De robôs caçadores de insetos a injeções em sementes: startups revolucionam o agro
O aumento da produtividade do agronegócio brasileiro, que deve crescer cerca de 10% neste ano, vem impactando positivamente as agritechs
Se há algo que vai bem no Brasil é o ecossistema das agritechs. No ano passado, as startups brasileiras do agro captaram US$ 1,3 bilhão, à frente de países como Israel (US$ 1,2 bilhão) e França (US$ 1,1 bilhão). O número de agritechs também segue em expansão: hoje, são mais de 1.700, 10% a mais do que em 2021, de acordo com dados da Embrapa e SP Ventures. Mesmo assim, é um universo mais tímido do que de o de fintechs e startups de outros segmentos, como saúde e educação, já mais consolidadas.
Esse boom começou nos últimos anos, em meio a um cenário repleto de desafios, como questões relacionadas à segurança alimentar, mudanças climáticas, sustentabilidade e geopolítica. O aumento da produtividade do agronegócio brasileiro, que deve crescer cerca de 10% neste ano, também vem impactando positivamente o universo das agritechs.
Não é de se estranhar que negócios focados na agricultura de precisão, que oferece ferramentas para o aumento da produtividade e a gestão de riscos, ocupem o primeiro lugar no ranking de atração de recursos, com 35,2% dos investimentos. Na sequência, aparecem startups de robotização (14,2%) e biotecnologia (14,2%). Os dados são do Distrito, plataforma de inovação.
Globalmente, os aportes em agritechs atingiram o pico em 2021, quando somaram US$ 53,2 bilhões. O boom de preocupações com segurança alimentar e o impacto da agricultura no meio ambiente foram motores das rodadas de investimento em startups que desenvolveram de fertilizantes biológicos a fazendas verticais e carnes plant-based, à base de vegetais.
No ano passado, a volatilidade do mercado de private equity e o cenário econômico global mais desafiador, com sucessivos aumentos nas taxas de juros, reduziram os investimentos em agritechs. A limitação dos aportes fez com que as captações das startups do agro caíssem 44% em 2022, passando a cerca de US$ 29,6 bilhões, segundo a AgFunder, fundo de investimento americano focado em agritechs.
No mundo, esses desafios continuaram exercendo impacto sobre as startups do agro durante o primeiro trimestre do ano, como mostra um estudo do PitchBook, empresa americana de análise de mercado especializada em venture capital e private equity. O volume de investimentos caiu 39% comparado ao trimestre anterior, aponta a companhia. A desaceleração econômica global e a crise bancária nos Estados Unidos e na Europa explicam boa parte da queda dos aportes, segundo o PitchBook.
Mesmo assim, negócios importantes continuaram a ser fechados. No total, US$ 1,9 bilhão foram investidos, por meio de fundos de venture capital, em 172 agritechs ao redor do mundo. A eFishery, startup de novas tecnologias para aquicultura da Indonésia, captou US$ 150 milhões, enquanto a Halter, da Nova Zelândia, recebeu US$ 85 milhões para aprimorar sensores e equipamentos para vacas, baseados em inteligência artificial — os aparelhos são usados para monitorar parâmetros como a temperatura, batimentos cardíacos e fertilidade dos animais.
Ao mesmo tempo, startups de soluções de robótica, irrigação e financiamento permanecem em alta. No Brasil, a Solinftec captou R$ 100 milhões este ano para turbinar tecnologias de monitoramento de safra, com foco na cana-de-açúcar — a empresa criou robôs que matam insetos e analisam o solo para identificar a necessidade de uso de adubos ou defensivos.
Esse tipo de ferramenta, que integra o conjunto de soluções da agricultura de precisão, pode gerar economia para o produtor rural, entre outros benefícios. Por exemplo, uma usina de cana-de-açúcar normalmente utilizaria 300 quilos de fertilizante por hectare — com uma análise melhor do solo, é possível reduzir esse custo em cerca de R$ 300 por hectare.
Há espaço também para negócios nascentes. A DioxD, fundada em 2018, recebeu mais de R$ 1,4 milhão de fundos como GR8 Ventures e da aceleradora AgroVen. Os recursos vão ser destinados ao ganho de escala e ao aprimoramento de uma tecnologia baseada na aplicação de CO2 em sacos de sementes de soja para acelerar a germinação da planta.
Na visão do Agtech Garage, um dos maiores hubs de inovação do agro na América Latina, a tendência é que soluções voltadas à otimização da produção continuem ganhando espaço, assim como o uso de novas tecnologias para monitorar a lavoura.
Além de gerar economia de tempo e permitir que a força de trabalho seja alocada em outras atividades mais estratégicas, os avanços tecnológicos permitem maior precisão e inteligência na tomada de decisãoJosé Tomé, CEO do AgTech Garage e sócio da PwC Brasil.
De modo geral, o cenário para investimentos em startups do agro neste ano é um pouco mais otimista do que em 2022. A consultoria britânica Oghma Partners, especializada em aquisições e investimentos no setor de alimentos e bebidas, aponta que as dificuldades mais impactantes do ano passado, aos poucos, devem ficar para trás — embora ainda haja desafios para apostas em novas empresas em meio a um ambiente de negócios volátil.
Parte do aumento de custos e do ambiente de financiamento mais complexo observado em 2022 deve diminuir neste ano. Esperamos encontrar investidores dispostos a níveis de avaliação atraentes das agritechs.Mark Lynch, sócio da consultoria britânica Oghma Partners.
Uma expectativa é pela redução da taxa de juros, sobretudo em um cenário de inflação mais controlada.
Fonte: Olhar Digital