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Professora presa por crime que não cometeu reencontra a família após ser solta; veja vídeo

Por conta do erro, Samara de Araújo Oliveira, de 23 anos, foi levada para o Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica, na Zona Norte do Rio

Foram oito dias longe da família, após a professora Samara de Araújo Oliveira, de 23 anos, ser presa, acusada de um crime de extorsão que não cometeu, ocorrido quando ela era uma criança de 10 anos. Um erro fez com que ela fosse tirada de casa em Rio Bonito, na Região Metropolitana do Rio, e ficasse mais de uma semana no Instituto Penal Oscar Stevenson, em Benfica, na Zona Norte da capital. Ela deixou a unidade na manhã desta sexta-feira, por volta das 9h15. Cerca de quatro horas depois, a angústia pelo retorno à sua casa acabou, num reencontro emocionado com a família, em meio a choros de alívio e emoção.

Após descer do carro, Samara foi para os braços da família. Sem conseguir segurar o choro com o reencontro, as lágrimas da professora se intensificaram depois de dizer um “vem com a mamãe” para o filho, de apenas 2 anos.

Com abraços e choro, professora presa injustamente reencontra família – Vídeo: O Globo

Segundo relato de pessoas próximas, o menino é muito apegado a Samara e estava sofrendo durante o período em que a jovem passou fora de casa, por estar presa. Ao ver a mãe depois de tantos dias longe, ele quis voltar para o colo do pai. A reação deixou Samara ainda mais emocionada. “Vai ficar tudo bem”, confortou a mãe, com um abraço apertado.

A casa da professora fica a 15 minutos de carro do Centro de Rio Bonito. Ainda sem pintura na parte externa, o imóvel onde ela mora, com o marido e o filho, é o símbolo do seu esforço e trabalho.

— Ela estava super feliz porque comprou uma geladeira. Samara está construindo as coisas dela aos poucos, com muito esforço — contou Ericka de Assis, 28 anos, secretária da escola onde a professora trabalha.

No trabalho, Samara é descrita como uma pessoa muito doce e comprometida. O filho é a motivação dela para tudo. Nas redes sociais, a professora compartilhava a rotina de estudo e de aulas, ao lado dos alunos. E seu perfil também foi usado como um diário de sua gravidez, compartilhando fatos como os primeiros exames de ultrassom até o nascimento do menino.

— Ela é muito apegada ao filho. Ele sofria só de ficar algumas horas longe, não sei nem como foram esses oito dias. Quando a mãe dela me ligou para contar da prisão, no sábado, ele chorava muito — contou Ericka

Só nesta semana a família de Samara, por meio de um advogado, conseguiu provar ao juízo da Paraíba o equívoco da prisão da jovem. Depois disso, o juiz substituto Rosio Lima de Melo, da 6ª Vara Mista da cidade de Sousa, expediu alvará de soltura da professora, reconhecendo o erro: “Verifico que merece prosperar a argumentação quanto à ocorrência de equívoco na exordial acusatória, na qual consta apenas a identificação por CPF, sem qualquer menção à data de nascimento da acusada”.

A professora Samara de Araújo Oliveira de volta para casa após sair da prisão — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

A Secretaria de Administração Penitenciária do Rio, ao saber do que estava acontecendo, tirou a jovem da cela que dividia com outras 13 detentas. Ela passou a quinta-feira na sala da direção à espera do alvará de soltura, expedido na madrugada desta sexta-feira. Samara saiu horas depois, pela manhã.

Diretor da escola onde Samara trabalha, Jonas Maciel, que ofereceu ajuda à família durante a prisão da jovem, diz que aguarda uma reparação da Justiça:

— Se ela fosse criminosa, todo mundo bateria palma para a Justiça, e eles receberiam os créditos. Mas como não é o caso, será que a Justiça vai reconhecer o erro e se curvar perante à inocência dela? Não se pode simplesmente jogar alguém em uma cela sem ter certeza de que ela é a pessoa procurada — afirma ele.

Em nota, o Ministério Público da Paraíba afirma que “tão logo cientificado dos fatos” se manifestou “favoravelmente ao pleito apresentado pela defesa técnica, pela revogação da prisão preventiva e pela expedição de alvará de soltura”. Segundo o órgão, “conforme verificado em outros processos, na época, um grupo criminoso do Rio de Janeiro se utilizou de dados de terceiros para movimentar quantias oriundas de extorsão. No caso, a jovem teve seu CPF citado em investigação policial que detectou o uso do documento na abertura de conta-corrente bancária”.

Entenda o caso

A professora foi presa por um crime que ocorreu em 2010, quando um funcionário do Mercadinho Vieira, que funcionava como representante da Caixa Econômica Federal, foi obrigado a fazer oito transferências de R$ 1 mil cada após ser ameaçado de morte. O caso aconteceu em São Francisco, cidade do interior da Paraíba.

Na ocasião, ele recebeu um telefonema de um desconhecido com as ameaças, dizendo que duas pessoas numa moto o vigiavam. E que estavam prontas para invadir o estabelecimento e executá-lo, caso não fizesse as oito transferências para sete contas diferentes. A vítima não poderia sequer desligar o telefone.

De acordo com o processo, atemorizada, o funcionário cumpriu o que foi determinado. Após investigações, foi constatado que se tratava de um golpe, pois não havia ninguém em frente ao mercado. O funcionário contou que o golpista passou os números das contas bancárias para as quais teve que fazer as transferências. No entanto, três delas, num total de R$ 3 mil, foram bloqueadas. Com a quebra dos sigilos bancários, a Polícia Civil e o Ministério Público da Paraíba identificaram os donos das contas. Todos eram do Rio de Janeiro.

Duas acusadas, Cirlene de Souza e Josina Padilha, titulares das contas, foram localizadas e deram suas versões por carta precatória (quando o citado no processo responde às perguntas de um juiz de uma outra comarca). Uma delas confirmou ser dela a conta, mas que desconhecia o valor depositado. Já a outra negou ter conta bancária. As duas foram condenadas a cinco anos e quatro meses de prisão, mas, por terem bom comportamento e serem rés primárias, a pena teve início em regime semiaberto.

Faltavam dois acusados, Ricardo Campos dos Santos e Samara, que não tinham sido localizados. A Justiça chegou a suspender o processo, ou seja, paralisar a contagem de tempo de prescrição do crime. Na tentativa de encontrar quem faltava, o juízo determinou que o MP da Paraíba tentasse mais uma vez descobrir os endereços dos acusados. Em 20 de janeiro deste ano, foi decretada a prisão de Samara de Araújo Oliveira. O GLOBO encontrou num cadastro nacional de dados de pessoas físicas nove nomes iguais ao da professora.

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação, da Prefeitura Municipal de Rio Bonito, informou que Samara de Araújo Oliveira fez parte do quadro funcional até o dia 30 de abril de 2023 e se solidarizou com o caso da professora. “Esperamos que a justiça seja realizada de maneira efetiva”, diz a nota.

O GLOBO

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