Máscaras para Covid não são mais obrigatórias, mas há benefícios de usá-la em outros casos?
A situação é comum: uma pessoa chega ao trabalho espirrando, tossindo e reclamando de dor de cabeça. Em poucos dias, vários membros da equipe sentem os mesmos sintomas. Só que isso poderia ser evitado com o uso de um item de proteção que todos têm em casa devido à pandemia de Covid-19: a máscara facial.
Ainda que seu uso para prevenção da Covid não seja mais obrigatório na maioria dos casos, a médica infectologista e professora da Unicamp Raquel Stucchi afirma que vestir a máscara em determinadas situações pode trazer outros benefícios, como a proteção de colegas quando alguém apresenta sintomas de gripe, por exemplo. “Isso porque a máscara é importante para o bloqueio dos vírus de transmissão respiratória”, explica a médica, ao citar um costume que já era comum em países como o Japão muito antes de o coronavírus existir.
Como esse país foi gravemente afetado com a gripe espanhola, que infectou quase metade da sua população e causou milhares de mortes no início do século 20, os japoneses passaram a usar máscaras faciais como item de proteção individual e coletiva, consumindo mais de 5 bilhões de máscaras por ano, uma média de 43 por pessoa.
Lá, jovens e idosos que estejam com sintomas respiratórios saem de casa com nariz e boca cobertos para evitar a transmissão de gotículas ao falar, tossir ou espirrar. “Isso faz parte da cultura deles e demonstra cortesia social”, relata a médica infectologista Carla Sakuma de Oliveira. “E a eficiência dessa atitude foi comprovada com a pandemia de Covid-19”, comenta.
De acordo com dados mundiais relacionados à doença, enquanto o novo coronavírus causava cerca de 800 mortes diárias na França em abril de 2020, o Japão registrava menos de 10. Já em 2021, quando Reino Unido enfrentava o pico de infecções com mais de 1.200 vítimas por dia, o Japão surpreendia novamente por ter o dobro da população do país europeu e apresentar taxa de mortes 13 vezes menor: 85 óbitos.
Para Carla, esses números mostram que o costume de se colocar no lugar do outro evita a propagação de diversos vírus, pois japoneses com sintomas respiratórios usam máscara para resguardar as pessoas ao redor. “É uma forma de proteger a coletividade”, afirma, ao explicar que o item de proteção também pode ajudar pessoas alérgicas à poeira, pólen ou poluição, por exemplo.
Isso funcionaria no Brasil?
No entanto, isso só se tornaria realidade no Brasil se houvesse conscientização. “Sem isso, as pessoas podem achar que o indivíduo que está frequentemente de máscara tem uma doença transmissível e podem até julgá-lo mal”, afirma. “É uma questão de empatia, de se colocar no lugar do outro, mas isso não é incentivado em nossa sociedade”, lamenta a psicóloga Fabiana Witthoeft.
Segundo ela, o Ocidente é acostumado a ser individualista e a seguir a maioria. “Claro que algumas pessoas têm essa capacidade de se preocupar com o outro, mas não é algo intrínseco na nossa cultura”, explica, ao garantir que a empatia beneficia quem a coloca em prática.
“Um exemplo simples é quando a vendedora da loja atende com mau humor porque está passando por um problema e leva isso para o trabalho”, diz. “Se eu responder da mesma forma, só vou piorar a situação, mas se eu for gentil e disser que ela está bonita, mudarei completamente aquele contexto”.
Da mesma maneira, o uso da máscara nos dias em que o indivíduo está com sintomas de gripe ou resfriado seria uma atitude de empatia, beneficiando o outro, que pode estar passando por diversos problemas e não precisa de mais uma gripe para atrapalhar sua semana. “Nem sempre sabemos o que as pessoas ao redor estão enfrentando, mas sempre podemos ajudar de alguma forma, agindo com respeito e amor”, finaliza.