Plástica no rosto e dono de 7 igrejas: quem é Colorido, ex-nº 2 do PCC
Criminoso foi jurado de morte por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, em novo desdobramento do racha histórico da facção
Valdeci Alves dos Santos, de 52 anos, o Colorido, foi um importante líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas ruas, antes de ser preso durante uma blitz da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no sertão pernambucano. Era 16 de abril de 2022.
Na ocasião, ele apresentou um documento falso e, por isso, foi levado para uma delegacia da cidade de Salgueiro — cidade que compõe o chamado Polígono da Maconha —, onde confirmaram sua verdadeira identidade.
O criminoso estava com as maçãs do rosto mais salientes e tinha menos rugas por causa de cirurgias plásticas faciais, feitas para dificultar sua identificação (imagem em destaque).
Colorido estava foragido havia pouco mais de sete anos, após ter sido beneficiado com uma “saidinha” temporária de Dia dos Pais e não ter mais voltado para o Centro de Progressão Penitenciária (CCP) de Valparaíso, interior de São Paulo. Lá, ele cumpria pena no regime semiaberto por tráfico e homicídio.
Como revelado pelo Metrópoles, o chefão do PCC foi jurado de morte por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, em mais um desdobramento do racha histórico da maior facção criminosa do Brasil.
Durante o período em que ficou nas ruas, foragido da Justiça, Colorido ascendeu na hierarquia do PCC, chegando ao posto de número 2 fora do sistema carcerário — posição que ocupou até ser “decretado” por Marcola.
Para lavar os milhões que passou a acumular, por causa do tráfico internacional de drogas, ele investiu na compra de sete igrejas evangélicas — em São Paulo e Rio Grande do Norte, seu estado de origem —, além de fazendas e cabeças de gado.
Natural de Jardim das Piranhas, pequena cidade potiguar com 13,7 mil habitantes, Colorido também foi denunciado pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte pela aquisição das igrejas, com o dinheiro do crime.
Ele movimentou ao menos R$ 23 milhões, com a ajuda de familiares, também investigados pelo suposto envolvimento no esquema.
Vida em fuga
Até ser preso, Colorido viveu na Bolívia, principal fornecedor da cocaína traficada pelo PCC para a Europa, e Paraguai, cuja fronteira é usada para introduzir drogas em território brasileiro.
De acordo com investigações do Ministério Público de São Paulo, ele também era responsável por viabilizar o despacho das drogas para a Europa, por meio do Porto de Santos. Somente entre 2018 e 2019, segundo a Promotoria paulista, ele ajudou a movimentar cerca de R$ 1 bilhão da facção.
Decretado por Marcola
Segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), Colorido foi “decretado” por Marcola em decorrência de um suposto desvio de recursos da facção.
“Ele é mais um membro importante que o Marcola decreta [a morte]”, afirma Gakiya, membro do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) que investiga o PCC há duas décadas e já foi alvo de um plano de sequestro e assassinato da facção, descoberto pela Polícia Federal (PF) no ano passado.
Por causa do risco de ser assassinado, acrescenta o promotor, Colorido já teria conseguido, a pedido, sua transferiência para o “seguro” – ala reservada para detentos ameaços de morte – da Penitenciária Federal de Brasília, unidade onde os principais líderes do PCC estão presos.
Para Gakiya, Colorido vai acabar se juntando ao grupo de outras lideranças dissidentes que romperam com Marcola recentemente, provocando uma guerra interna no PCC. São eles: Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Abel Vida Loka – ambos faziam parte da alta cúpula desde 2002 –, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.
Razões para o racha
O principal motivo do racha na cúpula do PCC seria um diálogo gravado entre Marcola e agentes da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) no qual ele afirma que Tiriça seria um “psicopata”.
A declaração foi usada por promotores no julgamento de Tiriça, que foi condenado a 31 anos de prisão, em 2023, como mandante do assassinato de uma psicóloga.
A fala de Marcola teria sido interpretada pelos antigos aliados como uma espécie de delação. Tiriça estava para sair da cadeia caso não fosse condenado, conforme explica o promotor do Gaeco.
“Esses caras [Tiriça, Abel Vida Loka e Andinho] ajudaram a fazer o PCC crescer, com todos eles na liderança. É gente do topo da pirâmide, parceiros muito próximos que, agora, são inimigos”, completa Gakiya.
“Salves” do PCC
O promotor conta que os dois lados da guerra na cúpula da facção transmitiram seus respectivos “salves”, como são chamados os comunicados internos do PCC, para decretar a expulsão dos rivais.
A diferença é que o grupo de Tiriça, considerado o 02 da facção até o racha, enviou a ordem apenas a outros membros importantes da organização que estão presos na Penitenciária Federal de Brasília. Marcola, por sua vez, mandou um salve para fora do sistema prisional, a fim de tentar garantir a fidelidade das lideranças do PCC que estão nas ruas, os chamados Sintonias da Rua.
Além de rebater as acusações dos outros chefões sobre ter “delatado” Tiriça, Marcola comunicou no salve a expulsão dos três ex-aliados da cúpula e os “decretou” à morte.
O promotor do Gaeco acredita que, em um primeiro momento, Tiriça, Abel e Andinho estão se movimentando nos bastidores para tentar reverter a expulsão decretada por Marcola e brigar pelo poder na facção.
Caso sejam bem-sucedidos, esse pode ser o fim da era de Marco Willians Herbas Camacho como líder máximo da facção, após mais de 20 anos. Para Gakiya, mesmo que Marcola consiga se manter no poder, ele sairá da disputa enfraquecido.
O setor de Inteligência da Polícia Civil, contudo, detectou que os dissidentes do PCC estariam articulando a formação de um grupo rival, que seria chamado de Primeiro Comando Puro (PCP).