Coamo e mais onze empresas paranaenses entre as cem maiores do agro
Com receita de R$ 24,66 bilhões, a Coamo respondeu por 3,1% da produção brasileira de grãos em 2021.
Apesar das adversidades climáticas, especialmente os longos períodos de estiagem, que nos últimos anos provocaram quebras de safras importantes, o Paraná segue como um dos estados brasileiros com resultados mais expressivos no agronegócio. O setor agropecuário responde por cerca de 35% do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado e detém uma fatia em torno de 80% da balança comercial paranaense.
Em 2021, o VBP (Valor Bruto da Produção) agropecuário do Paraná atingiu o maior patamar de sua história, totalizando R$ 180,6 bilhões. Desde 2012, o avanço médio foi de 5% ao ano, segundo dados do Deral (Departamento de Economia Rural), da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento. O balanço considera a produção agrícola, pecuária e florestal.
Com resultados tão significativos em produção, receita e faturamento, não chega a ser uma surpresa a inclusão de empresas paranaenses na quarta edição da Forbes Agro100, o ranking das cem maiores companhias do setor do agronegócio no país. A lista é mais uma ferramenta que confirma o Paraná como uma das grandes potências agrícolas brasileiras. Juntas, as cem companhias faturaram, em 2021, R$ 1,38 trilhão, valor que corresponde a 34,6% de alta sobre o R$ 1,02 trilhão computado em 2020. Doze delas nasceram no Paraná e, dentre elas, 11 mantêm suas operações no Estado.
As empresas de proteína animal faturaram, juntas, R$ 520 bilhões, expansão de 28,9%. Em seguida, aparece o setor de alimentos e bebidas, que somou R$ 270,4 bilhões em receita, alta de 36,4%. Mas o maior percentual de crescimento foi observado no setor de agroquímica e insumos, com avanço de 49%, o que pode ser explicado pela alta dos preços internacionais do petróleo. Entre as cem empresas listadas, 21 faturaram mais de R$ 10 bilhões e 90 delas tiveram resultados de mais de dez dígitos.
A número um da lista é a JBS, do setor de alimentos e bebidas, sediada em Anápolis, no interior goiano, e que teve uma receita acumulada de R$ 350,69 bilhões em 2021. Entre as paranaenses, a melhor colocada é a Amaggi, também do setor de alimentos e bebidas, que aparece em décimo lugar no ranking. Embora desde 1979 esteja instalada em Cuiabá, a capital mato-grossense, a empresa possui DNA paranaense. Foi fundada em 1977, em São Miguel do Iguaçu, no Oeste do Estado. Segundo a Forbes, a receita da companhia no período avaliado foi de R$ 38,21 bilhões e, atualmente, detém o título de maior produtora de soja de capital 100% nacional e atua em outras três áreas: trading, logística e energia.
Um pouco abaixo, na 13ª posição, está a Coamo, cooperativa agrícola de Campo Mourão, no Centro-Oeste do Estado. Com receita de R$ 24,66 bilhões, a empresa respondeu por 3,1% da produção brasileira de grãos em 2021. Soja, milho, trigo e café são os principais produtos recebidos.
Presidente executivo da Coamo, Airton Galinari fala com orgulho da inclusão da cooperativa no ranking. “Foi uma surpresa, não estávamos habituados, mas é muito importante porque todo mundo sabe da importância e do alcance mundial da Forbes. É um orgulho para os cooperados e para a empresa, não somente pelos resultados em faturamento, mas também pelos resultados em receita.”
Embora tenha a função social como um dos alicerces da empresa, destacou Galinari, o papel social da cooperativa é fortemente amparado pela questão econômica. “Temos um cooperativismo de resultado que se reverte ao associado e à comunidade.”
Com 52 anos de atividades, a Coamo teve um crescimento constante e gradual, expandindo a sua área de ação, sempre provocada pelos produtores rurais. Presente em 73 municípios, a cooperativa vem se solidificando na produção de grãos, insumos e no setor industrial. A empresa conta com três polos industriais. “Estarmos no ranking é consequência de todos esses anos com uma política correta, coerente, de investimentos e reversão de resultados aos cooperados”, disse Galinari. “Temos uma política de crescimento sustentável, sempre baseada nas melhores tecnologias.”
O balanço de 2022 ainda não foi divulgado pela Coamo, mas o presidente executivo adianta que os números devam apontar um crescimento de cerca de 15% sobre os resultados contabilizados em 2021, apesar de o ano passado ter sido marcado por grandes frustrações aos agricultores. “Tivemos uma quebra muito grande na safra de verão, de 47%. A seca judiou muito das lavouras. Era previsto colhermos cem milhões de sacas, mas tivemos 53 milhões. As perdas só não foram maiores porque as safras de inverno foram relativamente normais.”
Na 22ª posição, o ranking aponta cooperativa, a Cocamar, com receita acumulada de R$ 9,08 bilhões no período avaliado, embora o balanço oficial da empresa apresente um valor maior, de R$ 9,6 bilhões. A cooperativa maringaense já fechou as contas de 2022, que indicam avanço de 15% sobre a receita do ano anterior, somando R$ 11,1 bilhões, e projeta crescer mais 23% neste ano, chegando aos R$ 13,7 bilhões. Prestes a completar 60 anos de sua fundação, a empresa já traçou o planejamento estratégico para 2025, com meta estabelecida de R$ 15 bilhões.
A soja é o principal produto recebido pela cooperativa, que aponta o bom desenvolvimento das lavouras da oleaginosa, como um dos fatores que colaboraram para colocar a empresa entre as maiores do país. Sem a influência negativa de fatores climáticos, a safra de verão deve render 2,3 milhões de toneladas à Cocamar até o final de março.
No ano passado, entre as principais realizações da empresa, o início das operações da indústria de biodiesel em Maringá foi a mais relevante, afirmou o presidente executivo da Cocamar, Divanir Higino, em material divulgado pela assessoria de imprensa. A cooperativa também expandiu a rede de unidades de atendimento no Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. O quadro de cooperados aumentou de cerca de 16,5 mil para mais de 18 mil.
“Com a soja indo bem, a expectativa dos produtores é grande”, comentou Higino, ao salientar que os bons resultados se convertem em investimentos no próprio negócio, como a modernização do parque de maquinários. A empresa também planeja a aquisição de novas tecnologias para aplicação nas lavouras de inverno e nas de verão 2023/2024, cuja contratação, nos últimos aos, tem sido bastante antecipada.
Ao longo deste ano, a Cocamar também pretende avançar em estudos para viabilizar a piscicultura como alternativa de diversificação aos cooperados, fomentar a cultura do sorgo como opção para o período de inverno, fortalecer o programa de produção de carne precoce, prosseguir em sua expansão horizontam com a ampliação do número de unidades de atendimento e dar continuidade ao programa de ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta).
O CEO da Belagrícola, Alberto Araújo, comemora a galgada de posições da empresa no ranking da Forbes. Em 2020, a empresa fundada em Bela Vista do Paraíso (Região Metropolitana de Londrina) havia ficado em 51° lugar. Agora, figura na 39ª colocação, com receita de R$ 4,37 bilhões. O avanço é creditado ao foco na estrutura de governança liderada por um time de executivos profissionais, o que se reverte em dividendos não apenas para a empresa, mas contribui também para a melhoria regional e dos clientes. “A gente atua na região de soja, milho e trigo, voltado a produtores pequenos e médios, com necessidades diferentes. Oferecemos assistência técnica e auxílio em gestão geral para contribuir com a jornada do produtor em todos os aspectos, não só os técnicos”, apontou o executivo.
Hoje com sede em Londrina, a Belagrícola é uma das maiores distribuidoras de insumos agrícolas e uma das maiores comercializadoras de grãos do Brasil, com 55 lojas de insumos, 75 unidades de recebimentos de grãos e uma capacidade de armazenamento de 1,4 milhão de toneladas.
Em 2022, Araújo ressaltou os intensos desafios impostos ao setor devido a fatores externos, como lockdown na China, a guerra entre Rússia e Ucrânia e a alta dos preços dos insumos que acompanharam a subida de preços das commodities. “Apesar de todos os desafios, de um ano de extrema volatilidade, foi um ano bom e nossa receita em 2022 deve ficar em torno de R$ 8,2 bilhões, quase o dobro do ano anterior”, calculou.
Os dados da edição Forbes, publicada em novembro de 2022, foram aferidos pela S&P Global Market Intelligence, que faz parte do conglomerado internacional S&P, mais importante empresa de classificação de riscos do mundo, ou foram enviados pelas próprias companhias.
Além da Belagrícola, outras duas empresas da Região Metropolitana de Londrina figuram na listagem. A Nortox, de Arapongas, que ocupa a 65 ª posição, com uma receita de R$ 2,05 bilhões, e a Café Cacique, em 85° lugar, com R$ 1,07 bilhão em receita.
Logística, seguro rural e infraestrutura preocupam o setor
Com uma boa distribuição de chuvas, para este ano as expectativas dos produtores e das empresas de agronegócio estão bem elevadas. “Para esse ano, a situação das lavouras está bem diferente. A colheita de soja está em condições muito boas. Vamos ter um ano bem diferente dos dois últimos anos, com uma grande expectativa em relação à produção e à produtividade”, disse o presidente executivo da Coamo, Airton Galinari.
Sem a preocupação da estiagem, no momento, as preocupações estão voltadas para a questão logística. “Como os produtores não fizeram contratos antecipados, pode haver um comprometimento da logística. Os estoques foram relativamente altos na safra passada, apesar das quebras, e tem uma perspectiva de safra cheia. A grande preocupação é em relação à logística e à armazenagem.”
Para o CEO da Belagrícola, Alberto Araújo, há vários elementos que devem ser considerados em 2023. Um deles é a política de juros. “A gente volta a ter um ciclo completo de altas taxas de juros. Do ponto de vista macroeconômico, não é o melhor momento para uma expansão rápida. Então, a gente continua com a estratégia de crescer nas fronteiras, de maneira organizada.”
Como políticas públicas específicas para o setor que deverão ser incluídas na pauta do novo governo, Araújo espera a liberação de mais recursos para infraestrutura, especialmente armazenagem, e incentivos para o seguro rural, cada vez mais importante em razão das variações climáticas. “Estamos apreensivos para ver como vai ser (o novo governo), mas temos uma representação significativa do PIB, de 25% a 27%, e não vai ser um setor esquecido. Essas pautas (infraestrutura e seguro rural) são pautas contínuas do setor, vêm desde os governos passados.”(S.S.)
EMPRESAS PARANAENSES INCLUÍDAS NO FORBES AGRO100
COLOCAÇÃO EMPRESA CIDADE DE FUNDAÇÃO RECEITA (em bi de R$)
10º Amaggi São Miguel do Iguaçu 38,21
13º Coamo Campo Mourão 24,66
15º C. Vale Palotina 17,44
16º Lar Cooperativa Missal 17,41
22º Cocamar Maringá 9,08
35º Castrolanda Castro 5,55
39º Belagrícola Bela Vista do Paraíso 4,37
53º Berneck Painéis e Serrados Bituruna 2,99
59º Usina Alto Alegre Colorado 2,50
65º Nortox Arapongas 2,05
77º Guararapes Painéis Palmas 1,60
85º Café Cacique Londrina 1,07
Via: Folha de Londrina (com Forbes Agro100)