O velho e mau Lula está de volta
Este é o nosso Lula: o sujeito que empresta dinheiro a caloteiro e é capaz de comparar a Ucrânia invadida à Venezuela ditatorial
Por Mario Sabino, no Metrópoles
Faz muito tempo, em 5 de janeiro deste ano, Fernando Haddad, o avatar do ministro da Fazenda, foi indagado por um repórter sobre a criação de uma moeda única com a Argentina. “Não existe moeda única, não existe essa proposta. Vai se informar primeiro”, irritou-se Fernando Haddad. Ontem, Lula, o verdadeiro ministro da Fazenda, e o presidente do país vizinho, Alberto Fernández, assinaram um memorando sobre integração econômica e financeira.
Tradução: vamos emprestar dinheiro para a Argentina, assim como emprestamos para a Venezuela e Cuba, quando Lula era presidente, e arcar com o prejuízo, embora o avatar tenha dito que não, muito pelo contrário, que o Banco do Brasil (sobrou para os acionistas, coitados) não tomará risco nos financiamentos. Já quanto ao BNDES, que levou um calote total de 529 milhōes de dólares de venezuelanos e cubanos, la garantia soy yo.
Antes da assinatura do troço, Lula defendeu a adoção de uma moeda comum, a ser usada nas transações entre Brasil, o roto, e Argentina, a esfarrapada. A estrovenga está no memorando. Os argentinos sugeriram que se chamasse “sur” (sul, em espanhol). Eu sugiro que ela se chame “surto” (loucura, em qualquer língua). O avatar explicou que a moeda comum não é a moeda única aventada por Paulo Guedes. É uma “nova engenharia, que não seja o pagamento em moedas locais, mas que não chegue ao estágio de unificação monetária”, disse ele. Ninguém entendeu lhufas. Nem o avatar.
Moeda única ou moeda comum, não importa, eu já esgotei o assunto para mim mesmo: desde sempre, a América Latina tem moeda única, comum, seja o que for. Chama-se estupidez.
A ida do presidente brasileiro a Buenos Aires não nos proporcionou apenas emprestar dinheiro a outro país quebrado, mas governado por esquerdista, o que é o único critério técnico. A visita nos deu de volta o velho e mau Lula sem medo de ser feliz, aquele que enche de orgulho o perfeito idiota latino-americano. Lá pelas tantas, o presidente brasileiro disse o seguinte sobre a Venezuela (caloteira 1):
“Deveríamos ter duas coisas na cabeça. Primeiro, a gente permitir com muita tranquilidade que a autodeterminação dos povos fosse respeitada em qualquer país. Da mesma forma que eu sou contra a ocupação territorial que a Rússia fez na Ucrânia, eu sou contra muita ingerência no processo da Venezuela. Para resolver o problema da Venezuela, a gente vai resolver com diálogo e não com bloqueio. A gente vai resolver com diálogo e não com ameaça de ocupação. A gente vai resolver com diálogo e não com ofensas pessoais.”
Este é o nosso Lula: um sujeito capaz de comparar a situação da Ucrânia democrática invadida pela Rússia de Vladimir Putin à situação da Venezuela oprimida pela ditadura bolivariana — cujo povo, no pensamento mágico castrista-petista, autodeterminou-se à tirania de Hugo Chávez, que alguém o tenha, e à do seu sucessor, Nicolás Maduro, ambos amigos do peito do presidente brasileiro e do Partido dos Trabalhadores.
O velho e mau Lula sem medo de ser feliz, bem como a organização que ele comanda, é um democrata muito relativo. Ele não acha que há um problema na Venezuela, vamos combinar. Acha que há uma solução — talvez mal gerida, mas solução. Em 2013, Lula gravou um vídeo eleitoral em apoio a Nicolás Maduro, no qual afirmou:
“Sempre foi visível sua profunda afinidade com nosso querido e saudoso amigo Hugo Chávez. Os dois compartilhavam as mesmas ideias sobre o destino do nosso continente e os grandes problemas mundiais. Mais do que isso, Chávez e Maduro tinha as mesmas concepções em relação aos desafios que a Venezuela tinha pela frente: em defesa dos mais pobres.”
É conversa para macaco velho dormir que, de lá para cá, Lula tenha mudado de ideia a respeito do bolivarianismo.
Assim como também não mudou de ideia quanto à ditadura cubana. Na sua viagem a Buenos Aires, o velho e mau Lula deu o seu recado sobre a ilha-prisão (caloteira 2):
“Espero que logo, logo, Cuba possa voltar a um processo de normalidade e se acabe o bloqueio (comercial) que já dura mais de 60 anos, sem nenhuma necessidade.”
Espera, nada. O regime imposto por Fidel Castro é o modelo de normalidade sonhado por Lula e pela sua organização, vamos deixar de papo furado. Eles só não tiveram uma Sierra Maestra para chamar de sua. Tinham, em lugar disso, uns departamentos de operações estruturadas que foram desmantelados. Ainda bem que surgiu um Jair Bolsonaro no meio do caminho, ufa: a gente, agora, vai reconstruir esse país, se é que você me entende.
Pode surtar aí, companheiro, ofender me chamando de bolsonarista e coisa e tal, enquanto eu cantarolo Guantanamera.
Via: Metrópoles