Com motores 1.0, bom espaço interno e preços estimados entre R$ 90 mil e R$ 120 mil, maior lançamento da marca nos últimos anos quer ser o carro mais vendido do Brasil
A história da Volkswagen no Brasil pode ser dividida em eras. A primeira, do Fusca, durou de 1959 a 1986, período em que o veículo foi, por muito tempo, o mais vendido do país. Depois a de seu sucessor, o Gol, de 1980 a 2023, que liderou o mercado por 27 anos e também atingiu o status de um dos carros mais populares de nossa história. Agora, começa uma nova fase. É hora do Tera.
O SUV de entrada acaba de ser apresentado com um nome não apenas familiar à informática como excelente para dimensionar sua importância para a marca alemã. Na matemática cibernética, 1 terabyte é equivalente a 1 trilhão de bytes. Em uma comparação básica, o computador Commodore VIC-20, lançado em 1980 (mesmo ano do Gol) e primeiro PC a vender um milhão de exemplares, tinha “incrível” memória RAM de 5 kB, algo revolucionário para a época.
No caso do Volkswagen, milhares de Tera serão necessários para fazer dele o carro mais vendido no Brasil. Logo, a marca alemã fez questão de repetir parte da fórmula de sucesso do Gol, começando pela produção na fábrica de Taubaté (SP).
Só motores 1.0
Para ter um volume considerável e ser popular, recorreu ao “motor mil”, em duas especificações: aspirada, de 84 cv, ou turbo, de 116 cv, ambas flex. O câmbio será manual de cinco marchas na primeira opção e manual ou automático (de seis marchas) na segunda.
Se os motores já são velhos conhecidos, a nova estrela da Volkswagen traz as devidas atualizações que o ano de 2025 exige. Começando pela carroceria, que se distanciou dos hatches e crossovers para ser um SUV de entrada.
Mas não se engane: por baixo da “casca” cheia de músculos existe a versátil plataforma MQB A0, usada no Polo, no Nivus, no T-Cross e em uma série de outros carros compactos do grupo Volkswagen, inclusive no Skoda Fabia.
Dele vieram as folhas internas das portas e parte da estrutura da carroceria. Já a coluna A tem a mesma inclinação do Polo, mas não há qualquer chapa aparente em comum entre esses modelos. O Tera foi criado do zero pela equipe de design da Volks, liderada por JC Pavone, orgulhoso “pai” do SUV.
Segundo Ciro Possobom, presidente da Volkswagen no Brasil, 81% dos componentes do Tera serão nacionalizados.
Por mais que a Volkswagen tenha a fama de desenvolver diversos veículos com a mesma cara, com o Tera Pavone teve uma tela em branco. O inédito SUV de entrada inaugura a nova identidade visual da empresa no Brasil. Então, não só é possível como provável que os próximos lançamentos da VW tragam esse estilo — a começar pela grade menor e quase fechada, acompanhada de uma generosa tomada de ar no para-choque, adornada por uma espécie de gancho na cor da carroceria.
A equipe de materiais utiliza uma série de elementos de plástico fosco de tom acinzentado, em vez de preto brilhante. Junto com as generosas bordas nas caixas de roda, reforçam a sensação de robustez. Para tirar impressões de ser um carro barato, o plástico tem ranhuras, que simulam uma textura mais refinada.
Tal estratégia também foi usada na cabine, melhorando um ponto em que a Volkswagen costuma ser muito criticada. Mas não nos apressemos. É preciso apresentar o restante da carroceria do Tera. Nas laterais, em vez de portas praticamente lisas há vincos abaixo da linha de cintura e logo acima da base. Na traseira, a dobra superior acompanha a borda de cima da lanterna, que tem uma barra em preto brilhante ligando as peças, como quase todo carro novo em 2025.
Porém, ao contrário de T-Cross e Nivus, as lanternas não são bipartidas nem interligadas por uma barra iluminada. Mas não é preciso ser um gênio como Steve Jobs para saber que muita gente vai apelar para o mercado de customização a fim de resolver essa questão.
Particularmente, achamos a traseira do Tera o seu ângulo mais bonito e fotogênico. As lanternas são pequenas, diferenciando suficientemente bem o SUV dos demais modelos da marca. Há ainda um truque simples, mas interessante, chamado click clack, que alterna as placas de LED quando a luz de posição está acesa e o motorista aciona o pedal de freio.
Nas imagens iniciais de divulgação, o Tera aparece em duas cores inéditas: um vermelho cereja e um prata que chega a parecer azul. O detalhe mais legal, no entanto, é a gravura no vidro traseiro, que dimensiona o Tera na história da Volkswagen. A silhueta do SUV aparece ao lado de outras duas: Gol e Fusca. Precisa dizer mais?
Há outros easter eggs na cavidade da maçaneta da porta do motorista e abaixo da luz no porta-malas. Já que mencionamos o bagageiro, seu volume não foi divulgado, mas podemos estimar que ficará no meio do caminho entre os 300 litros do Polo e os 419 l do Nivus. Algo como cerca de 350 litros seria um palpite prudente.
Antes de chegar ao interior do Tera, falemos de cores. O vermelho do carro das fotos é um tom inédito, chamado Hypernova. É uma das três cores de lançamento do SUV, junto de Prata Lunar e Azul Ártico. O restante da gama de cores não foi divulgado, mas ela será bem menos chamativa do que a do Apple iMac G3, de 1998. Podemos esperar por uma paleta padrão das fabricantes, composta de branco, preto e dois tipos de cinza ou prata.
Por dentro, o acabamento passa longe de ter os materiais caprichados dos aparelhos topo de linha de Apple e Samsung, mas não podemos dizer que é descuidado. Tão criticada nesse aspecto, a Volkswagen finalmente adotou uma estratégia para tornar o plástico rígido mais bonito.
Para isso, usou diferentes texturas em partes distintas da cabine. Há tiras de vinil que atravessam o painel e também estão nas portas laterais dianteiras. É uma tática similar à utilizada pela Fiat na família Argo, Pulse e Fastback. mas com uma execução bem mais cuidadosa, sem rebarbas ou vãos grandes demais.
Versões e equipamentos
A versão que a Volkswagen mostrou é a topo de linha, High (isso mesmo, High, como no Up!), com o pacote opcional Outfit, o mesmo do Nivus. Traz iluminação de LED ambiente no painel, algo inédito em modelos nacionais da marca. O pacote de equipamentos também é digno de veículos mais caros.
Nas imagens, é possível observar faróis de LED, chave presencial (com botão nas maçanetas), partida por botão, ar-condicionado digital e um pacote respeitável de segurança ativa.: câmera e módulo no emblema para frenagem de emergência e controle de cruzeiro adaptativo (ACC) , alerta de colisão frontal, sensores de ponto cego nos retrovisores externos, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro e câmera de ré.
Pelas imagens de divulgação, vê-se que o Tera Outfit será equipado com duas telas digitais de 10″, uma para o quadro de instrumentos Active Info Display e a da central multimídia VW Play Connect. Qualquer uma pode processar milhares de vezes mais informações do que o IBM PC, de 1981.
E, já que estamos no tema da tecnologia, vai uma pitada de nostalgia. Na central VW Play Connect, por meio da loja de aplicativos é possível baixar jogos como o famoso da cobrinha, tão popular no Nokia 2280 de duas décadas atrás, quando o Gol ainda reinava no mercado brasileiro.
Espaço interno e dimensões
Tal qual o Nokia “tijolão”, a Volks espera que o Tera tenha fama de carro robusto. Para isso, atendeu aos anseios do consumidor na base da pirâmide dos carros novos. A montadora não revelou as medidas oficiais, mas sabemos que o Tera será mais alto que o Polo em relação ao solo, na posição de dirigir e na própria carroceria.
Vale lembrar que os dois compartilham a base estrutural. Por isso, o entre-eixos de 2,57 metros será o mesmo. Logo, o espaço interno é similar ao do hatch. Ou seja, acima do esperado para um carro compacto. O comprimento também crescerá alguns centímetros, em virtude dos balanços maiores. Espere algo perto de 4,13 m.
Na prática, o Tera será o sucessor do Gol e também do Polo. Nesse primeiro momento, Tera e Polo vão dividir as linhas de produção de Taubaté (SP).
Uma curiosidade é que a Volkswagen fez uma brincadeira na numeração de chassi do SUV, que começa com TT, iniciais de Tera Taubaté.
Contudo, a expectativa é de que, daqui a alguns anos, o hatch perca espaço e sobreviva apenas em versões de entrada.
Neste momento, é cedo para dizer se o plano será bem sucedido. Nosso contato com o SUV de entrada foi meramente visual, sem possibilidade de dirigir o veículo. Tudo isso deve acontecer apenas em maio, quando o Tera chega às lojas.
Na ocasião, também vamos descobrir se nossa estimativa de preços, entre R$ 100 mil e R$ 130 mil, está correta. Aí poderemos entender se o Tera fará mesmo jus ao legado dos dois campeões de vendas que estão “tatuados” em seu vidro traseiro.
Versões
Por enquanto, a Volkswagen apresentou apenas a versão topo de linha, High, equipada com os pacotes Outfit e Adas, os dois opcionais da configuração. Não foi possível dirigir. Além desta configuração, o Volkswagen Tera deve ter ainda outras três opções no catálogo, conforme exibido pela própria marca na apresentação. São elas:
- MPI – equipada com motor 1.0 aspirado e câmbio manual de cinco marchas;
- TSI – equipada com motor 1.0 turbo e câmbio manual de cinco marchas ou automático de seis;
- Comfort – equipada com motor 1.0 turbo e câmbio automático de seis marchas;
- High – equipada com motor 1.0 turbo e câmbio automático de seis marchas;
Equipamentos
Neste primeiro momento, a Volkswagen forneceu apenas a lista de equipamentos do Tera Outfit com o pacote Adas. A lista é bem recheada e traz itens incomuns para o segmento, como iluminação ambiente (só o Kardian tem), retrovisor eletrocrômico, sensor de chuva e alerta de saída de faixa com correção no volante (só SUVs compactos mais caros possuem). Confira abaixo a relação completa:
- 6 airbags
- Controlador de velocidade adaptativo (ACC)
- Frenagem autônoma de emergência (AEB)
- Ar-condicionado digital
- Assistente para partida em subidas
- Banco do motorista com ajuste de altura
- Banco traseiro com encosto bipartido e rebatível
- Câmera de ré
- Carregamento de celular por indução
- Volante com ajustes de altura e profundidade
- Descanso de braço dianteiro
- Direção elétrica
- Retrovisor interno eletrocrômico
- Faróis de LED com acendimento automático
- Iluminação ambiente de LED
- Quadro de instrumentos digital de 10,25″
- Rack de teto funcional
- Rodas de liga leve de 17”
- Sensores de estacionamento traseiros e dianteiros
- Sensor de chuva
- Acesso por chave presencial
- Partida do motor por botão
- Central multimidia “VW Play” com tela de 10,1″
- Detector de fadiga
- Start-Stop
- Vidros elétricos dianteiros e traseiros com função “one touch” nos dianteiros
- Volante multifuncional com shift paddles
- Freios a disco nas quatro rodas
Opcionais
Pacote Outfit
- Bancos com revestimento premium com inserto Outfit;
- Rodas de liga leve 17″ escurecidas;
- Teto e retrovisores pintados em preto
Pacote Adas
- Assistente ativo de mudança de faixa;
- Câmera multifuncional;
- Detector de ponto cego com assistente de saída de vaga