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No PR, casal atípico adota cinco irmãos de uma vez: “Não pensava em gravidez, apenas em filhos” [VÍDEOS]

Jeniffer e Julio de Oliveira não tiveram dúvidas quando surgiu a oportunidade de adotar as cinco crianças. “Tivemos a certeza de que eram nossos filhos, mesmo antes de vê-los, antes de sabermos as idades e os nomes”, diz a mãe, em entrevista exclusiva à CRESCER. Meses depois da adoção, os pais descobriram não só que um de seus filhos é autista, como os dois também são. Conheça a história!

Jeniffer, 40, e Julio de Oliveira, 38, de Telêmaco Borba, no Paraná, sempre sonharam em ser pais. “Eu dizia que queria ter cinco filhos desde que casamos”, diz Jeniffer, em entrevista exclusiva à CRESCER. Mas os anos foram passando e a gravidez não veio. “Fizemos muitos exames que não detectaram nada que nos impedisse de termos filhos biológicos. No entanto, em 17 anos de casados, nunca engravidamos”, afirma.

Depois de muito tempo de tentativas frustradas, o casal resolveu ir atrás de outros caminhos. Surgiu a ideia de fazer uma fertilização in vitro (FIV), mas, após analisarem os prós e contras, decidiram que não era a melhor opção para eles. “O Julio sempre pensou em adoção, desde que casamos. Mas, para mim, adoção era coisa para ‘gente rica'”, confessa Jeniffer. Então, seguiram com as tentativas de concepção natural.

“Após anos de espera por uma gravidez que não veio, meu coração se acalmou ao perceber que, se não aconteceu, era porque Deus tinha outros planos para nós. Vivi o luto de não poder engravidar e, depois de algum tempo, isso saiu da minha cabeça e do meu coração“, destaca. Então, ela deixou o plano de começar uma família de lado e focou em outros objetivos que queria conquistar.

Mais tempo se passou e Jeniffer chegou a uma fase em que se sentia realizada em várias áreas da vida, mas parecia que tinha algo faltando. “Senti a falta de filhos em casa. Mas, dessa vez, não pensava em gravidez, apenas em filhos”, recorda. Ela conversou com Julio, que prontamente trouxe a ideia de adoção à tona. “Recuei, era algo em que nunca havia pensado”, conta.

Ela decidiu se refugiar na sua fé para achar uma resposta. “Passamos quatro anos pensando e orando. De repente, sentimos um desejo muito forte de adotar. Decidimos lutar com todas as nossas forças para que desse certo”, lembra. Logo, Jeniffer e o marido começaram os preparativos para receber os filhos e, em sete meses, foram habilitados com o perfil para adotar até duas crianças. “Apesar do sonho de termos cinco filhos, achávamos que seria loucura colocar isso no nosso perfil”, brinca.

Mas Jeniffer não havia perdido a esperança de ter uma família grande. “Acreditamos que, mesmo sendo praticamente impossível, Deus traria nossos filhos até nós e nos daria as condições necessárias para atender às necessidades deles”, acrescenta. Foi um ano e três meses de espera na fila até que o tão esperado momento chegou, há cerca de um ano. “Em 10 de fevereiro de 2023, recebemos uma mensagem da equipe técnica dizendo: ‘Sabemos que não é o perfil de vocês, mas, teriam interesse em cinco crianças?’ Nossa resposta foi imediata: sim!”, relata.

“Tivemos a certeza de que eram nossos filhos, mesmo antes de vê-los”

Jeniffer e Julio logo se prontificaram sobre a adoção e não tiveram nenhuma dúvida. “Tivemos a certeza de que eram nossos filhos, mesmo antes de vê-los, antes de sabermos as idades e os nomes”, afirma. Ela conta que as crianças faziam parte de um grupo considerado “inadotável”. “Antes de ligarem para nós, a equipe técnica entrou em contato com os 10 pretendentes que estavam na fila antes de nós. Mas ninguém aceitou. Grupos de irmãos, crianças mais velhas, adolescentes e crianças com deficiência são consideradas ‘inadotáveis’, pois não há pretendentes para esse grupo no sistema nacional de adoção”, lamenta.

Primeiro encontro de Jeniffer e Julio com os filhos — Foto: Arquivo pessoal

“Nossos filhos já estavam indo para a ‘busca ativa’, o que significa que eles seriam separados para que pelo menos as menores tivessem a chance de ter uma família”, afirma. Felizmente, isso não precisou acontecer! O casal não perdeu tempo para conhecê-los e, em 24 de fevereiro de 2023, marcaram o primeiro encontro com as crianças. “Foi um dos dias mais felizes da nossa vida. Foi o dia em que eles nasceram para nós. Após a primeira visita, passamos a ir até o abrigo todos os dias. Ele ficava em uma cidade vizinha, mas todo o esforço valeu muito, pois isso contribuiu para a criação de vínculos. Todos ficaram surpresos pela rapidez em que nos aproximamos”, ressalta Jeniffer.

O casal continuou com esses encontros de aproximação por um mês, quando finalmente os dois puderam levar Kauan, 13, Juan, 12, Eloá, 11, Camila, 8, e Maria Clara, 2, para casa. “Em três meses, assinamos a guarda definitiva. Nesse período, tivemos que aumentar nossa casa e trocar de carro para comportar uma família de sete pessoas”, recorda.

Para Jeniffer, a adaptação das crianças foi muito mais rápida do que imaginava, mas não foi livre de desafios. “As pessoas não imaginam que esse início — principalmente esses primeiros meses de convivência — é um período muito difícil. Felizmente, tivemos o apoio da equipe técnica que foi fundamental para que tudo desse certo”, afirma.

Todos da família, com exceção apenas da caçula, Maria Clara, fizeram acompanhamento psicoterapêutico, o que ajudou a tornar esse processo de adaptação mais leve. Hoje, todos se dão muito bem e vivem vários momentos especiais em família, assim como Jennifer e Julio sempre sonharam.

“Para nós, descobrir o autismo foi libertador”

Desde o início, os pais perceberam que um de seus filhos, o Juan, tinha algumas características peculiares. “Imaginávamos que, com o passar do tempo e vinculação com a nova família, essas características desaparecessem. Mas isso não aconteceu. Ele melhorava o comportamento a cada dia, mas as características permaneciam: rigidez cognitiva, interesses especiais, hiperfocos, ecolalia imediata [repetição daquilo que a própria criança acabou de dizer], hipersensibilidades, entre outras”, diz a mãe.

Um dia, os professores e a pedagoga do colégio em que Juan estudava chamaram os pais para conversar e pediram para que eles procurassem um neurologista para avaliá-lo. “Após exames e observações de diferentes profissionais, em de 15 de novembro de 2023, Juan recebeu o laudo de autismo nível 1 de suporte, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e (TDAH) e altas habilidades”, conta.

Diante desse diagnóstico, os pais sentiram a necessidade de avaliar todos da família. E, em 5 de dezembro, o próprio Julio também foi diagnosticado com autismo nível 1 de suporte associado ao TDAH. “Eu percebi, desde o início, muitas características parecidas entre mim e o Juan, antes mesmo de suspeitarmos do autismo. Eu falava para o Julio: ‘Parece que ele nasceu da minha barriga, pois a gente é muito parecido’… Temos muitas características semelhantes e as formas de lidar com a vida parecem ter a mesma perspectiva”, lembra a mãe.

Quando, em 12 de dezembro, Jeniffer também recebeu o diagnóstico de autista nível 1 de suporte associado às altas habilidades, tudo pareceu se encaixar. “Para nós, descobrir o autismo foi libertador. Tanto para nós, pais, quanto para o Juan também. Descobrimos o por quê de muita coisa. Hoje conseguimos lidar melhor um com o outro. Nosso relacionamento em casa melhorou muito e conseguimos evitar as crises, pois sabemos o que as desencadeiam”, destaca.

Os três gostam de usar o cordão de identificação para autismo (ilustrado com quebra-cabeças e girassóis) para mostrar que não se sentem envergonhados com o diagnóstico. “Temos o maior prazer em usar o cordão do autismo para gerar reflexão e poder levar informação a outras pessoas sobre o assunto”, garante Jeniffer.

Hoje, eles utilizam as redes sociais — por meio do perfil @paisefilhos.adocao no Instagram, que já acumula quase 280 mil seguidores — para compartilhar sua rotina com as crianças e falar sobre adoção. “Temos um perfil no Instagram, que criamos no dia em que fomos habilitados [para a adoção]. Queremos conscientizar o maior número possível de pessoas sobre os mitos e verdades da adoção. Buscamos incentivar, apoiar e orientar as pessoas que querem adotar, promovendo reflexão e diálogo sobre o tema”, finaliza a mãe.

REVISTA CRESCER/GLOBO

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