Como dar limite de telas para as crianças
Smartphones, tablets e notebooks fazem parte da rotina de quase todas as famílias, como já conversamos aqui no Sempre Família. Além de serem instrumentos de trabalho, esses aparelhos eletrônicos se tornaram meios de entretenimento, lazer e, inclusive, de estudo para as crianças, com as aulas online.
As telas até podem fazer parte de uma rotina saudável e serem utilizadas de forma inteligente, mas seu uso de maneira inadequada, sem dúvida nenhuma, causa uma série de malefícios, principalmente às crianças, se expostas excessivamente.
Dependência digital, uso problemático das mídias interativas, problemas de saúde mental, transtornos de déficit de atenção, hiperatividade, transtornos de sono e de alimentação, bullying, sedentarismo, sexting, abuso sexual, comportamentos autolesivos e indução de riscos de suicídio são alguns dentre tantos outros perigos do uso excessivo e precoce de telas pelas crianças, indicados pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
Portanto, a necessidade de limitar o uso de telas pelas crianças é urgente e indispensável para o melhor desenvolvimento infantil.
Rodolfo Canonico, especialista em políticas públicas para famílias e diretor executivo do Family Talks, programa da Associação de Desenvolvimento da Família, acredita que para limitar o uso de telas pelas crianças, primeiramente é importante a família ter consciência de que é a mediadora da criança com o mundo.
“Os pais devem assumir a responsabilidade de moderar esse uso, proporcionalmente à idade da criança, para que ela possa ter uma exposição saudável e as telas tornem-se aliadas ao seu desenvolvimento e não vilãs”, crê o especialista, ao destacar a necessidade do protagonismo familiar.
Tomada a consciência da responsabilidade na educação dos filhos, também é importante perceber o quanto as telas estão presentes na realidade familiar, averiguando se a exposição é proporcional às necessidades e peculiaridades de cada membro da família.
“A influência que o pai e a mãe podem ter para a frequência do uso de telas pela criança é muito grande, pois ela busca imitar o comportamento dos adultos”, alerta Canonico. “Portanto, se há uso indiscriminado das telas pelos pais, a criança vai procurar replicar isso”.
Para as crianças maiores, que já têm acesso a telas, os controles de moderação oferecidos pelas plataformas e aparelhos contribuem para que as famílias tenham um controle do tipo de conteúdo acessado, facilitando o limite da exposição.
Além disso, Canonico orienta que os pais também devem se atentar com as práticas da escola e com o grupo de amigos que o filho frequenta, para que haja conformidade de valores e o ambiente escolar possa ser um ambiente livre de telas ou que ofereça de modo consciente e limitado.
É saudável proibir integralmente o uso total de telas?
A proibição do uso de telas, de forma integral, é uma decisão privada da família. Porém, considerando que a tecnologia e, consequentemente, o uso das telas são parte da realidade atual da sociedade, inclusive nas escolas, pode ser mais produtivo educar as crianças para uma relação saudável e construtiva com o mundo digital, ao invés de criar uma inibição.
“Deve ser de interesse da maior parte das famílias fazer a moderação no uso das telas, acompanhando os diferentes processos da vida da criança, sabendo que, mais do que impor o limite de forma arbitrária às crianças, toda a família precisa se adaptar a essa realidade, caso contrário não será produtiva tal restrição”, destaca Canonico.
O exemplo é o grande educador e faz parte do processo. Portanto, ao criar uma proibição integral da criança para o uso de telas, enquanto os adultos fazem uso indiscriminado delas, gera-se nos pequenos um desejo ardente de acessá-las, já que olham com aspiração para os adultos.
Sendo assim, é necessário que seja um processo que envolva toda a família. E, tendo ela consciência do uso de telas tanto por crianças, como por adultos, conseguirá colocar mecanismos, de modo natural, para a moderação e mediação da criança com o mundo digital de forma saudável.
Quais atividades podem substituir o uso das telas?
Há inúmeras atividades que podem substituir o uso das telas, variando em função da faixa etária e o desenvolvimento de cada criança. Contudo, há atividades que podem ser direcionadas pelos pais, independentemente da idade e sem qualquer custo, sugeridas por Canonico:
- Convívio com outras crianças: é importante que a criança brinque com outras crianças para favorecer o enriquecimento de sua imaginação, possibilitando a criação de interações oportunas com o próximo.
- Atividades esportivas em família: gastar tempo ao ar livre, usando equipamentos de lazer regionais ou jogos de tabuleiro que possam reunir a família para um momento de descanso.
- Aproveitar tempos de deslocamento: buscar evitar músicas, vídeos ou qualquer outra interferência externa para maximizar a relação das pessoas presentes no carro através do diálogo.
- Integrar nas atividades domésticas: convidar a criança para participar das atividades do cotidiano, como o preparo de algum alimento, a lavagem de roupas, limpeza da casa, dando-lhe pequenas tarefas, compatíveis com sua idade.
- Banir o celular nas refeições: nesse momento é importante ser radical e proibir o uso de telas, seja celular ou televisão, durante as refeições, para que haja interação entre as pessoas, promovendo um tempo de qualidade.
- Ambiente adequado: preparar em casa um ambiente disponível para as brincadeiras, com coisas que a criança pode utilizar para desenhar, recortar e brincar. Ao final, é oportuno ensinar a criança a guardar todo o material utilizado, assim desenvolverá virtudes essenciais para o futuro.
- Brinquedos educativos: favorecer o acesso da criança a brinquedos desmontáveis, de madeira, até mesmo sucatas de casa para fabricação de seus próprios brinquedos, estimulando a criatividade.
- Momento de leitura: para as crianças pequenas, criar o hábito da leitura antes de dormir, enquanto para os mais velhos, estipular um horário no qual toda a família se reúna para ler, cultivando hábitos de silêncio, mas de presença.
“Para entreter a criança, não se trata de gastar dinheiro com brinquedos caros, mas em ter criatividade e tempo de qualidade com a criança”, conclui Canonico.