A ilha mais assombrada do mundo fica em Veneza (e está à venda!)

A lagoa veneziana abriga uma misteriosa ilha abandonada, objeto de muitas fantasias horripilantes: vala comum da peste, hospital psiquiátrico, fantasmas…

Alvo de múltiplas especulações, esta ilha considerada assombrada atrai viajantes do mundo todo. Antigo local de exílio para os doentes da peste, asilo psiquiátrico onde teriam sido praticadas lobotomias por um médico louco — cujo fantasma ainda pairaria no ar após seu desaparecimento — os boatos sobre Poveglia se espalham e atraem curiosos, envolvendo essa ilha abandonada com uma aura tão inquietante quanto fascinante. Como separar o real do fictício entre as muitas lendas populares que a cercam? Aqui estão as respostas para suas perguntas.

No século XVIII: uma zona de quarentena para a peste

VERDADEIRO: Este território de 7 hectares teria sido habitado desde o século I da nossa era, até que seus ocupantes fugiram da guerra entre Gênova e Veneza, no século XIV. Pouco depois, a ilha se tornou um ponto estratégico de defesa e foram construídos em seu solo diversos fortes octogonais. No século XVIII, ela deixou de ser um reduto militar para se tornar uma estação de quarentena para marinheiros e viajantes, onde os navios com destino a Veneza eram inspecionados em busca de doentes com peste. Posteriormente, passou a ser usada como zona de quarentena para os infectados.

FALSO: Mitos locais afirmam que a ilha seria formada, desde então, por ossos humanos em 50% de seu solo. Segundo essas mesmas crenças, o ossuário conteria mais de 160.000 corpos, lançados e amontoados em valas, alguns ainda vivos e/ou queimados. Essa informação, porém, não é verificável com base em fontes confiáveis.

No século XIX: um asilo psiquiátrico dirigido por um médico louco

FALSO: É nesse momento da história que os fatos se confundem, muitas vezes dando lugar ao mito. De fato, a ilha foi usada para conter a epidemia de peste, mas ela não se tornou, como afirma a lenda, um asilo psiquiátrico no século XIX. Segundo um conto que ultrapassou fronteiras, Poveglia teria abrigado “loucos”, vítimas de experimentações cruéis realizadas por um médico. Após realizar várias lobotomias em seus pacientes, esse médico teria enlouquecido, se jogado de uma janela e morrido não pela queda, mas por um desaparecimento inexplicável em uma névoa invisível. Seu fantasma assombraria, desde então, os muros abandonados do suposto hospital.

VERDADEIRO: Na realidade, os edifícios abrigaram um asilo, ou uma residência para idosos, até o fechamento do local, na década de 1960. Essa versão, embora menos romântica, é verdadeira — mas não convence os viajantes ávidos por mistérios sobrenaturais. Influenciadores do mundo inteiro vão até a “ilha assombrada” de Poveglia para sentir a presença do médico-fantasma e compartilhar suas experiências com seus seguidores nas redes sociais.

No século XX: um leilão impossível

VERDADEIRO: Na década de 1970, Poveglia foi abandonada, o que levou as autoridades italianas a interditarem seus edifícios e restringirem a navegação ao redor da ilha. Sem grandes preocupações quanto ao seu futuro, o Estado colocou-a à venda em leilão nos anos 2010, mas permaneceu sem compradores até 2014, quando um rico empresário italiano, autodenominado “Mister X”, ofereceu 513 mil euros pela compra.

Paralelamente, uma associação de habitantes venezianos e italianos chamada Poveglia per tutti (“Poveglia para todos”) se organizou para salvar a ilha, arrecadando 120 mil euros — valor insuficiente para competir com Mister X, cujo plano era construir um hotel de luxo no local.

Como nenhum dos lados apresentou um projeto sólido o suficiente, o Estado optou por não vender a propriedade a nenhuma das partes, cancelando o leilão. A identidade de Mister X foi revelada um ano depois, quando ele assumiu a prefeitura de Veneza, em 2015.

Hoje: a luta dos moradores de Veneza por sua sobrevivência

VERDADEIRO: Desde então, a associação Poveglia per tutti continua mobilizada para revitalizar a ilha por meio de diversas atividades e para conscientizar sobre a importância de sua preservação. Estima-se que 450 mil euros já tenham sido arrecadados.

O objetivo: combater a privatização dos diferentes territórios da lagoa veneziana, o que leva à gentrificação e, consequentemente, ao despovoamento local. Em 2022, a população de Veneza caiu para menos de 50 mil habitantes, enquanto o turismo de massa forçava, no mesmo ano, as autoridades a regularem os visitantes.

Via: Casa Vogue _{^{(*Matéria publicada originalmente na AD França)}}