O ano de 2023 foi, oficialmente, o mais quente que já registramos na história da humanidade, vencendo 2016, mas 2024 pode nos dar um gosto ainda pior do aquecimento global — um vislumbre de como será o planeta com 1,5 ºC a mais do que os níveis pré-industriais. Em 2023, a média de temperatura chegou a 1,48 ºC acima da média entre 1850 – 1900, que é como se costuma calcular o aumento.
Muitos pesquisadores, como o ex-climatólogo da Nasa James Hansen, já previram que o ano será o primeiro em que passaremos de 1,5 ºC, o que terá diversas consequências para a vida na Terra. O Acordo de Paris de 2015 definiu metas para evitar isso, e, para não ser alarmista, passar desse ponto não quer dizer que não há volta — o que só acontecerá quando o planeta estiver consistentemente mais quente do que 1,5 ºC. O final do longo El Niño, por exemplo, deixará as temperaturas globais mais baixas este ano.
Consequências para os ecossistemas
Algumas das primeiras criaturas a sentir as consequências do aumento da temperatura estão nos oceanos. Recifes de corais tropicais já moram em águas quentes e rasas, e essas criaturas em pólipos, parentes das águas-vivas, ficam revestidas em carbonato de cálcio junto às algas marinhas. Elas são adaptadas a uma temperatura específica, e, com o aumento, podem passar por branqueamento, perdendo as algas com quem convivem e por quem são nutridas através da fotossíntese, podendo morrer em seguida.
As ondas de calor no mar, causadas pelo aquecimento global, já aumentaram de frequência, e, caso passemos de 1,5 ºC, 99% dos recifes de coral ficarão expostos a calor insuportável. Como são parte central dos ecossistemas marinhos de sua região, a morte dos corais pode ser um sinal perigoso.
Com 1,5 ºC de aumento, 15% das espécies de todo o mundo, não só os corais, ficam em risco de perder seu alcance geográfico — mas, na trajetória atual em direção a 2,5 ºC, isso dobra para 30%.
Consequências para os humanos
Nós, humanos, também teremos muita dificuldade para aguentar um aumento nas temperaturas globais. Poucas vezes vimos o calor intenso e a umidade se aliarem para criar temperaturas de bulbo úmido de 35 ºC. Quanto mais alta a temperatura de bulbo úmido, menos eficiência o nosso suor tem em nos resfriar, e, quando chega a 100%, já não conseguimos mais perder calor, o que traz desconforto e consequências pesadas para o corpo.
Caso atravessemos a marca de 2 ºC no aquecimento, temperaturas de bulbo úmido podem cruzar a faixa de 35 ºC com frequência, segundo estimativas científicas. Locais diferentes aquecem em taxas diferentes, no entanto, e, se o mundo todo estiver 1,5 ºC mais quente na média, o local onde você vive pode já estar mais quente do que isso há mais tempo.
Nesse ritmo, o corpo humano poderá não suportar a temperatura da maior parte do planeta dentro de algumas décadas, limitando perigosamente a área habitável para nós. Tempestades catastróficas e ondas de calor ficam mais frequentes com o aumento além de 1,5 ºC, bem como derretimento de geleiras, o que causa outros problemas por si só.
Via: CanalTech (com The Guardian, EESI, Nature Climate Change, PLOS Climate, Science Advances via The Conversation)