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Onça-parda ferida em atropelamento está recuperada e volta a viver na natureza

Batizado de Leôncio, o animal segue em monitoramento, mas já vive em área semelhante a que foi encontrado. A onça foi atropelada em 2021 em uma rodovia no Oeste do Paraná. Com esforços conjuntos, foi reabilitada e está livre.

O Instituto Água e Terra (IAT) autorizou a soltura da onça-parda que foi ferida em um atropelamento e recuperada após uma cirurgia. A onça, que ganhou o nome de Leôncio, voltou a viver na natureza no último fim de semana. O atendimento e a reabilitação, assim como a soltura, são frutos de esforços conjuntos de diferentes instituições para o alcance de um objetivo em comum: proteção e conservação da fauna como responsabilidade de todos.

Além do IAT, participaram de todo o processo equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Itaipu Binacional, e do Instituto Giovanna e Licínio Machado de Biodiversidade (IGLMBio).

“Foram realizadas todas as avaliações necessárias à soltura do animal, considerando seus aspectos clínico, sanitário e comportamental, que são indicadores sobre a aptidão ao retorno à natureza. Leôncio, de acordo com as avaliações, se mostrou pronto e com capacidade total a esse retorno”, destacou a chefe do Setor de Fauna do IAT, a bióloga Paula Vidolin.

O animal foi atropelado em 2021 em uma rodovia no Oeste do Paraná e encaminhado ao Refúgio Biológico de Itaipu, inconsciente e em estado crítico. Estava em coma, não conseguia abrir a boca nem o olho, e já tinha passado quase oito horas na viatura da Polícia Ambiental. No Hospital, a onça-parda recebeu tratamento de emergência, com ajuda também de profissionais especialistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR – Câmpus Palotina), do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) e do Projeto Onças do Iguaçu.

“Leôncio tinha uma fratura muito grave de fêmur, então pensamos: vamos fazer eutanásia ou dar uma segunda chance para ele?”, lembrou o médico veterinário do Refúgio Biológico de Itaipu, Pedro Henrique Teles. “Ainda não sabíamos se teríamos os parceiros para isso, mas felizmente conseguimos muitos. Hoje a onça tem uma placa, um pino e 16 parafusos na perna, mas sobe e desce de árvores perfeitamente”.

RECUPERAÇÃO – Após os cuidados veterinários intensivos, Leôncio ficou durante seis meses em um “Recinto de Aclimatação”. O espaço de 850 metros quadrados, instalado em meio a ambientes naturais de fácil acesso e logística, foi erguido de forma simples e com materiais de baixo custo, para que pudesse ser reproduzido facilmente.

Agora no novo lar, a onça-parda vive em uma área com características semelhantes a que foi encontrada, o que deve permitir uma boa adaptação. O animal é monitorado pelo ICMBio e pelo Projeto Onças do Iguaçu, por meio de um colar GPS/VHF, para que os especialistas possam compreender como funcionará a sua readaptação ao habitat.

A escolha do local onde ele foi solto também é importante, por possuir a conectividade entre o Parque Nacional do Iguaçu e as áreas protegidas da Itaipu. “É muito fácil soltar um animal em uma área totalmente preservada e ele sobreviver. Agora, estamos soltando em um lugar em que ele vai encontrar problemas, e vai ter que aprender a resolver. Mas acompanharemos”, finalizou Teles.

PRÓ-FAUNA – A área em que Leôncio foi solto está cadastrada no Programa Voo Livre para ser habilitado como um uma Área de Soltura de Animais Silvestres (ASAS). O programa integra as iniciativas Pró-Fauna, desenvolvidas pelo Instituto Água e Terra (IAT), vinculado à Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo (Sedest).

Pelo programa, é possível cadastrar áreas particulares com características adequadas para receber espécimes da fauna silvestre que necessitam de reabilitação ou que estejam aptos ao retorno à natureza. As ASAS são áreas que possuem características ambientais que propiciam a soltura da fauna no local, sem o objetivo de prover a reabilitação de espécimes.

Já as ARAS (Áreas de Reabilitação de Animais Silvestres) dispõem de estrutura física que possibilita que os animais readquiram condições anatômicas e funcionais para que possam, posteriormente, serem soltos em ambiente natural.

HOSPEDADA EM FAZENDA  O primeiro contato com o animal vitimado foi com proprietários de uma fazenda local, que “hospedaram” Leôncio sob orientação dos especialistas. “Dois terços da área da nossa propriedade é para lavoura e pecuária, mas o restante é para preservação ambiental. E isso não gera conflito, pelo contrário, traz uma série de benefícios”, contou Giovanna Machado, dona da fazenda.

O monitoramento com câmeras, durante a permanência de Leôncio no local, detectou outras quatro onças-pardas na área da fazenda. “Nos mais de 70 anos em que a família gerencia a propriedade, nunca tivemos um ataque de onça, nem ao rebanho e nem aos animais menores, como animais de estimação ou galinhas. Isso porque a onça já tem, no ambiente preservado, uma biodiversidade significativa que supre as necessidades dela. A convivência é possível”, garantiu Giovanna.

Segundo o gerente da Regional Sul do ICMBio, Isaac Simão Neto, a missão institucional do Instituto precisa dessa colaboração de toda a sociedade. “Parcerias como a que foi desenvolvida pelo Leôncio são fundamentais para a conservação. Para nós, é um orgulho participar disso”, completou. 

Da AEN

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