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Veja o que se sabe sobre o desabamento de rocha em Capitólio (MG)

Grande bloco de pedra deslizou e atingiu lanchas que estavam no lago de Furnas; pelo menos sete mortes foram confirmadas

Uma rocha desabou e atingiu lanchas que estavam no Lago de Furnas, ponto turístico localizado em Capitólio (MG), cidade localizada a cerca de 280 quilômetros da capital Belo Horizonte. O acidente ocorreu no início da tarde deste sábado (8).

Até o fim da noite de sábado, o Corpo de Bombeiros já havia confirmado sete mortes. Pelo menos 32 pessoas ficaram feridas e há aproximadamente três desaparecidos. A estimativa da corporação é de que, no momento do acidente, em torno de 70 turistas estavam no local.

Vídeos publicados nas redes sociais mostram o momento em que uma grande rocha desliza e cai sobre a água, atingindo pelo menos três embarcações. Pouco antes da queda, é possível ver guias turísticos alertando sobre o iminente desabamento.

Porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, o tenente Pedro Aihara afirmou que as fortes chuvas que vêm atingindo o estado podem ter relação com o acidente e alerta para o risco de outras ocorrências. “É possível que haja novos acidentes, porque a água das chuvas penetra nas rochas, que têm menor resistência à ação da água e de vento”, afirmou.

A área onde ocorreu um deslizamento é um cânion. Ou seja, um vale profundo cercado de rochas que formam uma espécie de paredão natural. Em entrevista à CNN, Aihara afirmou que as visitas a áreas rochosas devem ser evitadas em épocas com altos índices de chuvas.

Ainda de acordo com o tenente, a maneira como a rocha caiu é atípica. “A forma de escorregamento não costuma ser para frente, é como se fosse uma fatia de um pedaço de uma torta escorregando naturalmente. Mas essa estrutura caiu como um dominó. A parte lá de cima que cai numa trajetória perpendicular intensificou o dano que as embarcações sofreram”, disse.

“Sofremos hoje a dor de uma tragédia em nosso Estado, devido às fortes chuvas, que provocaram o desprendimento de um paredão de pedras no lago de Furnas, em Capitólio. O Governo de Minas está presente desde os primeiros momentos através da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros”, afirmou, pelo Twitter, o governador Romeu Zema (Novo).

Os trabalhos de resgate ainda estão em andamento. Solidarizo com as famílias neste difícil momento. Seguiremos atuando para fornecer o apoio e amparo necessários”, acrescentou Zema.

Buscas por desaparecidos

O trabalho executado por mergulhadores para localizar vítimas desaparecidas teve de ser interrompido no início da noite em razão da falta de luz natural, segundo Aihara. Os mergulhadores devem voltar ao lago entre 5h e 6h deste domingo (9).

Segundo o porta-voz, porém, a corporação continuou atuando em outras frentes durante a noite. Aihara explicou que, nesse período, os bombeiros se concentraram em trabalhos de planejamento e inteligência, fazendo um monitoramento em busca de vítimas em hospitais da região, além de trocar informações com a Polícia Civil. Isso porque algumas pessoas que estavam no local podem ter buscado socorro por meios próprios.

Ainda não há previsão de quanto tempo as buscas irão demorar. Porém, conforme Aihara, as equipes deverão ficar no local pelo menos até segunda-feira (10). Ele salienta que, se houver vítimas presas embaixo do bloco de rochas, o procedimento de resgate dos corpos pode demorar ainda mais, já que dependerá de equipamentos específicos para essa finalidade.

Responsabilidades

Ainda no sábado, a Marinha informou que irá abrir um inquérito para investigar as circunstâncias que provocaram o desabamento. Além da investigação, a Marinha afirmou que enviou equipes para auxiliar nos trabalhos de resgate.

“O inquérito aberto para apurar as circunstâncias do acidente/fato ocorrido analisará os aspectos sobre a segurança da navegação, a habilitação dos condutores envolvidos, o ordenamento aquaviário do local e a observância das normas e legislações emanadas pela Autoridade Marítima”, diz a Marinha.

Por meio de nota, a empresa Furnas Centrais Elétricas declarou que “lamenta o ocorrido e se solidariza com as vítimas do acidente, familiares e amigos”. A companhia disse ainda que “está dando apoio às autoridades locais nas ações de socorro aos atingidos”. “A empresa esclarece que utiliza o lago para a geração de energia elétrica e que não é a responsável pela gestão dos usos múltiplos do reservatório, como atividades de turismo e lazer”, finalizou.

Joana Sanches, professora de geologia da Universidade Federal de Goiás (UFGO) e doutora em mapeamento geológico, explica que o local do acidente fica em uma área de risco e o turismo deveria ter sido suspenso na região.

“A área deveria ter sido fechada para o turismo até que se fizesse uma intervenção de técnicos capacitados, além de uma análise mais precisa dos riscos no local. Já havia uma fratura prévia na rocha que se desprendeu. Essa fratura ia desde o topo até a base e são preenchidas pelo solo [terra]. Com a intensidade das chuvas, esse solo que fica entre as fraturas foi lavado e levado embora. Além disso, a água ajudou a fazer mais peso dentro da fratura. Como já estava previamente deslocado do paredão rochoso, com a intensidade dessas chuvas, o pedaço se deslocou por completo”, detalhou.

A pesquisadora explicou que uma das intervenções primordiais seria a derrubada prévia do pedaço de rocha com a realização de um trabalho geotécnica para essa análise. “É preciso debater tais medidas dentro da lei em vigor, o que pode ou não pode se fazer na prática”, complementou.

O secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil, do Ministério do Desenvolvimento Regional, coronel Alexandre Lucas, disse que o mapeamento e monitoramento de riscos é uma responsabilidade das prefeituras.

“A Defesa Civil Nacional tem emitido alertas diários sobre essas chuvas. Essas chuvas devem provocar riscos até terça ou quarta-feira. Todas as defesas civis municipais devem procurar monitorar seus riscos e adotar medidas de prevenção”, afirmou o coronel.

Erros na evacuação do local

Em entrevista à CNN, o especialista em gerenciamento de riscos e segurança Gerardo Portela citou uma “sucessão de erros” nos momentos que sucederam o desabamento. Ele lembra que as imagens que circulam nas redes sociais revelam que os ocupantes das embarcações foram alertados pelas pessoas ao redor sobre o risco de desabamento da estrutura. Ainda assim, diz, a iniciativa de se afastar da região de risco demorou a acontecer.

“As últimas imagens revelam o despreparo. Observamos que as lanchas estavam superlotadas, com a proa apontada para o local de risco”, comenta. Segundo ele, as proas das embarcações deveriam estar posicionadas para o lado contrário, de modo a facilitar uma eventual fuga do local. “[Foi] uma sucessão de falhas, pessoas mais distantes estavam percebendo o risco, mas eles ali, mesmo sendo profissionais, não conseguiram ter a atenção certa”, salienta Portela.

Excesso de chuvas

O chefe da previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Francisco de Assis Diniz, afirma que, em Capitólio, “vão persistir as condições de chuva, porém de maneira não tão intensa como na Grande Belo Horizonte”. Segundo ele, a previsão é de que seja registrada uma precipitação diária entre 20 e 30 milímetros até segunda (10) ou terça-feira (11).

Diniz acrescenta que a região de Capitólio, localizada ao sudoeste de Minas Gerais, já vem registrando grande quantidade de chuvas desde dezembro. “O solo já vem encharcado. Vai adentrando água nas fendas, muitas vezes acumulando, chegando ao ponto em que pode acontecer alguma explosão”, explica.

Não foi só a cidade de Capitólio que sofreu com tempestades no fim de semana. De acordo com o Corpo de Bombeiros, 98 chamados específicos para chuvas foram registrados em Minas Gerais no período de 24 horas até as 18h30 do sábado.

No período da manhã, foi registrado um transbordamento de um dique no município de Nova Lima, localizado na região metropolitana de Belo Horizonte. Inicialmente, a informação divulgada foi de que houve um rompimento de barragem –o que foi desmentido em seguida. Apesar do susto, não houve vítimas fatais.

A cidade de Nova Lima fica a cerca de 70 quilômetros de Brumadinho, onde, em 2019, 270 pessoas morreram após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão.

‘Mar’ de Minas

O lago de Furnas, onde ocorreu a tragédia neste sábado, é conhecido como ‘Mar’ de Minas. O local recebe grande quantidade de turistas em feriados e épocas de temporadas. Além disso, a região é próxima de áreas urbanas, onde há estrutura de hotéis, pousadas e casas de veraneio para atender a demanda dos visitantes.

CNN Brasil

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