Quase 92% dos municípios paranaenses não têm UTI, aponta mapeamento da Covid-19 coordenado por Geógrafo em Maringá
Análises de dados do DATASUS também mostram que 57% das cidades não têm ventilador mecânico e que 36% não têm nenhum leito
Geógrafos de todo o país da rede de cientistas e laboratórios nomeada “Geografia da Saúde” estão unidos com médicos, enfermeiros e estatísticos dando suporte fundamental à análise espacial da Covid-19. São 61 pesquisadores brasileiros e até do exterior, como de Portugal. As análises em Maringá são feitas pelo Grupo de Estudos e Pesquisa Ambiente, Sociedade e Geotecnologias (Gepag), com apoio da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Em quase dois meses de trabalho, os estudos mostraram que 91,7% dos municípios paranaenses não têm UTI; que 57% das cidades não têm ventilador mecânico e que 36% não têm leito de nenhuma espécie. Os dados analisados são do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DATASUS), do Ministério da Saúde.
Por meio do geoprocessamento e da Cartografia, os pesquisadores do Gepag estão monitorando a expansão da doença na cidade e apoiando a Secretaria Municipal de Saúde de Maringá na elaboração dos boletins epidemiológicos. É que a Geografia permite analisar a posição relativa que os indivíduos ocupam no espaço e criar estratégias diante dos fenômenos físicos e humanos.
Segundo o Geógrafo Oseias da Silva Martinuci, professor da UEM e coordenador da pesquisa em Maringá, o trabalho reforça a importância do saber técnico e científico dos profissionais no combate ao novo Coronavírus. “Diante da possibilidade de ocorrência de processos pandêmicos/epidêmicos como os que estamos vivendo, saber de antemão as possíveis rotas e pontos de dispersão espacial são fundamentais para antecipar respostas”, afirma.
Os estudos da rede de Geógrafos são feitos em escala nacional e estadual e a produção cartográfica tem ajudado o poder público a entender a situação de saúde em cada região e a tomar medidas para reduzir a transmissibilidade do vírus ao identificar as áreas com maior concentração de casos. Em relação ao interior do Estado, os dados levantados pelo Gepag causam preocupação. “Comparando com o Estado de São Paulo, a velocidade de difusão do vírus pelos municípios do Paraná está sendo notadamente maior. Na quarta semana, contada a partir do primeiro caso confirmado, o Estado teve quatro vezes mais municípios infectados que o estado de São Paulo. Lá foram 21 casos, enquanto o Paraná teve 84”, esclarece Martinuci.
A situação na macrorregião do Noroeste paranaense é ainda mais alarmante, pois apresenta taxas de letalidade mais altas. “É onde tem temos a segunda maior taxa de contaminação dos municípios (51%), atrás apenas da macrorregião Leste (60%)”, ressalta. Ele ainda complementa que em 12 de abril, esta relação entre o número de óbitos e casos confirmados na macrorregião Noroeste chegou a 12,35%, quase o dobro da macrorregião Norte, onde está localizada Londrina, que registrou a segunda maior taxa, com índices de 6,93%, segundo o pesquisador. Na macrorregião Leste, que compreende Curitiba, o índice foi de 2,29%.
O mapeamento evidência que a Geografia vai além da sala de aula. Muitos inclusive não sabem, mas o profissional da Geografia, o Geógrafo, integra o Sistema Confea/Crea e possui um saber técnico fundamental para a sociedade. Talvez, uma das lições da pandemia seja a de evidenciar essa Ciência, que descreve, analisa e antecipa acontecimentos no território. Para o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), o trabalho realizado pela rede de pesquisadores “Geografia da Saúde” tem sido de suma importância para a população e para o poder público neste momento de pandemia.
O gerente da Regional Maringá da autarquia federal, Engenheiro Civil Hélio Xavier da Silva Filho, acredita que o envolvimento e as iniciativas dos profissionais vinculados ao Conselho, como os Geógrafos, subsidiam a tomada de decisão das autoridades, bem como são fundamentais para vencermos com melhores práticas, boa técnica e inteligência este momento de pandemia.
Como Geógrafo, Martinuci espera que, em meio à tragédia atual, tenhamos a revalorização do saber técnico e científico geográfico e, em consequência, o aumento do interesse da população pela Geografia, que ele destaca como uma profissão empolgante e desafiadora, cientificamente, tecnicamente e tecnologicamente.
Segundo dados do Crea-PR, o Paraná tem 403 Geógrafos habilitados. Deste total, 38 estão registrados na região Noroeste do Estado, onde está a UEM e o Grupo de Estudos e Pesquisa Ambiente, Sociedade e Geotecnologias (Gepag).
CREA Paraná/Carina Bernardino