Biólogo desvenda mito da cobra vermelha, que viralizou
Antes mesmo da ascensão da Inteligência Artificial (IA) generativa, a manipulação da realidade é um fenômeno comum na área da biologia. Inclusive, o último vídeo (fake) sobre a cobra-real ou cobra-rei (Ophiophagus hannah) que viralizou é um lembrete de que as falsificações old school permanecem entre nós. Para deixar avisado: é um mito a existência de um animal dessa espécie na cor vermelha.
Toda a história por trás da falsa cobra-real vermelha foi desmascarada pelo biólogo e divulgador científico Henrique Abrahão Charles. Segundo o especialista, é prática comum usar estratégias para modificar a cor de animais, incluindo serpentes, que serão compartilhadas na internet. Infelizmente, muitos animais morrem pouco tempo depois, devido à toxicidade do material.
Pessoas pintam animais para ganhar likes nas redes sociais?
“Pode ter certeza que as pessoas fazem isso [pintar serpentes para gravar vídeos para internet]”, afirma o biólogo Henrique no seu canal de YouTube. Em alguns casos, a adulteração é mais sutil, envolvendo apenas filtros e efeitos de aplicativos para celulares.
pintinho colorido passando na sua tml pic.twitter.com/kzH06lS8ob
— deslog (@kaeyasgirI) June 6, 2021
Inclusive, ele recorda um hábito comum nas cidades do interior: pintar pintinhos de cores chamativas, como verde e azul, para vendê-los. Só que, caso o animal sobrevivesse a esse tipo de tintura, seria um espécime comum, já que a cor desbotaria naturalmente.
Entenda o mito da cobra vermelha
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No TikTok, viralizou o vídeo de um usuário alertando para o fato das pessoas supostamente pintarem com spray espécimes da cobra-real de vermelho para ter visualizações nas redes sociais e lucrar fortunas. Parte da explicação estava certa, o horrível hábito de algumas pessoas usarem tinta para transformar animais comuns em exóticos.
Nos registros que já acumulam 86 mil visualizações, a serpente se destaca (e muito), já que está rodeada por outras serpentes pretas. Talvez, o impacto seja ainda maior pela coloração vermelho vivo da serpente, algo quase mítico e associado ao perigo na natureza.
No entanto, o biólogo Henrique faz um importante adendo: a serpente citada no vídeo não é uma cobra-real, mas, sim, uma naja, cuja espécie exata é difícil de precisar pelas imagens compartilhadas. Mesmo sendo uma naja, muito provavelmente, a coloração vermelha não seria natural da espécie.
Aqui, cabe uma explicação: as duas espécies pertencem à família Elapidae, mas são de gêneros distintos. No caso da cobra-real, ela pertence ao gênero Ophiophagus, sendo este diferente do das najas.
Afinal, existe cobra-real vermelha na natureza?
Conforme aponta o biólogo Henrique, não existem cobras-reais vermelhas na natureza. Normalmente, os espécimes variam entre a cor marrom e preto com listras brancas ou amarelas. Em alguns casos, a serpente pode ser verde-azeitona, sem listras.
Outra curiosidade é que esta espécie é conhecida por ser a maior cobra peçonhenta. Na idade adulta, podem chegar a 4 metros de comprimento. Inclusive, o maior registro é de um animal com 5,8 metros. Desde 2011, a cobra-real é considerada vulnerável para o risco de extinção devido à destruição do seu habitat natural, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
A seguir, confira imagens verdadeiras de uma cobra-real, diferente do mito da cobra vermelha: