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Dose de reforço pode aumentar risco de reinfecção com Covid, conclui novo estudo

A dose de reforço ou terceira dose em alguns casos pode deixar os inoculados mais vulneráveis à reinfecção com Covid do que mais protegidos, revelou um novo estudo do Catar, publicado no dia 1º em um banco de artigos esperando análise de revistas especializadas (os chamados artigos pré-prelos ou “preprints”). Duas doses podem ajudar a evitar a reinfecção, mas a terceira dose dobra o risco.

Os cientistas observaram que o grupo de participantes que haviam tomado três doses e já tinham se recuperado da infecção com a variante ômicron tinha mais reinfectados do que o grupo daqueles que só tomaram duas doses.

A explicação dos autores para os resultados é um fenômeno chamado pecado original antigênico. Quando o organismo encontra um patógeno como um vírus, desenvolve defesas na forma de anticorpos e células de memória. Quando há uma reinfecção, essa memória é ativada e os anticorpos voltam a ser produzidos. Porém, se o vírus que está retornando é ligeiramente diferente daquele referente à memória guardada, como é o caso de variantes, as defesas acionadas podem ser ineficientes, e o vírus faz mais estrago. Por isso há um “pecado original”: o que foi feito originalmente pelo sistema imunológico é um “erro” quando aplicado à nova infecção. O efeito também é conhecido como “imprinting imunológico”.

Contudo, os cientistas envolvidos no estudo pensam que suas descobertas não prejudicam os potenciais benefícios da terceira dose, ao menos no curto prazo, para o público. “Não há dúvidas que a dose de reforço reduziu a incidência de infecções logo depois de administrada”, dizem eles, mas “as descobertas indicam que os efeitos a curto prazo das doses de reforço podem diferir dos seus efeitos a longo prazo”.

O efeito foi previsto

Nenhuma das reinfecções observadas no estudo foi severa, como é o caso geral agora que a Covid-19 é primariamente causada por vírus da variante ômicron e suas subvariantes.

Hiam Chemaitelly, da Universidade Cornell em Doha, Catar, é o primeiro autor do estudo, com liderança de Laith J. Abu-Raddad, da mesma instituição, que também atua na Organização Mundial da Saúde. Abu-Raddad e sua equipe no Catar têm sido fonte de alguns dos melhores estudos sobre infecção, reinfecção e imunidade natural na pandemia.

Uma publicação de Adam K. Wheatley, da Universidade de Melbourne, na Austrália, já havia previsto o efeito em setembro de 2021. “Hipotetizamos”, disseram Wheatley e seus colaboradores no artigo, que as vacinas contra Covid-19 feitas com base nas novas variantes “podem ser ineficientes devido ao imprinting imunológico [causado por] vacinação ou infecção anterior”.

Para Daniel Altmann, professor de imunologia no Imperial College de Londres, o pecado original antigênico acontece em algumas pessoas devido às várias formas com que elas foram imunizadas, da infecção prévia com diferentes variantes às diferentes vacinas como a Coronavac, AstraZeneca, Janssen e Pfizer. “Todas essas coisas puxam e empurram o seu repertório imunológico e anticorpos em diferentes direções, e fazem com que você responda de forma diferente à próxima vacina que chegar”, disse Altmann ao site de notícias Medical News Today. Esses diferentes estímulos em diferentes pessoas levam a diferentes respostas de seus organismos, que incluem o imprinting.

Reforço bivalente

Há dois meses, com base apenas em estudo preliminar com roedores, a Administração de Alimentos e Drogas (FDA) dos Estados Unidos autorizou mais uma dose de reforço que tem como alvo duas subvariantes da ômicron, BA.4 e BA.5. É a chamada vacina bivalente, produzida em duas versões pelas farmacêuticas Pfizer e Moderna. Mais de 20 milhões de americanos já tomaram a dose de reforço bivalente. Universidades de prestígio no país levantaram polêmica ao reintroduzir “passaporte vacinal” que exige essa dose de alunos, professores e funcionários para a volta às aulas, o que é uma forma de coerção.

Em nota, a BioNTech, que é parceira da Pfizer na produção da vacina, divulgou que essa dose aumentou em quatro vezes a quantidade de anticorpos contra as duas subvariantes em testes laboratoriais, em comparação à vacina original. Mas o resultado vale apenas para indivíduos com idade de 55 anos ou mais.

Vinay Prasad, professor de epidemiologia e bioestatística na Universidade da Califórnia, em São Francisco, estranhou a falta de informações da fabricante a respeito dos efeitos nos pacientes entre 18 e 54 anos e o modo como a nota foi coberta pela imprensa. Ele explica que o aumento na resposta dos anticorpos não se traduz necessariamente em mais imunização.

Em publicação própria, Prasad reclamou que especialistas entrevistados são pessoas com conflito de interesse, pois recebem dinheiro da Pfizer.  “Não queremos líderes políticos brincando de médico”, comentou ele, sobre o envolvimento direto da Casa Branca em promover a dose bivalente após reuniões com as farmacêuticas. “Façam a fabricante que está ganhando dezenas de bilhões de dólares realizar o estudo adequado antes de lançar [a vacina] no mercado”, concluiu o especialista.

Fonte: Gazeta do Povo

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