Para salvar esposa da Covid-19, brasileiro desenvolve respirador mecânico
“Com idas frequentes ao hospital desde a infância devido às fortes crises de bronquite, Andrea Gasperi Petruy sabia que poderia desenvolver inúmeras complicações se fosse infectada pelo novo coronavírus que se alastrava pelos países asiáticos e europeus. No entanto, sua preocupação se multiplicou quando a doença também chegou ao Brasil e vários estados começaram a decretar isolamento social. “Aí veio aquele pavor e a sensação terrível de que eu realmente morreria se pegasse a Covid-19”, relata a moradora de Londrina, no Paraná.
De acordo com seu marido, Rômulo Petruy, o casal estava no litoral do estado em março quando viu os estabelecimentos comerciais pararem e a quarentena efetivamente começar por volta do dia 25. “Tínhamos chegado na quinta-feira e fomos obrigados a vir embora no sábado, porque a praia foi fechada”, recorda, ao afirmar que as notícias se intensificaram a partir daquele dia e algumas mensagens enviadas por uma amiga da área da saúde os deixou ainda mais preocupados. “Ela disse que, se soubéssemos a quantidade de respiradores mecânicos disponíveis nos hospitais, nós não sairíamos de casa para nada. Aí que minha esposa se desesperou”.
Andrea havia sofrido duas crises de bronquite naqueles dias e não parava de pensar em como seu organismo reagiria diante do novo vírus, principalmente com um número tão reduzido de ventiladores mecânicos à disposição nos serviços de saúde. Por isso, seu marido prometeu que ele mesmo desenvolveria um equipamento de última geração para a companheira a fim de que ela ficasse tranquila e tivesse o recurso em caso de necessidade. “Eu não sabia como, mas ia fabricar”, conta.
“Eu não sabia como, mas ia fabricar”, conta o empresário Rômulo Petruy.
Proprietário de uma empresa de automação industrial com 29 anos no mercado, ele estava acostumado a desenvolver equipamentos para fábricas de tinta, extintores e alimentos, mas nunca havia trabalhado com produtos médicos. Então, assim que chegou em casa, iniciou uma vasta pesquisa, convidou o engenheiro elétrico Thiago Abrão Lopes para ajudá-lo no projeto, desenvolveu uma proposta e começou a apresentá-la aos hospitais da cidade.
“Teve dias que comecei a trabalhar às 8 horas e só parei perto da meia-noite”, relata o empreendedor, que manteve a extensa rotina por várias semanas e conseguiu apoio do Hospital do Câncer de Londrina (HCL) para iniciar a construção do protótipo.
Segundo ele, o maior desafio foi projetar um equipamento com peças disponíveis no Brasil, já que diversos itens essenciais para o funcionamento dos ventiladores mecânicos precisam ser importados de países como Itália, Estados Unidos ou China. “Um deles, por exemplo, é a válvula que mistura o oxigênio com o ar, e nós conseguimos desenvolver essa tecnologia aqui”, comemora.
Além disso, seu respirador foi construído em aço inox, que pode ser desinfetado facilmente e está disponível em grande escala nos estados brasileiros. “Isso fez com que produzíssemos rápido e com um custo, pelo menos, 30% inferior ao dos equipamentos que estão sendo vendidos hoje no mercado”, afirma o comerciante, ao citar como exemplo respiradores de 180 mil reais adquiridos recentemente pelo governo de São Paulo.
Tecnologia de ponta
No total, seu protótipo pesa quase 30 kg e tem cerca de 1,70 metro de altura, medidas equivalentes às de ventiladores mecânicos profissionais desenvolvidos na Alemanha. “E tudo feito com peças de última geração”, garante Petruy, que iniciou a fase oficial de testes do equipamento na última quinta-feira (28). De acordo com ele, o processo é realizado por empresas especializadas na aferição de respiradores e, assim que terminar, lhe dá “carta branca” para testar o produto em pacientes atendidos pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Câncer”.
A máquina deve passar ainda por outros três hospitais antes de receber credenciamento para produção em larga escala, e o objetivo do brasileiro é iniciar a fabricação no mês de junho. “E, se tudo certo, queremos começar produzindo entre 200 e 500 unidades por mês”, adianta o empresário, convicto de que o produto fará diferença no tratamento de muitos pacientes. “Eu sei que, além de proteger minha esposa, posso ajudar outras pessoas. Então, minha luta hoje não é para montar uma empresa, mas é para salvar vidas”, finaliza.
Da Gazeta do Povo