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‘Fui parar no hospital por causa de cílios postiços’: os riscos das extensões artificiais

A enfermeira Valéria Campos relata que, três horas após o procedimento, suas pálpebras começaram a ficar avermelhadas, inchadas e doloridas

BBC

Adepta da extensão de cílios há quase um ano, a enfermeira Valéria Campos nunca imaginou que poderia desenvolver algum tipo de alergia ao fazer o procedimento. Porém, quatro meses após fazer a manutenção nos fios postiços — quando a cliente retorna ao salão para colocar apenas os cílios que caíram com o passar dos dias — ela notou que havia algo de errado.

A enfermeira relata que, três horas após o procedimento, suas pálpebras começaram a ficar avermelhadas, inchadas e doloridas.

“A profissional usou os mesmos materiais a que eu já estava acostumada. Mas com o passar das horas meu olho inchava e doía cada vez mais”, recorda Valéria.

Por ser sábado à noite, a enfermeira precisou esperar até a manhã do dia seguinte para retornar ao salão e remover os cílios artificiais. Após a retirada, ela foi até o pronto-atendimento de um hospital em Belo Horizonte (MG), onde foi encaminhada para o atendimento oftalmológico de urgência.

Selfie de Valéria com olhos inchados
Três horas depois do procedimento, Valéria Campos percebeu que suas pálpebras estavam avermelhadas, inchadas e doloridas

“Eu praticamente não consegui dormir aquela noite, eram três horas da manhã quando acordei e já não conseguia abrir meus olhos. Segundo o médico, eu tive uma infecção, mas ele não soube precisar se foi por causa da cola ou do cílio sintético que foi usado”, acrescenta.

Para se recuperar totalmente da infecção, Valéria precisou usar antibióticos por sete dias. Apesar de o problema não ter afetado em nada a visão, a enfermeira diz que seus cílios naturais não voltaram a crescer e ter o volume de antes do procedimento de extensão.

“A quantidade de cílios que eu tenho diminuiu porque tive muita perda de fios naturais”, finaliza.

Por achar bonito os cílios longos e volumosos marcando o olhar, a estudante de psicologia Adne Lucilla Carvalho Santos decidiu fazer o procedimento de extensão com fios sintéticos pela primeira vez em julho. O que ela não esperava era que teria uma reação alérgica.

Minutos após terminar o procedimento, a universitária recorda que já começou a sentir incômodos nos olhos. Os primeiros sintomas da infecção foram vermelhidão e ardência.

Foto aproximada do olho de Adne, sob luz azul, em exame
Mancha branca no olho de Adne revela lesão que ela teve

“Eu sabia que não era normal sentir aquela dor e no dia seguinte apareceu uma ferida no meu olho. Eu procurei atendimento oftalmológico, e a médica me alertou sobre os perigos de usar a extensão de cílios. Precisei tomar antibióticos e usar uma pomada para aliviar a dor e a irritação”, recorda.

Imaginando que a alergia era devido a algum produto específico usado pela profissional que colocou seus cílios, após o tratamento, Adne buscou outro salão para colocar novamente as extensões dos fios. Mas mais uma vez teve reação alérgica.

“Eu acordei de madrugada e não conseguia abrir os olhos, fui ao banheiro e vi que eles estavam bem grudados e com muita secreção. Precisei usar a medicação novamente e vi que ter extensão de cílios não é para mim”, acrescenta a universitária.

Extensões de cílios e seus riscos

O procedimento de extensão de cílios nada mais é do que “colar” fios sintéticos ou de seda em cada fio do cílio natural, fazendo com que eles fiquem com aspecto mais alongado e volumoso.

Para isso é usada uma cola especial e própria para esse tipo de procedimento.

“Se for possível, faça um teste com a substância que será usada na extensão, principalmente aquelas pessoas que costumam ter irritação ao usar produtos químicos. Esse teste é normalmente aplicado na região interna no braço e não no olho. Se após três dias ela não apresentar nenhuma reação alérgica, a pessoa pode fazer com um pouco mais de segurança”, explica a médica Ediléia Bagatin, coordenadora do Departamento de Cosmiatria Dermatológica da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Apesar de parecer inofensivo, o uso contínuo de cílios artificiais, a falta de limpeza adequada e de cuidado com os fios podem causar diversos problemas que vão desde a queda dos pelos naturais, deixando os olhos expostos e desprotegidos até patologias mais graves como úlcera de córnea.

“Os cílios têm a função de proteger os olhos da entrada de luz, poeiras e outros fragmentos que fiquem suspensos no ar. Ali, ficam diariamente depositados partículas e resíduos de possíveis alérgenos. A complicação mais comum associada às extensões de cílios é a blefarite, seguida de conjuntivite alérgica, lesões corneanas, queda ou quebra dos cílios naturais”, explica Claudia Del Claro, oftalmologista integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

Valéria sorrindo em selfie, dentro do carro
A enfermeira Valéria relata que seus cílios naturais não voltaram a crescer e ter o volume de antes do procedimento

A cola utilizada é um fator muito importante para evitar alergias e problemas como a ceratite (queimadura química). Além disso, os fios postiços requerem mais atenção com a limpeza — as impurezas aumentam os riscos de contaminação dos olhos.

“Para tentar minimizar complicações, a limpeza das pálpebras e dos cílios com produto específico não oleoso, ou mesmo o xampu neutro, é indicada duas vezes ao dia. É muito comum as pacientes evitarem lavar os cílios por receio de que as extensões caiam, mas é justamente ao contrário. As extensões de cílios caem precocemente quando não é feita a limpeza”, acrescenta Del Claro.

O que é a ceratite e blefarite

A colocação ou manutenção inadequadas das extensões de cílios, ou até mesmo o uso errado desses fios postiços podem desencadear algumas doenças oculares. Isso porque na região dos cílios também há diversas glândulas responsáveis pela lubrificação dos olhos, que podem ser afetadas após o procedimento.

A ceratite, uma das mais comuns, é caracterizada pelo surgimento de pequenas feridas superficiais que podem surgir pelo trauma direto da cola usada para fazer a extensão dos cílios com superfície ocular. Essas lesões, apesar de superficiais, são bastante dolorosas e, normalmente, vêm acompanhadas da sensação de cisco no olho, lacrimejamento, vermelhidão e inchaço da pálpebra.

Já a blefarite é uma inflamação na pálpebra que causa vermelhidão, coceira e acumulo de secreção. Nessa doença, a gordura presente na lágrima humana fica acumulada na pálpebra, aumentando o risco de desenvolvimento de bactérias no local.

“Ao perceber qualquer incômodo após a aplicação dos cílios, a primeira conduta é lavar o local com soro fisiológico, para eliminar possíveis contaminantes que tenham atingido o olho”, explica Patrícia Akaishi, oftalmologista do Hospital das Clínicas da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).

“E caso o problema persista, é indicado procurar ajuda médica para que se certifique que não há resíduos de cola ou fios na superfície ocular e também dar início ao tratamento.”

Além disso, usar extensão de cílios por tempo prolongado pode afetar a formação arqueada dos fios naturais, fazendo com que eles não fiquem mais alinhados corretamente. Isso porque o material usado nas extensões é mais pesado do que os fios naturais.

“Eu particularmente não recomendo usar extensão de cílios por ser um procedimento com alta taxa de complicações, que pode trazer a perda definitiva dos cílios, os quais são tão importantes para a proteção ocular e até mesmo a cola pode atingir os olhos deixando sequelas definitivas na visão”, acrescenta Del Claro, da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

O que fazer em caso de irritação

  • Lave o olho com água limpa e corrente
  • Faça a limpeza do olho com soro fisiológico
  • Não esfregue o olho (se tiver alguma lesão ela pode piorar)
  • Não tente remover qualquer objeto que esteja dentro do globo ocular
  • Procure ajuda médica

– Este texto foi publicado emhttps://www.bbc.com/portuguese/geral-64098869

Fonte: BBC News Brasil

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