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Peão morre congelado agarrado aos animais e comove argentinos

Tomás Sura foi encontrado segurando com uma das mãos o seu cavalo e na outra um chicote, de acordo com a sobrinha da vítima

A história de um tropeiro patagônico comove a Argentina. Ele morreu durante uma nevasca e foi encontrado congelado agarrado aos animais. Tomás Sura, 59 anos, era um “criancero”, como a linguagem rural na Argentina chama os pastores que habitam terras patagônicas. Ele conhecia muito bem a paisagem, os segredos da região e o clima inclemente a partir de abril, entretanto não resistiu ao frio e à neve.

Sura retornava das áreas mais elevadas do altiplano, onde habitava entre novembro e abril, na região montanhosa de Los Cerrillos, quase na fronteira com o Chile. Como todos os tropeiros da região, ele descia todos os anos para planície para passar o inverno. Uma tempestade de neve, porém, o surpreendeu a uma altitude de 3.000 metros, e congelou até a morte.

Ele ficou desaparecido por nove dias, até que seu corpo foi encontrado pelas autoridades da Argentina. Quatro outros trabalhadores rurais que, como ele, estavam a caminho de áreas mais baixas para o inverno também foram apanhados pela nevasca e pelo vento branco de mais de 100 km/h, mas conseguiam ser resgatados com vida.

O homem não morreu sozinho. “Eles o encontraram com uma das mãos segurando seu cavalo e a outra um chicote. Seus dois filhotes estavam de um lado, congelados como ele”, conta Inés Sura, sobrinha da vítima, em diálogo com a rede de notícia da televisão argentina TN. “Eu me enterrei 14 vezes na neve e nunca consegui encontrá-lo”, narrou o último homem a ver vivo Tomás Sura.

Don Sura ou “Chuma”, como era carinhosamente chamado por parentes e conhecidos, havia deixado seu refúgio com mais de 300 cabras para continuar seus hábitos nômades. A última pessoa a vê-lo com vida foi Sergio Tapia, que trabalhava com ele e o acompanhava com seu caminhão no momento do desaparecimento.

Tapia suportou a tempestade branca e fatal por horas na solidão do deserto patagônico. Primeiro esperou para encontrar o amigo e depois, quando o frio apertava e o relógio ameaçava (Sura, aliás, não tinha provisões suficientes para ficar vários dias sozinho no alto), foi procurá-lo. Ele nunca encontrou o colega.

Tapia conta que quando voltou se deparou com a força total com a tempestade: “Por volta das cinco da tarde o vento branco estava muito forte e havia muita neve. A neve começou a cair e o caminhão congelou na parte de cima. Era impossível movê-lo, embora eu passasse o tempo todo usando a pá para remover a neve”, afirmou.

Buscas na neve duraram quase duas semanas com condições meteorológicas por vezes inclementes | FAMÍLIA SURA/DIVULGAÇÃO.

Apesar da ameaça do tempo cada vez mais duro, Tapia decidiu passar a noite no caminhão no meio da tempestade. Ele não podia seguir em frente, mas também não queria sair. Ele não conseguia conceber a ideia de abandonar seu parceiro.

“As horas passaram e eu comecei a pensar e pensar, você viu? Fiquei parado porque esperava que ele voltasse”, lembra Tapia, convencido de que seu companheiro havia saído da estrada enquanto pastoreava os animais e a tempestade não lhe deu tempo: “No dia seguinte trouxe comida e roupas secas e voltou. Caminhei do meio-dia às oito da noite. Passei por três abrigos e nunca consegui encontrá-lo”, descreve.

Os familiares de Sura e outros seis crianceros presos pela tempestade notificaram a polícia. As autoridades encontraram quatro deles sãos e salvos. Em outras áreas montanhosas não havia notícias sobre David Bascur, que havia caído em um rio com seu cavalo, encontrado morto depois.

Do MetSul

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