Segunda maior do mundo, Colacril-Beontag é destaque na Revista Exame
Revista de circulação nacional destaca estratégia que triplicou o negócio da companhia sediada em Campo Mourão
A Beontag, empresa de etiquetas e rótulos, é daqueles casos raros de nome certo para o negócio. A nova marca foi criada no ano passado para marcar o renascimento da antiga CCRR, produto da fusão da Colacril com a RR Etiquetas há pouco mais de uma década. Além de sugerir que tudo pode ser etiquetado — e isso quer dizer praticamente tudo mesmo — o som se confunde com “beyond tag” (além do rótulo). E é isso mesmo que a companhia entrega: um produto que é mais do que uma etiqueta.
Depois de ver o negócio deslanchar ao entrar no segmento de tags RFID, tecnologia de identificação à distância, por radiofrequência, a companhia partiu para aquisições internacionais, em busca de mais inovação. Mas a estratégia de crescimento teve — e tem — um filtro claro: o trio ESG, fatores sustentáveis, sociais e de governança. O objetivo é conquistar mercado e ser um fornecedor que ajuda os clientes a alcançar suas próprias métricas ESG.
A empresa tornou-se assim uma autêntica multinacional com operação em mais de 40 países, 11 parques fabris, mais de 1.300 funcionários e muita tecnologia proprietária no seu core business — são mais de 50 patentes. A receita da Beontag que foi de R$ 1 bilhão em 2021 deve alcançar R$ 2,8 bilhões neste ano. Há mais consolidação no radar e esse total pode chegar perto de R$ 3,5 bilhões, se transações nos Estados Unidos e China em fase avançada de negociação também forem concluídas. Hoje, mais de 25% das vendas são de tecnologias desenvolvidas internamente nos últimos três anos.
“Colocar o ESG no centro da estratégia, inclusive para definir aquisições, nos permitiu furar a fila para chegar em grandes clientes. Temos certeza que é a coisa certa a fazer não apenas para nós, como empresa, mas para os clientes”, enfatiza Ricardo Lobo, presidente da Beontag, em entrevista ao EXAME IN. Foi assim que a companhia conquistou uma lista de clientes que são uma verdadeira vitrine, como Louis Vuitton, Dior, Prada, Gucci, Diesel, Moncler, entre outras.
O investimento em sustentabilidade neste ano chegará a 4% da receita neste ano, cerca de US$ 22 milhões — comparado a US$ 12 milhões no ano passado.
O mercado internacional virou a rota de expansão clara, quando a empresa se viu exportando sua tecnologia para França, Japão e Estados Unidos. “Percebemos que tínhamos legitimidade para sermos um consolidador global”, diz Lobo. A lista de negócios adquiridos tem operações na França, Itália, Suécia, Finlândia, Bélgica, Polônia, Eslovênia — são oito países contando o Brasil, podendo chegar a dez ainda em 2022. Não é sem motivo que Lobo, mais outros vice-presidentes, estão de mudança para Milão, na Itália, um ponto estratégico com voos diretos para o Brasil e para as capitais europeias. Neste ano, 70% da receita virá de fora do país.
No Brasil, a Beontag é líder disparada, com 90% do mercado de RFID e 35% do mercado total de etiquetas e rótulos — de todo tipo que o leitor possa imaginar, incluindo as tags de carros para pedágios e pagamentos automáticos. As grandes redes varejistas que fizeram a migração do código de barras para o RFID são praticamente todas clientes da empresa, como C&A, Pernambucanas, Havan e Centauro, entre outras.
Junto com as aquisições com foco em ESG veio a decisão de formalizar metas para dentro de casa também. Para conduzir esse processo, a companhia trouxe em maio do ano passado, Barbara Dunin, com mais de 15 anos de experiência no assunto. Nos últimos oito anos antes de integrar a equipe da Beontag, ela passou oito anos no Pacto Global das Organizações das Nações Unidas (ONU).
“Estava com o chapéu de dizer para empresa o que fazer e agora estou aqui para implementar tudo o que eu pregava. Estou vendo as belezas e os desafios de integrar a sustentabilidade na estratégia”, conta ela. “Colocamos a lente do ESG para dentro e para fora”, enfatiza a executiva à frente da área de ESG, comunicação e marketing da empresa.
A Beontag não apenas fabrica as etiquetas e os rótulos, ela atua na solução completa. Pode colocar no cliente os hardwares necessários e ainda o software, fornecendo a manutenção para tudo. “Investimos em inovação tanto na frente de ciência de materiais como no desenvolvimento de softwares proprietários”, completa Lobo. Esse modelo dá à companhia não só a receita de venda de produto, mas também a recorrência de clientes nos quais está presente com a solução toda.
O que é uma etiqueta sustentável?
Para entender por que os produtos da Beontag são sustentáveis, é preciso partir para os detalhes. Depois disso, provavelmente, nunca mais o leitor verá um produto sem prestar atenção nelas – as etiquetas. A sigla complicada é uma espécie de evolução do código de barras.
“A etiqueta RFID é a alma do produto”, explica Lobo. Ela não diz apenas o que é o item, como o código de barras. Ela pode conter uma gama de informações que permitem colocar a rastreabilidade no centro. Além disso, ampliam a assertividade na gestão de estoques, o que gera menos erros e menos emissão de carbono no processo. Enquanto as etiquetas de código de barras precisam ser verificadas uma a uma, o RFID permite a contagem em grandes lotes, já que a leitura é feita por antenas.
Essa indústria passou por uma grande revolução com o desenvolvimento da computação em nuvem. No início, a necessidade de memória nos chips RFID encarecia o produto. Agora, as informações ficam na nuvem, o que tornou a produção muito mais barata.
Em uma das aquisições realizadas, o alvo foi uma subsidiária da companhia de papel e celulose Stora Enso que revolucionou as tags RFID para uma verdadeira “eco tag”. Agora, a solução vai ganhar escala e será produzida no Brasil e na Itália, além da Finlândia, para estar disponível a todos os clientes que quiserem adotá-la.
No lugar de usar PET, alumínio e papel — pois a antena vai embutida em um sanduíche com esses materiais — agora a antena é ‘impressa’ diretamente no papel com um pó metálico. Só isso reduz a pegada de carbono do produto pela metade. Para completar, essa liga de metal não agride o ambiente, como o alumínio, e é solúvel. Ou seja, a etiqueta é totalmente compostável.
Combinada à tecnologia de software da empresa se transforma em um canal de relacionamento com o cliente, para além da rastreabilidade que cuida da cadeia produtiva. Ao apontar o celular para a etiqueta, um hot site abre automaticamente no celular do consumidor e permite que as marcas tenham um conhecimento muito maior sobre seu público e até mesmo controle para estratégias de recirculação – a última tendência em ESG para a indústria da moda. “Grande chance de que o consumidor que compra uma Louis Vuitton na França não ser francês. Antes, não dava para acompanhar e seguir atendendo esse cliente. Agora é totalmente possível”, comenta Lobo.
Por ter conquistado escala apenas com a computação em nuvem, o uso da RFID ainda está no início e suas aplicações estão em fase de desenvolvimento. Para se ter uma ideia do que isso significa, a indústria da moda é a mais avançada na sua adoção, com apenas 10% de penetração da novidade.
Barbara destaca que as pesquisas para novas adoções têm aplicações impensáveis e com grande potencial de impacto social e ambiental. Entre elas, por exemplo, está o uso da eco tag em fraldas de pacientes geriátricos ou sem mobilidade. “Quando a fralda molha, o sinal da antena some, o que indica para uma central de controle que está hora de fazer a troca do paciente.”
Outra novidade que veio de uma aquisição, dessa vez na Suécia, é a fita de etiqueta colante que enrola sobre si mesmo. É como se uma figurinha não precisasse mais da camada na qual vem colada até que possa ser transferida a um álbum. Essa solução já está sendo adotada por gigantes do e-commerce, como a Amazon, que precisam identificar de forma customizada cada envio aos clientes.
Parece detalhe, mas os dados são todos superlativos. Somente os dez maiores varejistas brasileiros (de redes de supermercados) geram 5.000 toneladas em resíduo dessa camada onde vem colada a fita adesiva. Por que? Simples: essa etiqueta é usada em tudo que passa pela balança antes de ser pago — frios, carnes, padaria, frescos e por aí afora. São cerca de 170 caminhões repletos de sobra de papel.
“E estamos falando apenas da economia com a sobra do papel, mas essa tecnologia tem mais possibilidades”, diz Thiago Horta, vice-presidente de operações (COO) da Beontag. A balança que gera essa etiqueta também é capaz de fazer o corte do adesivo exatamente no tamanho do que foi impresso. “Hoje em dia, o excesso de papel também está na padronização das etiquetas, que são feitas para produtos que podem conter uma grande descrição. Para itens mais simples, por exemplo, uma uva passa, sobra sempre um grande espaço de papel não utilizado”, completa Lobo, como em um jogral de apresentação das novidades.
As metas da Beontag
A companhia estabeleceu suas primeiras metas para 2030 a partir do trabalho conduzido por Barbara Dunin. Os produtos sustentáveis da frente chamada de GLM, onde estão rótulos e adesivos, hoje representam 67% das vendas e o objetivo é que esse percentual seja de 85% dentro de oito anos. Na área de DTE, onde ficam as etiquetas RFID e as eco tags, as vendas do modelo sustentável são de apenas 3,5% hoje e o plano é que alcancem 70% do total até o fim dessa década.
“Aqui, vale lembra que tudo na eco tag é proprietário, a máquina, a etiqueta, a liga metálica. Não é fácil para a concorrência nos replicar”, destaca Lobo. O investimento para levar a tecnologia para outras unidades não é apenas para dar escala. A filosofia da Beontag é adotar uma produção mais local possível, para ficar perto do cliente, desenvolver empregos na região e reduzir a cadeia logística e com isso descarbonizar o produto. Não há metas para isso ainda, mas a ideia é que no futuro isso seja medido e acompanhado.
“Nós nos preocupamos muito em ter metas, nesse primeiro momento, que são compatíveis com nosso tamanho de negócio. Mas o interessante é que não estamos saindo do zero, ao contrário, estamos avançados em muitas frentes”, destaca Barbara.
A companhia também pretende ter na sua cadeia de abastecimento 100% de papéis de empresas com certificação de origem, como o selo FSC. Hoje, esse percentual está em 67%. Por fim, a ideia é trabalhar as sobras de que forma de 90% delas, geradas por etiquetas adesivas, que vão para aterros sejam revertidas para projetos de reciclagem — a partir de um percentual que hoje está em 26%. Para as tags RFID, é sair de 35% para 100%.
Dentre todas as metas, Lobo tem uma que ele fez questão de inserir e brigou por ela. Muito se fala sobre a presença feminina nos cargos de liderança da companhia e, para isso, o plano é sair dos atuais 21% para 50% até 2030, mas não é exatemente aí que o executivo vê o maior impacto de políticas de gênero. Lobo defendeu que a companhia colocasse um objetivo de ter pelo menos 40% da base da empresa formado por colaboradoras mulheres (hoje são 28%). “É daí que vem o maior impacto social. Pois é partir do início do trabalho que podemos atuar com formação e realmente melhorar, conforme o desenvolvimento profissional, as condições de vida.”
Capitalização
É claro que para tantas realizações, foi necessário capital. Entre 2020 e o começo deste ano, a Beontag recebeu quase R$ 1,2 bilhão em aportes de recursos que vieram do fundo de private equity FIP Economia Real, gerido pelo BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) e portfólio no qual está também a V.tal, da holding dos sócios do banco e de clientes do wealth management. Juntos, eles têm 85% da companhia.
É certo que uma abertura de capital é o destino final da empresa, mas sobre isso os executivos ainda não falam muito. O foco agora é cuidar do que foi comprado. Com a internacionalização, a companhia terá as bolsas do mundo para escolher onde fazer seu IPO (oferta pública inicial). Mesmo tendo entrado no negócio de RFID apenas em 2018, as aquisições colocaram a Beontag como a segunda maior do mundo, atrás apenas da Avery Dennison.
Oportunidades, a Beontag não vê faltar. “O mercado existente hoje é de US$ 6 bilhões, mas pode ser de US$ 1 trilhão. E até mais. É algo não exaustivo”, enfatiza Lobo, porque as indústrias e segmento que podem adotar a solução estão apenas no começo do caminho.