Família do Paraná cruza 14 países e percorre 35 mil km para chegar no Alasca com caminhonete
Acompanhados dos dois filhos, Carlos e Camila saíram de Jaguariaíva, nos Campos Gerais do Paraná, e seguiram em direção ao Alasca no dia 29 de abril
Sonhar não custa, mas existe algo mais prazeroso na vida do que realizar um daqueles sonhos que estão anotados em um papel amarelado guardado no fundo de uma gaveta repleta de parafernálias? Para o agricultor Carlos Marcel do Couto Costa, de 42 anos, e a dentista Camila Negreiros Nanni, de 38, cruzar 14 países e percorrer 35 mil quilômetros em quatro meses deixou de ser um sonho e se tornou realidade.
Em entrevista à Banda B neste sábado (12), Carlos afirmou que o desejo de chegar ao extremo norte da América nasceu há cerca de duas décadas, antes de conhecer a esposa. “Eu tinha o sonho de fazer essa viagem há uns 20 anos. Quando casei com a Camila, fizemos o compromisso de realizá-lo”, explica.
Foi a bordo de uma caminhonete Mitsubishi L200 Triton Sport Sertões que o casal e os dois filhos — Pedro, de 9 anos, e Catarina, de 6 — deixaram Jaguariaíva, nos Campos Gerais do Paraná, e seguiram em direção a Prudhoe Bay, no Alasca. A viagem teve início no dia 29 de abril e o objetivo de chegar a Prudhoe Bay foi alcançado no último domingo (6).
Segundo o agricultor, após o Alasca, a ideia é retornar para Miami, nos Estados Unidos, a fim de enviar a caminhonete para o Brasil. O veículo é equipado com geladeira, pia, caixa d’água, fogão e sanduicheira.
“Saímos de Jaguariaíva [Paraná] e seguimos em direção ao Atacama, no Chile. De lá, começamos a subir pela costa, passando pelo Peru, Equador e Colômbia. Entre a Colômbia e Panamá, não existe estrada, que é o Estreito Darién. Então, colocamos o carro em um navio e o enviamos para o Panamá. Em seguida, fomos para a Costa Rica e passamos por Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala, México, EUA, Canadá e Alasca”,
narra Carlos.
O Estreito Darién mencionado pelo agricultor é uma área de selva que possui 575 mil hectares e está situado entre o Panamá e a Colômbia. Nele, a rodovia Panamericana, que liga a maioria dos países da América, é interrompida. De acordo com a Organização Internacional para Migrações (OIM), o número de migrantes que passam pelo Estreito Darién e cruzam irregularmente para o Panamá atingiu um recorde no ano passado: 250 mil pessoas. O chefe da OIM no Panamá, Giuseppe Loprete, afirma que as pessoas que cruzaram Darién “confirmam os horrores da jornada”. Muitos perderam a vida ou desapareceram, enquanto outros saíram com problemas de saúde – físicos e mentais.
“Tivemos momentos de estresse, apreensão e nervosismo. O tédio passou longe. O momento mais apreensivo foi passar pela América Central e pelo México porque ouvimos coisas terríveis antes de vir. Ao vivo e na prática, tudo foi muito maravilhoso e perfeito. Não passamos por nenhuma situação que pudesse gerar medo, apenas tensão”,
cita a dentista Camila Negreiros Nanni.
Segundo ela, a experiência de viajar com os filhos, no entanto, tem sido repleta de surpresas e realizações. “O Pedro é muito maduro e quer aprender tudo. Eles já aprenderam a falar espanhol e estão bonzinhos no inglês”, brinca. As crianças, apesar de estarem em ano letivo, tiveram autorização do Núcleo Regional de Educação do Paraná para acompanhar os pais.
“Nós conversamos muito com a direção da escola antes de vir, que entrou em contato com o Núcleo Regional da Educação. Fomos super orientados. Eles continuam estudando, trouxeram os materiais e são acompanhados de forma online pelos professores. Quando eles voltarem, será feita uma matrícula tardia. Enquanto passa o tempo, eles estão estudando. Todos os dias a professora manda mensagem e eu envio as atividades”,
explica Camila.
O retorno das crianças à escola está previsto para acontecer no início do próximo mês. Em breve, após a família voltar para Miami, a caminhonete será transportada para o Brasil em um navio, que irá atracar em Buenos Aires, na Argentina.
Questionado sobre o que mais o marcou na viagem, Carlos não hesitou em responder: “As amizades feitas. Conhecemos muita gente e fomos acompanhados por várias outras”.
A próximo destino já está definido: Ushuaia, na Argentina. A intenção, agora, é desbravar o extremo sul da América.