Janina e Atanázio Kiwel: Heróis que viveram em Campo Mourão
Em seu livro recém lançado, “Eu Tenho Histórias para Contar”, o jornalista Silvio Walter conta um pouco da história de vida do casal Janina e Atanázio Kiwel, poloneses que vivenciaram (e sobreviveram bravamente!!!) os horrores da 2ª Guerra Mundial. Após a guerra, o casal se estabeleceu em Campo Mourão a partir de 1950, onde marcaram história como pioneiros mourãoenses.
Vale a leitura! Uma lição de vida!
Mesmo depois de passar por um longo período de luta por sobrevivência, marcado por muito sofrimento, momentos difíceis e dos horrores da guerra, o casal Janina e Atanázio Kíwel viveu com muita harmonia em Campo Mourão. O casal polonês com união matrimonial em 1942, chegou em solo mourãoense em 1950 trazendo o filho Jorge, que nasceu em um hospital prisão da Alemanha, sendo os últimos familiares que restaram da 2ª Guerra Mundial.
Janina perdeu todos os familiares na guerra, enquanto que Atanázio perdeu quase todos, mas o que sobraram perdeu contato. Eles chegaram ao Brasil depois de cinco anos de espera por um país que os aceitassem.
Vivendo em meio à guerra, o casal foi obrigado a trabalhar na zona rural próximo a Berlim e quando Janina engravidou foi transferida para um hospital prisão em função da rejeição militar por filhos estrangeiros. Em março de 1944, depois do nascimento de Jorge, Janina evitou que o filho fosse morto por envenenamento de mamadeira, “roubando” o bebê e escondendo debaixo do colchão depois que o hospital foi bombardeado.
Janina fugiu aos onze dias de dieta levando o filho, sendo acompanhada por uma mulher anônima em uma distância de 26 quilômetros, sem se alimentar, desmaiando no caminho, enfrentando bombas e soterramentos, até chegar na colônia onde o marido Atanázio trabalhava. Janina revelou no final da vida, que rezou pela mulher que o ajudou todos os dias de sua vida.
Janina lembrou até a morte dos campos de concentração, relatando diversas vezes que um deles perto de onde estavam tinham mais de cinco mil pessoas, muitas debilitadas e aos poucos morrendo por falta de alimentação. Ela lembrava que aqueles que ainda tinham condições de andar eram obrigados a fazer grandes valetas onde eram mortos ao final do trabalho, sendo metralhados.
Atanázio lembrava marcas da guerra, e que sentia muito mesmo depois de muitos anos, as mortes, o sangue, as bombas e as pessoas correndo desorientadas. Dizia que muitas vezes corriam pisando em pedaços de humanos, em corpos dilacerados.
Para eles, o dia 27 de maio de 1945 foi marcante, dando por encerrada a 2ª Guerra Mundial.
Sobre o recomeço eles contavam que foram amparados pela Cruz Vermelha e que puderam optar por viver entre vários países, como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, França, Brasil entre outros. Alguns países recebiam primeiro os homens e depois de seis meses as mulheres e depois de cinco anos os filhos. Para não serem separados novamente optaram pelo Brasil e o próprio governo custeou a viagem até Campo Mourão.
Eles integraram um grupo formado por 10 pessoas que vieram morar em Campo Mourão. Janina e Atanázio tiveram que trabalhar como colonos, garantindo o primeiro emprego na Fazenda de Pedro Parigot, sofrendo com o medo, angústia e desespero por estar em um país estranho, sem conhecer seus costumes e nem mesmo dominar a língua portuguesa.
Posteriormente, Atanázio trabalhou como operário em grandes construções como a Usina Mourão e obra do Hotel Santa Maria, no centro da cidade. O casal teve o segundo filho, Antônio e consequentemente netos e bisnetos. Janina faleceu em 23 de fevereiro de 2005 e Atanázio faleceu no dia 30 de outubro de 2016.