Flerte em baixa: mulheres ‘denunciam’ falta de atitude dos homens e especialistas citam razões
Você já teve aquele flerte que não deu certo? Entenda porque isso acontece e veja dicas de como lidar
Mulheres solteiras abertas a conhecer pessoas, viver novas experiências ou encontrar um amor não se cansam de perguntar: ‘Por que os homens não chegam mais?’. As que gostam do flerte “à moda antiga”, ou seja, presencialmente, em bares, baladas ou eventos, têm notado uma baixa considerável nos approachs, sobretudo dos homens em direção às mulheres.
Imagine a cena: de um lado, quatro amigas sentadas em uma mesa de bar. Do outro, três amigos observam, trocam olhares e até risadinhas com as meninas. A expectativa é que todos se apresentem e sentem juntos para trocar uma ideia ou, pelo menos, contatos. Mas a realidade é que 10 minutos após a interação a distância, todos os homens se levantam da mesa e vão embora. As mulheres, confusas, até nomeiam o fenômeno: “falso flerte”.
“Por que ele me encarou, sorriu e não puxou assunto ou pediu meu número?”, questionou uma das jovens que estava à mesa. Ao que tudo indica essa é a pergunta que não quer calar.
Especialista em relacionamentos, Rafael Albano, conhecido como Nerd Sedutor, explica que em alguns casos o homem não vai até a mulher por não saber como agir ou como dar o próximo passo. Segundo Albano, ele pode não ter a iniciativa de ir até a mulher, tampouco saber qual postura ter perto dela.
“Esses homens precisam entender que só vai conquistar a garota quem tiver iniciativa, não quem fica no canto apenas sorrindo ou encarando”, disse.
A psicanalista Cris Pereira acrescenta que “é difícil afirmar por quais razões os homens não abordam mais as mulheres, porém a timidez, o medo e a insegurança influenciam fortemente”.
Para a psicóloga Vanessa Cardoso essa falta de atitude pode camuflar uma forte insegurança. Geralmente são pessoas machucadas, que já levaram tantos foras que não conseguem mais ter coragem de chegar em alguém”.
A psicóloga cita ainda uma incessante necessidade de aprovação como trava. “A pessoa simplesmente não quer se arriscar. Mas entenda, não é porque você levou um fora de alguém que tem menos valor. A única fase em que fazem tudo por nós é quando somos bebês. Precisamos nos posicionar e ter maturidade”.
Sobre esse ponto, Rafael reforça uma consequência da construção social e histórica entre os gêneros. “Os homens deixam de ir atrás porque eles precisam ir atrás. Alguns padrões propostos pela sociedade impõem que o homem deve chegar primeiro, mas a mulher também deve convidar, tomar a iniciativa”.
Há ainda outra justificativa sustentada por Vanessa por trás do “falso flerte”. Muitos homens – e mulheres – trocam olhares e expressões apenas para sentirem o gostinho de serem notados. “Às vezes, a pessoa está em um relacionamento sério, mas faz questão de flertar para saber se ainda é desejável, se está no jogo”.
Flerte presencial é afetado pelo avanço tecnológico
“Eu fico dias trocando figurinhas com elas, só que chega um momento em que parece que tudo fica chato, que o negócio não anda. Então eu paro de responder ou chamar”, confessou o instrutor físico Fernando da Silva, de 25 anos.
Diante da afirmação, Albano explica que um dos fatores que contribuem para o “zero a zero” é a acomodação dos homens. “Hoje eu tenho 39 anos e sou casado, mas quando era mais jovem, me reunia com os amigos e tocávamos a campainha das vizinhas para nos apresentarmos e conhecê-las. Hoje os homens curtem os stories do Instagram e já acham que estão fazendo muito”, pondera.
Para Vanessa, o avanço tecnológico está fazendo com que as pessoas percam a vontade de socializar. “Não falamos nem com os nossos vizinhos, não trocamos ideias com as pessoas. Muitas pessoas perderam suas habilidades sociais”, acrescentou Vanessa Cardoso.
Cris Pereira concorda e ressalta a importância do uso racional das redes sociais para que não afetem a proximidade na relações. “Apesar de tudo estar centrado no ambiente virtual, as relações não precisam deixar de existir fisicamente.
Vanessa faz coro. “Vá ao supermercado! Qualquer lugar é lugar de troca. É legal puxar assunto e perder o medo do ao vivo”, sugere.
E quando eles até chegam, mas logo somem
De volta à mesa das meninas que ficaram “a ver navios”, uma delas desabafa. “Já aconteceu de o ‘crush’ flertar, trocar papos intensos comigo, deixar claro o interesse e, no dia seguinte, simplesmente parar de interagir, não responder mais”.
Tal comportamento, conhecido como ghosting, pode ter várias motivações. Uma delas é o famoso medo de se machucar. “Quando eles percebem que estão envolvidos, interrompem o contato. Isso em razão dos traumas e do medo de se decepcionarem novamente”, explica Vanessa.
Outro ponto é o imediatismo imposto pelas tecnologias. “As pessoas precisam entender que o jogo da conquista leva tempo. E por quererem apressar as coisas, elas acabam desistindo. Os relacionamentos são construídos. Não é da noite para o dia que aquele flerte vai se transformar em algo legal. As pessoas preferem focar no resultado, não querem passar pelo processo”, destaca.
Rafael Albano concorda e cita uma certa ‘birra’ masculina. “Os homens muitas vezes desistem porque se não for do jeito deles, preferem nem ter mais contato”.
Ele exemplifica o conceito. “Uma amiga viajou para a Europa e conheceu um cara aparentemente legal. Quando ela mencionou que voltaria para o Brasil em breve, ele tentou tornar o relacionamento mais sério. Ela, então, disse que eles não poderiam deixar as coisas mais sérias porque, além de eles não se conhecerem bem, ela tinha seus compromissos no Brasil. Depois dessa conversa ele ficou chateado e a bloqueou em todas as redes sociais”, contou.
Flerte virou chá de sumiço? O que fazer?
Segundo Vanessa, o primeiro passo após levar o famoso “perdido” é entender que o mundo não acabou e que a aceitação não deve vir do outro. No entanto, se a intuição disser que vale a insistência, o conselho é: persista. “Mas sempre tomando cuidado para não se machucar, observando e ponderando os padrões do outro sem ultrapassar seus limites”, recomenda a psicóloga.
Já a psicanalista Cris Pereira indica a minuciosa avaliação dos fatores que influenciaram o desaparecimento. “Por que está evitando um possível romance? É por conta da cultura? É por conta dos seus valores? Quais são as razões?”.
Ela lembra que “apesar de sabermos que a cultura tem papel importante no comportamento humano, não somos obrigados a seguir nenhum padrão imposto pela sociedade, e sim agir baseado naquilo que nos faz bem, mesmo que isso soe estranho diante de tudo e de todos”.
Para Albano é importante que as mulheres façam também façam a autoanalise neste processo: “será que eu estou investindo tempo, sentimento e iniciativa para que o flerte ocorra?”, sugere.
Agora, se o seu medo é levar um fora, relaxe! “Há oito bilhões de pessoas nesse planeta. Com certeza alguém legal vai notar o seu valor. Se alguém não te quis, vai aparecer outro querendo”, diz Vanessa.
O paralelo entre os red pill e o medo da rejeição
O movimento red pill, expressão inspirada no filme “Matrix”, mas cujo conceito foi desapropriado na cultura misógina, é utilizado nas redes sociais para defender a ideia de que homens não devem se relacionar afetivamente com mulheres, pois todas seriam manipuladoras e interesseiras. Geralmente são homens que sofreram rejeição ou tiveram encontros ruins.
Os adeptos desse movimento acreditam que o sistema favorece as mulheres e difundem o pensamento de que homens precisam saber identificar e manter relações sexuais com “mulheres de alto valor” (não feministas, com menos de 30 anos e sem filhos).
Agora vamos ao possível paralelo entre movimento red pill e a não abordagem a mulheres. Segundo Rafael, a possibilidade da rejeição e a timidez provocam o medo irracional de que algo de errado vai acontecer ao abordar uma mulher.
“Os conteúdos red pill amedrontam os homens porque afirmam que uma mulher pode acusar um homem de assédio apenas por um olhar ou uma tentativa de conversa. Isso causa uma sensação de calamidade. Os homens que compartilham esses pensamentos geralmente são frustrados e usam a desculpa do “vou focar em mim e no meu crescimento pessoal”. Acham que as mulheres devem bater na porta deles”, afirma Albano.
Vanessa finaliza a ideia: “Os homens que buscam esses conselhos geralmente acreditam nesses pensamentos antes mesmo de buscarem outra ‘solução’”.
Fonte: ND+