pré-existentes.
A capsaicina é um composto bioativo presente no tecido que segura as sementes da pimenta (chamado de placenta) e nas próprias sementes das pimentas vermelhas. A substância concentra as principais propriedades do fruto.
Responsável pela ardência, a capsaicina tem função anti-inflamatória e antioxidante, além de poder ajudar na perda de peso por ter ação termogênica e acelerar o metabolismo, conforme a professora.
A especialista explica que a recomendação diária de consumo é de 2 a 5 miligramas, valor que equivale de 1 a 2 unidades de pimenta malagueta. O alimento pode ser adicionado a receitas quentes, como um ensopado ou uma moqueca, ou usado para preparar molhos e geleias.
“Não é tarefa fácil, ainda mais para nós que não temos esse costume difundido em nossa cultura alimentar. Para comer crua precisa ser corajoso”, analisa a professora.
A professora alerta que o consumo de pimenta pode agravar o quadro de quem tem gastrite, úlcera e refluxo.
“A capsaicina também interfere no processo de digestão, fazendo com que o intestino funcione mais rápido ou mais devagar dependendo de cada organismo. Então a pessoa pode ter diarreia ou prisão de ventre. Pode dar cólica intestinal também, aquela sensação de o intestino estar dando um nó.”
No caso das pimentas super ardidas, como a Carolina Reaper e a Pepper X, a professora alerta ser totalmente contraindicado a ingestão in natura.
Como o nível de ardência da pimenta é medido?
A escala usada para determinar o quão picante uma pimenta é se chama Scoville e foi criada em 1912. O teste envolve diluir o ingrediente em uma solução de água com açúcar até que os compostos picantes não sejam mais detectados.
Por exemplo: se uma xícara de pimenta precisa ser diluída em duas mil xícaras de água com açúcar até ser neutralizada, a variedade alcança 2.000 pontos na escala, chamados de SHU (Scoville Heat Units).
Só para se ter uma ideia, a capsaicina pura (composto que segura as sementes da pimenta) equivale a 15 milhões de SHU, a Pepper X a 2,6 milhões de unidades de calor Scoville e a Carolina Reaper a 1,64 milhão de SHU.
Confira na tabela abaixo qual o nível de ardência das pimentas mais comuns na culinária brasileira:
As pimentas mais ardidas
TIPO | Unidades de calor Scoville |
Malagueta | 50.000 – 100.000 SHU |
Caiena | 30.000 – 50.000 SHU |
Cumari | 30.000 – 50.000 SHU |
Dedo-de-moça | 5.000 – 15.000 SHU |
Jalapeño | 2.500 – 8.000 SHU |
Biquinho | 500 – 1.000 SHU |
Pimenta-de-cheiro | 200 – 1.000 SHU |