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Quem são os dez médicos do Paraná que morreram por Covid-19

Desde o início da pandemia de Covid-19, dez médicos morreram no Paraná em decorrência da contaminação pelo novo coronavírus. Com idades entre 32 e 80 anos, eram especialistas nas mais diversas áreas – radiologia, ortopedia, cardiologia, pediatria, ginecologia, neurocirurgia, otorrinolaringologia. Alguns atuavam na linha de frente no combate ao vírus que os vitimou. Saiba um pouco mais sobre quem eram esses profissionais:

Nelson Martins Schiavinatto

Nelson Schiavinatto com seu neto, Giovanni.| Arquivo pessoal

Nascido em Londrina em 1940, Nelson Martins Schiavinatto formou-se em Medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1968 e tornou-se referência em radiologia e diagnóstico por imagem no município de Cianorte, onde viveu a maior parte da vida. No dia 22 de janeiro, completou 80 anos, ainda na ativa. Em março, passou alguns dias com a família em um cruzeiro em Balneário Camboriú, Santa Catarina, de onde retornou com os primeiros sintomas de Covid-19. No dia 28 do mesmo mês, um sábado, foi internado na Santa Casa de Cianorte. Quatro dias depois foi para a UTI, onde faleceu dois dias mais tarde, uma sexta-feira, 3 de abril. “Era um homem absolutamente saudável: não fumava, não bebia, fazia atividade física, alimentou-se bem a vida toda”, conta a filha Fernanda Schiavinatto. “A doença é violenta”, lamenta.

Dr. Nelson gostava muito de ler, de pescar e de estar em contato com a natureza, razão pela qual mantinha uma propriedade rural para onde ia sempre que podia. “Era um paizão, mesmo morando longe da gente”, conta a filha, que vive em Curitiba. O filho do meio de Fernanda, Giovanni, estudante Medicina, era o grande orgulho do avô. Sua morte causou comoção em Cianorte, onde gozava de grande prestígio. Em 2018, quando completava 50 anos de carreira, foi homenageado pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) em uma solenidade do Dia do Médico, recebendo Diploma de Mérito Ético Profissional. Deixou esposa, Neiry, com quem foi casado por 53 anos, três filhos e sete netos.

Milton Luiz Ciappina

Arquivo pessoal

Com 72 anos de idade, Milton Luiz Ciappina continuava trabalhando quando surgiram os primeiros casos de Covid-19 no Brasil. Médico concursado do município de Fazenda Rio Grande, onde atuava na saúde básica, tinha acabado de entrar em quarentena quando começaram os primeiros sintomas da doença, em abril. “Era um cara muito bem quisto”, conta o filho André Ciappina. “Ele atendia pessoas fora do horário de expediente, ajudava pessoas que não tinham condições financeiras, fazia doação de cestas básicas, mantinha um trabalho com um pessoal que tinha câncer e um projeto de combate ao fumo”, lembra. Internado no Hospital Sugisawa, em Curitiba, por mais de duas semanas, período em que foi para a UTI duas vezes, Dr. Milton morreu no dia 3 de maio, um domingo.

No mesmo dia, a prefeitura de Fazenda Rio Grande divulgou uma nota lamentando sua morte. “Dr. Milton era médico concursado no município de Fazenda Rio Grande, onde por anos atuou na Unidade de Saúde Pioneiros e por último, atuava junto ao CAPS [Centro de Atenção Psicossocial]. O prefeito Marcio [Wozniack] manifesta ainda votos de condolências à família e externa seus sentimentos também a equipe da Secretaria de Saúde por tão grande e irreparável perda”, diz o texto. “A gente tenta seguir o modelo dele de caráter”, diz André. O médico deixou esposa, Vânia, e outros cinco filhos.

Clóvis Gorski

Clóvis Gorski com o neto.| Arquivo pessoal

Pertencente ao grupo de risco em razão da idade – 72 anos –, o médico cirurgião Clóvis Gorski não quis parar de trabalhar mesmo com o avanço da pandemia do novo coronavírus. Dizia que já tinha enfrentado uma epidemia de meningite. O Hospital Santa Tereza, em Guarapuava, onde atuava havia quase 40 anos, suspendeu as cirurgias eletivas, mas ele insistiu em continuar atendendo em seu consultório, onde acabou contraindo o vírus de um paciente. “Ele era o médico que não se preocupava com a parte financeira da medicina”, conta o procurador federal Carlos Eduardo Gorski, seu primogênito. Um relato enviado por Denise Mores após seu falecimento, dá a noção do que o filho quer dizer: “Certa vez encontrei o Dr. Clóvis, meu médico de uma vida inteira, no hospital, e ele me perguntou por que não fui mais ao seu consultório. Respondi que ele não atendia mais pelo meu plano de saúde. Foi quando me disse: ‘eu não atendo plano de saúde, atendo pessoas. Pode ir lá, sem se preocupar com isso’”.

“Nunca deixamos de operar alguém por não ter condições de pagar. Algumas vezes até pagamos o remédio pro cara continuar tomando pois não tinha na rede pública. Não me lembro de ter escutado ele reclamar de estar cansado porque não dormiu esta noite ou porque passou o dia trabalhando e nem almoçar conseguiu”, lembrou o médico Frederico Virmond, primo e colega de trabalho de Gorski por mais de 35 anos, em uma mensagem à família. Quando foi diagnosticado com Covid-19, no fim de maio, o cirurgião foi encaminhado ao Hospital São Vicente, referência para a doença em Guarapuava. “Ele disse que se sentia estranho, porque sua casa era o Santa Tereza”, lembra o filho. No dia 9 de junho, não resistiu à doença. No translado de seu corpo até o crematório, em Campo Largo, o veículo da funerária passou por ruas centrais de Guarapuava, incluindo a via em frente à unidade hospitalar onde o médico trabalhava. As homenagens de colegas, pacientes e amigos foram registradas em um vídeo que emocionou a cidade. Deixou esposa, a também médica Erna Sandra, dois filhos e um neto, Lucas, sua grande paixão.

Caio Martins Guedes

Residente de ortopedia e traumatologia no Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, Caio Martins Guedes, 33, estava no exercício da atividade quando foi contaminado pelo novo coronavírus, em junho. Nascido em Taguatinga, no Distrito Federal, ele trabalhava na instituição desde 2018. No dia 10 de junho, foi internado no Hospital Pilar, em Curitiba, onde ficou 12 dias, até falecer, no dia 22. “A dor é irreparável. O que nos acalenta é saber o quão querido ele foi. Ele se foi lutando pela vida do próximo. Ele era visto como um herói na família”, disse o irmão, Ivo Guedes, à RPC TV.

“Algumas pessoas passam rapidamente por nossas vidas, mas deixam um enorme legado! Doutor, descanse em paz e que Deus console toda sua família e amigos neste triste momento da despedida! Obrigado por ter passado por aqui mesmo que rapidamente e deixar conosco sua alegria, simplicidade e um pouco do seu conhecimento também!”, escreveu uma amiga em uma rede social. O CRM-PR e o Hospital Angelina Caron expressaram pesar pelo falecimento do médico.

Miguel Yoneda

Dr. Miguelito durante aula na UEL.| CRM-PR

Especialista em cirurgia geral e medicina do trabalho, Dr. Miguelito, como gostava de ser chamado o médico e professor universitário Miguel Yoneda, atendia no Hospital da Vida, em Dourados, e também no município de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, onde vivia. Sua carreira, no entanto, foi construída em grande parte no Paraná, onde morou entre 1973 e 2017 e deixou uma legião de amigos, admiradores e discípulos. Durante anos, foi docente da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e plantonista do Hospital Universitário da instituição.

Após apresentar os primeiros sintomas de Covid-19, ele ficou internado no Hospital Universitário de Dourados. Tinha 74 anos de idade e era um dos seis médicos que estavam hospitalizados com a doença na cidade, que, na época, era o epicentro do novo coronavírus no estado. Na madrugada do dia 1º de julho, perdeu a batalha contra a Covid. “Acordei com a notícia que eu temia receber. Perdemos o doutor Miguel Yoneda. Quem o conheceu sabe exatamente o que sinto nesse momento. Médico que amava o que fazia, amava o pronto-socorro”, escreveu Alessandra Costa em uma rede social. “Descanse em paz. Grande perda para nós, excelente médico, digno de respeito, mais um guerreiro vencido pela covid-19”, comentou Caroll Marcela.

O Colegiado de Medicina da UEL publicou uma nota lamentando “profundamente” o falecimento do ex-professor. “O Dr. Miguel foi docente e plantonista do Pronto-Socorro Cirúrgico do HU/UEL durante muitos anos e foi modelo de profissional e docente para várias turmas de Medicina e de Fisioterapia desta escola. Não era nada incomum encontrá-lo dando aula aos internos e residentes do PSC em plena madrugada, cobrindo todas as superfícies possíveis com suas explicações e esboços de cirurgias às 3 h da manhã. Tanta dedicação e amor à profissão lhe rendeu inúmeras homenagens durante a carreira, inclusive tendo sido o nome da 47ª Turma de Medicina da UEL, formada em 1999”, diz trecho da nota.

Jorge Karigyo

Jorge Karigyo.| CRM-PR

Jorge Karigyo, ou Dr. Jorge, como era conhecido em Maringá, estava com 62 anos, quando testou positivo para Covid-19. Foi internado no dia 29 de junho e, diabético, viu seu quadro se agravar até seguir para a UTI do Hospital Paraná no dia 7 de julho, onde não resistiu, vindo a falecer no dia seguinte. Vinculado à UPA Zona Sul, era reconhecido na cidade como um profissional humano, caridoso e carismático. “Mesmo diante do grande perigo trazido pela pandemia, enfrentou os riscos de forma muito nobre, fazendo o que mais gostava: salvando vidas!”, diz uma nota publicada pelo 5º Grupamento de Bombeiros – Dr. Jorge era pai da bombeira militar 2º Tenente Hannah Karigyo, que trabalha na seção operacional de Maringá. “Sempre esteve pronto a ajudar em situações que envolvessem a saúde dos bombeiros militares ou a de seus familiares. Dentre as inúmeras histórias que pudemos coletar com o efetivo, destaca-se uma que ocorreu logo quando começou a clinicar em Maringá: atendeu a um bombeiro militar, e com seu próprio veículo levou-o ao hospital para o internamento”, prossegue o texto.

Nas redes sociais, a morte do médico, natural de Assaí e que tinha titulação em ginecologia e obstetrícia, gerou grande repercussão. “Salvou muitas vidas. Um médico espetacular. Com uma história de vida excepcional”, escreveu uma internauta “Muito triste, era um excelente médico, humilde, atencioso, generoso. Ele me atendeu e fez a minha cirurgia e de minha mãe. Deixou uma lacuna grande na família dele e na vida dos amigos, e na área médica de Maringá”, comentou outra pessoa. Deixou a esposa, Shirley, três filhos e netos.

Gabriele Righetti Neto

Gabriele Righetti Neto| CRM-PR

Ultimamente atuando no Mato Grosso, Gabriele Righetti Neto iniciou sua carreira em Curitiba, onde concluiu o curso de Medicina, em 1998, pela Faculdade Evangélica. Quis o destino que fosse na capital paranaense sua despedida, aos 45 anos de idade, por complicações decorrentes de Covid-19. Ao longo de sua carreira, fez residência em São Paulo e trabalhou ainda no Mato Grosso do Sul, antes de se mudar, em 2005, para o Mato Grosso, onde atuou nas cidades de Guarantã do Norte e Juara, município de 35 mil habitantes onde vivia desde então. Em março deste ano, ele havia sido incorporado ao programa médico de atenção básica do Ministério da Saúde, segundo o CRM-PR.

O profissional estava internado na UTI do Hospital da Cruz Vermelha e faleceu no dia 16 de julho. O Hospital e Maternidade São Lucas, em Juara, emitiu nota de pesar, destacando os mais de 10 anos de atuação do profissional na instituição. “Muito respeitosamente, prestamos as nossas condolências e deixamos os mais sinceros pêsames à família. Sentimos profundamente a partida de um profissional dedicado e extremamente competente, que nos deixa lições de profissionalismo e cuidado ao próximo”. Vários colegas de trabalho e pacientes também se manifestaram nas redes sociais, lamentando a perda e destacando o seu compromisso com a profissão. Ele era irmão da também médica Giovanna Paola Righetti Alboite, que trabalha em Curitiba.

Gerson Marcio Negrissoli

Gerson Marcio Negrissoli| Reprodução/Facebook

Nascido em Cruzeiro do Oeste, no Noroeste paranaense, Gerson Marcio Negrissoli formou-se em Medicina, em 1994, pela Universidade Católica de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Atuou inicialmente em Rondônia e retornou a seu estado natal em março de 1997. Chegou a ser prefeito de Alto Piquiri entre 2009 e 2012 e teria completado 52 anos nesta sexta-feira (28). Segundo a secretaria de saúde do município, Dr. Gerson apresentou os primeiros sintomas de Covid-19 no início de julho e, em seguida, testou positivo para a doença. No dia 20 daquele mês, com o agravamento do quadro, foi transportado até o Hospital Cemil, em Umuarama, mas não resistiu, deixando esposa e um filho.

A prefeitura municipal de Alto Piquiri decretou luto oficial. O prefeito, Luis Carlos Borges Cardoso, expressou suas condolências em suas redes sociais. A prefeitura de Guaíra, município vizinho onde Dr. Gerson também trabalhava, publicou nota manifestando pesar pela morte. “O município, em nome de todos os servidores municipais, lamenta o falecimento e presta as mais sinceras condolências aos familiares e amigos pela inestimável perda”. Uma ex-colega comentou sobre a memória que tem do médico em uma rede social. “Trabalhei com ele na saúde. Só tenho lembranças boas, do médico e pessoa extraordinária que foi. Meu coração está em luto. Que Deus possa confortar toda família e lhe dê o descanso eterno”, escreveu.

Lucas Pires Augusto

Lucas Pires Augusto com a família| Arquivo pessoal

Com apenas 32 anos, Lucas Pires Augusto foi o mais jovem dos médicos que atuavam no Paraná a falecer com o novo coronavírus. Formado pela UFPR, especialista em neurocirurgia, ele atuava na região de Ivaiporã. Já com o diagnóstico de Covid-19, pouco antes de ir para a UTI do Hospital Maringá, no dia 27 de julho, ele postou uma mensagem que comoveu o país. “Estou indo neste momento para a UTI, devido a um agravamento do caso de Covid-19. Ficarei incomunicável, mas desde já agradeço aos amigos pelas orações. Peguei essa doença fazendo o que amo, cuidando dos meus pacientes com amor e dedicação. Faria tudo outra vez. Sei que meu Deus é soberano sobre todas as coisas, seus caminhos e propósitos são sempre justos e perfeitos e que no fim todas as coisas contribuem justamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Rm 8:29. Amém.”

O médico era pai de duas crianças, Benjamin e Isabella. “Ele era brilhante, cheio de vida e de sonhos, apaixonado pela esposa e pelos filhos”, conta sua única irmã, Gabriela Augusto Pinto. “Estava super feliz com a menininha que nasceu há 2 meses”. Nascido no Rio de Janeiro, cresceu em Cataguases, Minas Gerais, e escolheu a UFPR para estudar Medicina. Em 2013 mudou-se para Ribeirão Preto, São Paulo, onde fez residência em neurocirurgia na Universidade de São Paulo (USP). Participou de uma delicada cirurgia, em 2018, que separou as gêmeas siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, que nasceram unidas pela cabeça. Foi infectado com o novo coronavírus no atendimento a um paciente que testou positivo dias depois de uma consulta. “Cada dia que passa é mais difícil pra mim acreditar que ele se foi”, diz Gabriela.

Vicente Lúcio Viana Lopes

Vicente Lúcio Viana Lopes| Arquivo pessoal

Natural de Rio Negro, onde nasceu em 11 de abril de 1941, o pediatra Vicente Lúcio Viana Lopes continuava na ativa até o início do ano. “Era um médico que não existe mais hoje em dia, que atendia os pacientes de madrugada na própria casa”, conta o dentista Luiz Vicente de Moura Lopes, um dos três filhos. “Depois de sua morte, recebemos inúmeras mensagens que falavam sobre a forma que ele atendia, a tranquilidade que ele passava para as milhares de famílias que atendeu.” Com o início da pandemia do novo coronavírus, Dr. Vicente interrompeu os atendimentos, mas estava ansioso para voltar a trabalhar, segundo Luiz. “Ele amava o que fazia”.

Formado em Medicina pela UFPR em 1964, fez estágio no berçário do Hospital de Clínicas (HC) e no Centro de Pesquisas Imunológicas da Faculdade de Medicina da USP. Foi voluntário na disciplina de Clínica Pediátrica e Higiene Infantil do Setor de Saúde da UFPR, de 1966 a 1971, tornando-se em seguida auxiliar da disciplina de Higiene, Medicina Preventiva e do Trabalho, e passando, em 1977, a professor assistente na disciplina de Saúde Comunitária, cargo que exerceu até 1996. Em 2014, por ocasião de seus 50 anos de atividade, foi homenageado pelo CRM-PR com o Diploma de Mérito Ético-Profissional, por seu histórico exemplar. “Era um ser humano fantástico, por seu carinho, sua bondade com as crianças e suas famílias”, lembra Luiz.

Da Gazeta do Povo

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