O Brasil é o maior consumidor de leite condensado do mundo. Não é de se estranhar então que nossos doces que levam esse ingrediente chave apareçam muito bem colocados em uma lista dos melhores do mundo.
O site Taste Atlas fez uma lista com 17 sobremesas com leite condensado do mundo todo e ordenou conforme as avaliações: no topo do ranking estão 5 criações brasileiras – o pudim de leite condensado ocupa o primeiro lugar, seguido pelo mousse de maracujá em segundo e o pavê em terceiro. Além do pódio, a lista ainda traz, na sequência, o brigadeiro e o beijinho. Ainda aparecem, do décimo primeiro ao décimo terceiro lugar a canjica, o cajuzinho e os sequilhos.
O site é uma espécie de enciclopédia gastronômica digital e classificação é realizada por meio das avaliações dos usuários do site, que não são necessariamente profissionais ou especialistas em gastronomia, e atribuem pontuações que variam de 0,5 a 5 a pratos típicos de diversas partes do mundo. O conjunto desses dados são utilizados para formar as médias das pontuações. A ideia do Taste Atlas é instigar orgulho na comida tradicional e o Brasil se destaca na plataforma: a picanha foi eleita o melhor prato do mundo e a caipirinha ganhou o título de melhor drink nacional. Mas a quantidade de doces elencados como melhores do mundo que tem suas raízes por aqui chama a atenção.
Como o leite condensado se tornou tão popular no Brasil
Segundo a chef Andreia Shima, coordenadora do curso de gastronomia EAD da Unicesumar e colunista da CBN Maringá, o País sempre teve predileção pelos doces, desde os tempos do “ciclo do açúcar”, iniciado na década de 1530, com a plantação de cana. Mas a chegada do leite condensado ao Brasil reescreveu a doçaria brasileira. “Temos muita influência portuguesa em uma doçaria que utilizava muito leite e muitos ovos, gemas, e passamos a adaptar essas receitas inclusive por razões de segurança alimentar e de uma propaganda política valorando produtos que vinham de fora”, explica.
O leite condensado é uma mistura semilíquida formada por leite e açúcar que é submetida a um processo de evaporação e resfriamento. Inicialmente, o ingrediente foi criado para alimentar soldados nas trincheiras, mas em pouco tempo foi parar nas mamadeiras dos bebês. O inventor norte-americano Gail Borden Jr., incomodado com a velocidade com que o leite estragava e contaminava as crianças, desenvolveu um jeito de conservá-lo extraindo a água do leite, por evaporação, e acrescentando uma grande dose de açúcar para impedir o desenvolvimento de bactérias e fungos. O produto podia ser armazenado por um longo tempo e consumido tal qual era oferecido ou então diluído novamente em água. A praticidade chamou atenção do exército, que resolveu adotar o produto como um dos suprimentos dos combatentes durante a Guerra Civil Americana.
No Brasil a importação começou na década de 1890, pela Nestlé. Em 1921 o produto começou a ser fabricado no interior paulista e as propagandas da época buscavam um novo público sugerindo o ingrediente como bebida para bebês e primeira infância substituindo até mesmo o aleitamento materno (o que hoje em dia é altamente contraindicado). As mulheres urbanas de classe média começavam a ingressar no mercado de trabalho e as receitas passadas pelas mães e avós demandavam um tempo de que já não dispunham. E havia ainda outro fator: elas queriam se diferenciar das classes baixas, e o moderno leite industrializado era sinal de status. “Era um produto importado, com um valor agregado enorme”, conta a chef Andreia Shima.
A marca formou toda uma geração de mulheres divulgando receitas em embalagens ou em folhetos que iam para a casa dessas pessoas, substituindo aqueles cadernos escritos à mão e com receitas que passavam de geração em geração. O livro “Doces brasileiros de verdade” foi um dos primeiros lançados depois da formação do Centro Nestlé de Economia Doméstica. A versatilidade e a concentração de açúcar do leite condensado despertaram o interesse da confeitaria brasileira, modificando hábitos e receitas. Era uma maneira prática de dar textura aos doces e realçar o sabor. A mudança cultural que ocorreu desde então é contada em detalhes no livro “Dos Cadernos de Receitas às Receitas de Latinha”.
O hábito de colocar leite condensado em quase tudo não é visto com bons olhos pela alta gastronomia. Há quem diga que o leite condensado fez a nossa confeitaria ficar preguiçosa. Mas para muita gente, o ingrediente dá o sabor das receitas de família, com o líquido espesso que verte da latinha ou da caixinha lembrando um “sabor de infância”.
Confira aqui o ranking completo dos melhores doces com leite condensado no mundo.
Via: GMC Online