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Feminicídio de jogadora espancada e estrangulada pelo marido choca a Argentina

Florencia Guiñazú, de 30 anos, foi golpeadaem sua casa; o companheiro, Ignacio Notto, colocou um cartaz na janela que dizia “chamem o 911, as crianças estão sozinhas”

Um feminicídio chocou Cuyo e enluta o mundo do futebol feminino da Argentina. Florencia Guiñazú, jogadora do Argentino de Mendoza, de 30 anos, foi encontrada espancada e estrangulada dentro do quarto que compartilhava com o companheiro Ignacio Agustín Notto, de 32 anos, que depois do crime se suicidou. Na janela, um cartaz revelava o horror que a polícia encontraria dentro do apartamento 10 da rua Bombal 400, em Guaymallén: “Liguem para o 911. As crianças estão sozinhas”. Presume-se que o feminicida tenha escrito antes de tirar a própria vida.

O drama que se desenrolou no apartamento de Guaymallén foi o epílogo de uma história que já havia dado muitos sinais do que poderia acontecer. Em novembro do ano passado, um vizinho encontrou Florencia perto de sua casa, em estado de choque.

Segundo o portal de notícias mendocino El Sol, ela foi agredida e trancada no banheiro do apartamento na rua Bombal entre Magallanes e Adolfo Calle. Houve uma denúncia por violência de gênero, na qual o Ministério Público tomou depoimento informativo de Notto. No entanto, o caso murchou por falta de provas, uma vez que a vítima não apresentou provas para incentivar a ação penal.

No entanto, as situações de violência não cessaram. “Era um casal com um relacionamento muito aberto. Mas as brigas eram constantes nos últimos tempos”, disseram fontes da investigação citadas pelo El Sol.

No sábado, por volta das cinco da manhã, uma série de ruídos surdos e fortes pressagiavam o pior. No entanto, seria necessário esperar até a tarde para que a dimensão da tragédia ocorrida na rua Bombal 400 fosse revelada. Às 16 horas, um vizinho percebeu que em uma das janelas alguém havia colocado um cartaz dizendo “liguem para o 911, as crianças estão sozinhas”.

Esse testemunha disse que, intrigada com o que o cartaz sugeria, bateu à porta da casa. Foi atendido por um menino de 7 anos, um dos dois filhos de Florencia e Ignacio. Ele perguntou pelos pais e o menino respondeu que havia estado jogando PlayStation por um bom tempo e até bateu na porta do quarto principal, mas estava trancada por dentro e ninguém respondia.

Florencia Guiñazú e o ex-companheiro — Foto: Reprodução
Florencia Guiñazú e o ex-companheiro — Foto: Reprodução

O vizinho imediatamente ligou para o 911. A polícia chegou e encontrou no apartamento 10 o menor em casa; sua irmã, de cinco anos, havia ido dormir na casa de uma das avós. O menino disse que, como seus pais não abriam a porta nem atendiam, saiu para o pátio do complexo porque “estava com fome”.

Eles foram até o quarto matrimonial e, de fato, estava trancado por dentro. Eles não tiveram outra escolha senão arrombar a porta. Assim que entraram, se depararam com a cena de um crime.

No quarto estava Florencia Guiñazú caída no chão, em meio a manchas de sangue, já sem vida; à primeira vista, seu corpo apresentava múltiplos golpes. Dentro de um dos armários estava Ignacio Notto, pendurado por um cabo ao redor do pescoço.

Diante dessa cena macabra, a Unidade Fiscal de Homicídios e Violência Institucional foi notificada. O caso foi para a promotoria nº 17, sob o comando do promotor Gustavo Pirrello, que ordenou a ativação do protocolo para casos de feminicídio. Pouco depois, peritos do Corpo Médico Forense (CMF) chegaram à rua Bombal.

Também trabalharam no local pessoal do Serviço de Emergência Coordenado (SEC) e policiais da área de Investigação, que iniciaram as primeiras investigações e entraram em contato com os vizinhos, cujos depoimentos permitiram traçar um primeiro mapa sobre o relacionamento conflituoso e tomar conhecimento dos antecedentes que poderiam ajudar a entender como e por que o desfecho trágico ocorreu.

Reconhecimento e despedida nas redes

Enquanto as autoridades trabalhavam para determinar quem cuidaria de Milo e Ámbar, os filhos do casal, o mundo do futebol de Mendoza se despediu de Florencia Guiñazú, que, além de ser jogadora profissional de futebol – também tinha experiência no rugby -, era influenciadora nas redes sociais (com mais de 25.000 seguidores), tatuadora e técnica em Segurança e Higiene.

A instituição esportiva que Florencia representava postou no Instagram: “Lamentamos o falecimento de nossa jogadora… Enviamos nossas condolências a Ámbar e Milo, seus filhos, e à família, em nome de todo o clube”.

Além disso, outro clube da província também prestou homenagem nas redes sociais: “O Club Gimnasia y Esgrima lamenta profundamente o falecimento de Florencia Guiñazú, jogadora do Argentino, vítima de feminicídio nas últimas horas. Acompanhamos com dor os familiares e entes queridos neste momento difícil. Que descanse em paz. #NiUnaMenos”.

Do Coletivo Feminista Valle Uco acrescentaram: “Com imensa tristeza, repudiamos o feminicídio de Florencia Guiñazú. Mais uma vez, a violência machista e feminicida arranca brutalmente a vida de uma garota”.

“Flor era natural de La Consulta, técnica em Higiene e Segurança do Trabalho, amava o esporte, treinava futebol, rugby e CrossFit. Uma mulher linda e modelo nas redes sociais, também era mãe de dois filhos, de 7 e 5 anos”, acrescentaram em sua postagem.

O post continua: “O feminicida foi seu parceiro, identificado como Ignacio Agustín Notto; ele a matou a golpes e depois covardemente tirou a própria vida. Fontes indicaram que durante a manhã os vizinhos ouviram ‘barulhos’, então chamaram o 911”.

“De acordo com algumas mídias, Florencia havia denunciado seu parceiro por violência de gênero, mas ele foi libertado em novembro do ano passado. Já sabemos que o Estado está totalmente ausente nos casos de feminicídio, não toma medidas de proteção e, ultimamente, nem mesmo investiga”, conclui a postagem: “Linda Florencia, despedimo-nos de você com enorme tristeza! Abraçamos seus filhos e toda a sua família”

O Globo (com La Nacion)

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