Quando pensamos em música, nem sempre paramos para pensar como os instrumentos ganharam seus formatos atuais, ou como a maneira em que são tocados foi concebida. Mas, por vezes, tão importante do que o responsável por criar um instrumento musical, é quem define a forma como ele será tocado.
À medida que o tempo avançou, instrumentistas geniais deram novos contornos, ritmos e melodias às guitarras, baterias, contrabaixos e demais objetos dos quais tiram sons e música. Eles ajudaram a moldar novos gêneros, deixando legados importantes que definem a identidade sonora de várias nações do planeta.
1. Robert Johnson e as guitarras do blues
Enquanto gênero musical, o blues tem raizes afro-americanas, desenvolvida a partir de tradições musicais africanas no extremo sul dos Estados Unidos próximo ao fim do século XIX. Mas ele não seria o mesmo sem a marca indelével deixada por Robert Johnson, o músico negro chamado de “pai do rock”, que desenvolveu uma forma única de tocar guitarra.
Mais do que um exímio e técnico instrumentista, Jonhson era inventivo. Ele incorporou ao ritmo a técnica slide guitar, em que um tubo oco cilíndrico é colocado em um dos dedos que toca as cordas do braço da guitarra, pressionando-as e criando um som muito característico.
A partir da técnica, Robert Johnson fez com que a guitarra deixasse de ser um acompanhamento de fundo para peça-chave na música blues e, posteriormente, nos gêneros que se derivaram dele, como o rock and roll.
2. Keith Moon remodelou o papel da percussão no rock
Keith Moon está para o rock como a chegada do homem à Lua está para a humanidade: nunca mais nada foi igual. Baterista da lendária banda The Who, Moon tinha um estilo muito característico de encarar seu instrumento, sempre energético e explosivo, indo muito além dos limites que ditavam o papel da bateria no rock até então.
Virtuoso e bastante técnico, agregou elementos de ritmos como o jazz com sua própria energia caótica, imprimindo viradas rápidas, floreios repentinos e sequências imprevisíveis. Indo além, o músico também foi pioneiro em optar por kits de bateria maiores, que lhe ofereciam uma gama mais ampla de sons.
Não à toa, diferente de muitas bandas do rock da época, Keith Moon tinha solos de bateria em faixas como “Won’t Get Fooled Again”, em que mostrava sua habilidade para transformar o instrumento em peça central a experiência que os fãs tinham durante os shows do The Who.
3. Charlie Parker revolucionou o jazz
Há um jazz antes e um depois de Charlie Parker. Ele é, certamente, o mais influente artista da história do jazz, com seu virtuosismo impressionante perante o saxofone, que fez o gênero migrar para uma fase com solos complexos e rápidas progressões de acordes.
O bepop, uma das correntes mais influentes do jazz, deve tudo a como Parker encarou as improvisações no instrumento. Outros músicos se viram diante da necessidade de elevarem suas técnicas quando Charlie mostrou que era possível tocar mudanças de acordes rápidas e complexas em velocidades alucinantes sem perder a integridade melódica da canção.
O legado de “Bird”, como era chamado carinhosamente, ultrapassou as barreiras do jazz, criando uma geração de grandes músicos que quiseram, assim como ele, unir brilhantismo técnico com profundidade emocional.
4. A centralidade da guitarra após Jimi Hendrix
Não precisa ser instrumentista de banda de rock, todo guitarrista, em qualquer gênero musical, sabe que a guitarra não seria a mesma na música sem que Jimi Hendrix a tivesse elevado a um patamar central. Hendrix trouxe um novo som para a guitarra, usando, de modo inovador, amplificadores e efeitos especiais que transformaram o instrumento em uma força até então inédita.
É muito simbólica a apresentação do músico no Monterey Pop Festival, em 1967, quando colocou fogo em seu instrumento, em uma espécie de manifesto de revolução musical. Jimi Hendrix mesclou diferentes influências, especialmente blues, rock, R&B e jazz, mas de modo tão especial que criou uma forma nova de produzir sons a partir do instrumento.
O artista foi além, fundindo a guitarra com suas próprias expressões corporais, dando uma profundidade emocional ao instrumento que ecoava em sintonia sua melancolia ou seu êxtase às notas emitidas por suas palhetadas nas cordas.