Turismo médico e de beleza é uma importante fonte de receita para o país asiático
No início do ano, Yerim Lee desembarcou em Seul, na Coreia do Sul, com a intenção de passar cerca de uma semana lá com sua família extensa — e de se submeter a um regime sério e acelerado de tratamentos de beleza.
Lee disse que fez 15 procedimentos no intervalo de três dias durante sua viagem, compartilhando a lista em um vídeo no TikTok de sua conta, @taxinoodle, que agora tem mais de 1,2 milhões de visualizações.
Não é segredo que Seul se tornou uma capital mundial da beleza nos últimos anos, conhecida por seu foco em cuidados com a pele e maquiagem, além de suas famosas clínicas de cirurgia plástica. Mas procedimentos não invasivos ou minimamente invasivos também se tornaram uma maneira popular de alcançar um visual naturalmente impecável, enfatizando traços delicados e hiper-femininos, pele radiante e cabelos brilhantes.
“Muitas mulheres fazem esses tratamentos a cada poucas semanas (para) suas unhas ou cabelos”, disse Lee, referindo-se à manutenção regular de manicure, depilação corporal e escova — alguns dos quais se transformaram em indústrias bilionárias na Coreia do Sul. “Esses procedimentos existem há muito tempo.”
À medida que os padrões do que é considerado bonito continuam a mudar, injetáveis cosméticos e o tipo de tratamentos que ela realizou também se tornam cada vez mais comuns, acrescentou.
Lee, que foi criada na Coreia do Sul até os 11 anos de idade e agora mora na cidade de Nova York, começou a fazer tratamentos de beleza nos EUA. “Agora que estou na casa dos 20… comecei a fazer um pouco de botox aqui e ali, mas prefiro fazer na Coreia porque o preço é imbatível”, disse ela. Ela voa regularmente para fazer pequenos retoques, mas nunca tinha voltado para fazer tantos de uma só vez até este ano.
“O benefício do preço — você não pode ignorar isso”, disse Lee. “Comprar uma passagem para a Coreia para fazer botox e preenchimento é honestamente mais barato do que fazer isso aqui.”
Embora os custos adicionais de uma passagem de avião e estadia em hotel possam não ser mais baratos do que uma única consulta em casa, as economias podem se acumular em vários tratamentos. O botox na testa, maxilar e sobrancelhas de Lee custou cerca de US$ 70 [cerca de R$ 385, em preços de agosto de 2024] em Seul, por exemplo. A mesma quantidade de botox custaria entre US$ 500 e US$ 1.400 [de R$ 2800 a R$ 7.700] na cidade de Nova York.
Para alguns, há o benefício de poder viajar enquanto também faz esses tratamentos mais baratos; na economia de criadores de conteúdo, também há valor (como vídeos monetizados) em compartilhar essas jornadas nas redes sociais. Influenciadores oferecem dicas sobre os melhores tratamentos para reservar quando você tem apenas alguns dias no país ou filmam seus “dias de transformação”, reforçando constantemente a questão da acessibilidade e das tecnologias inovadoras. “Você realmente foi à Coreia se não fez uma limpeza de pele?”, perguntou um usuário do TikTok em seu vlog de transformação.
“Está se tornando mais comum, e meio que uma tendência, falar abertamente na Coreia sobre quais procedimentos você faz e compartilhar dicas”, acrescentou Lee. Devido às rígidas leis de publicidade da Coreia do Sul, as clínicas muitas vezes dependem do boca a boca, então Lee contou com amigos e familiares para recomendações. “Golpes de beleza também são muito comuns”, acrescentou. “Então isso pode tornar mais difícil para as pessoas que estão visitando ou não falam o idioma.”
Lee está atualmente desenvolvendo um site e banco de dados para fornecer dicas e recursos para pessoas interessadas em viajar para a Coreia do Sul para tratamentos de K-beauty, a fim de ajudar quem não fala coreano.
O turismo médico e de beleza é uma importante fonte de receita para o país. No ano passado, o Ministério da Saúde e Bem-Estar da Coreia do Sul anunciou que facilitará os procedimentos de imigração para turistas que venham ao país com fins médicos, incluindo cirurgias estéticas, visando atrair 700.000 turistas médicos até 2027. No mês passado, o ministério anunciou que o número de turistas que visitaram a Coreia do Sul para procedimentos estéticos atingiu um recorde histórico de 605.768 em 2023 — um aumento de 144,2% em relação ao ano anterior.
Não se deixe levar apenas pelos preços baixos, faça sua pesquisa
Isso significa que os produtos e serviços disponíveis estão se expandindo — e podem até ser “esmagadores”, observou Lee, embora a concorrência tenha ajudado a reduzir os preços. Os procedimentos de Lee custaram a partir de US$ 19 [cerca de R$ 100]. Dito isso, os consumidores devem estar atentos a tratamentos muito baratos. Os fornecedores se dividem amplamente em duas categorias, disse ela: clínicas de fábrica e clínicas boutique. “(Nas) clínicas de fábrica, você não vê um médico — você sabe exatamente o que está lá para fazer”, explicou. Você pode entrar e sair em 10 minutos… É para pessoas que sabem o que estão fazendo, e essas clínicas são muito mais baratas.”
“Para viajantes ou iniciantes, eu as evitaria”, acrescentou. “Você deve fazer sua pesquisa e deve sentar-se com um médico que possa lhe dizer o que você deve procurar.”
No entanto, Lee disse que quando foi a clínicas boutique, ela conseguiu conversar com um profissional médico antes de cada procedimento, aprendendo exatamente o que o injetável, laser ou tratamentos fariam em seu corpo e recebendo uma explicação mais detalhada sobre o que esperar do procedimento e do processo de cura. Muitas clínicas boutique, ela notou, também tinham melhores opções para não falantes de coreano.
Uma odisseia de K-beauty para a era das redes sociais
Lee visitou seis clínicas diferentes, a maioria localizada no bairro de Gangnam, em Seul, que há muito é conhecido por seus moradores ricos e ênfase na beleza (e, claro, foi a inspiração para o sucesso viral de 2012 do astro do K-pop Psy, “Gangnam Style”). “Todo anúncio e outdoor que você vê será de uma clínica de cirurgia plástica ou algo assim”, disse Lee sobre a área. O termo “Gangnam unnie” (irmã de Gangnam) surgiu há anos para descrever pacientes enfaixados — aqueles que fizeram procedimentos mais drásticos — saindo de uma das muitas clínicas de cirurgia plástica do distrito. Desde então, tornou-se um termo pejorativo, “como, você parece falsa e de plástico”, explicou Lee.
Ela começou com uma consulta para fazer microblading nas sobrancelhas (US$ 225), antes de visitar um centro de visão para medir suas íris. (O serviço, oferecido a Lee gratuitamente, é feito para ajudar os consumidores a comprar o tamanho certo de lentes coloridas.)
Em sua próxima parada, Lee foi colocada sob anestesia geral para se submeter a uma série de tratamentos em uma clínica de cirurgia plástica. Esta foi a sua visita mais intensiva, disse ela — imaginando que seria melhor aproveitar ao máximo enquanto estava sob anestesia. Todos os procedimentos foram direcionados ao seu rosto: três tipos de injetáveis de “skin booster” que promovem o colágeno, incluindo Juvelook (um frasco, US$ 400), Juvelook Volume (dois frascos, US$ 830) e Rejuran Healer (um frasco, US$ 330); botox (US$ 70) na testa, maxilar e entre as sobrancelhas; lasers de CO2 (US$ 8) que removeram pintas do rosto e do pescoço; e 600 disparos de Ultherapy (US$ 1.275), um tratamento de ultrassom destinado a estimular a produção de colágeno e definir os traços.
“O Ultherapy é conhecido por ser o procedimento mais caro e eficaz, bem como o mais doloroso”, disse ela. “Foi o que me deixou com mais hematomas e inchaço depois. Sei que algumas pessoas fazem isso sem anestesia e sempre vejo vídeos de pessoas chorando. Eles te dão um bichinho de pelúcia muito fofo para segurar.”
Em uma segunda clínica de cirurgia plástica, Lee fez mais alguns procedimentos focados no corpo, incluindo botox no músculo trapézio, conhecido como Traptox (US$ 300), para obter aquele “look de ombro de Jennie (Kim)”, disse Lee, referindo-se aos cobiçados ombros angulares da estrela do Blackpink. Ela também recebeu injeções de dissolução de gordura (US$ 150) nos braços — um procedimento muitas vezes chamado de lipólise nos EUA — e um tratamento Body InMode (US$ 600), que utiliza calor e radiofrequência para remodelar o tecido e obter um visual mais firme. Ela fez mais algumas pintas removidas com laser de CO2 (US$ 11) para encerrar o dia.
Em uma terceira clínica, Lee recebeu um tratamento adicional de InMode focado no queixo, além de mais injeções de dissolução de gordura — com o objetivo de alcançar o formato de rosto em V que se tornou um padrão de K-beauty. Esses tratamentos normalmente custariam US$ 30 e US$ 34, respectivamente, mas foram oferecidos a Lee gratuitamente em troca da possibilidade de divulgar a experiência no TikTok.
“Meus hematomas duraram duas semanas inteiras, e o inchaço não diminuiu por três semanas”, disse ela. “É difícil dizer o que teve o maior efeito no meu rosto, no entanto, porque fiz tudo de uma vez.
CNN Brasil
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