A chegada do verão e do calor na vida do curitibano é sempre um evento significativo. Seja durante um final de semana ensolarado ou na transição para o verão, os preparativos para desfrutar ao máximo do astro-rei com responsabilidade são fundamentais para manter a saúde e o bem-estar.
A proteção solar é um passo crucial nessa rotina, pois desempenha um papel essencial na prevenção de danos provocados pelos raios ultravioleta e outras doenças relacionadas à exposição prolongada ao sol.
Segundo a Dra. Annia Cordeiro, dermatologista e presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional do Paraná, existem dois tipos principais de radiação ultravioleta, a A e a B. A ultravioleta A tem um comprimento de onda mais longo, que atinge mais profundamente as camadas de pele, e é responsável pelo famoso bronzeado, mas também pela piora de várias doenças autoimunes, como a rosácea.
Já a radiação ultravioleta B tem uma ação mais superficial e está relacionada às queimaduras, inflamações, ou seja, uma resposta aguda a quem se expôs excessivamente ao sol. Essa radiação também está ligada a alguns tipos de câncer de pele, que se desenvolvem na camada mais superficial da pele, a epiderme.
“A importância da proteção solar é justamente oferecer uma barreira para que essas radiações não penetrem na pele. Dessa maneira, você não desencadeia reações inflamatórias ou mutações genéticas, protege a pele e evita uma série de doenças”, acrescenta Dra. Annia.
O mercado oferece uma variedade de opções, e a escolha do protetor solar certo é o primeiro passo para garantir a sua proteção. Existem dois tipos principais de protetores solares: físicos, ou minerais, e químicos.
Os protetores solares físicos, como o dióxido de titânio, funcionam como moléculas que refletem a radiação solar, atuando como um espelho. A radiação incide sobre a pele e é refletida de volta, sem penetrar. Esses filtros minerais são particularmente recomendados para quem tem pele sensível, crianças, após procedimentos dermatológicos e para pessoas com condições dermatológicas como melasma e rosácea.
Já os filtros químicos contêm substâncias que, ao serem incorporadas em cremes, absorvem a radiação solar, impedindo que ela atinja a pele. Essas moléculas químicas presentes no protetor solar desempenham um papel fundamental na proteção contra os danos potenciais da exposição solar. Esses protetores costumam ser mais leves e fáceis de espalhar, sendo ideais para uso diário, e precisam ser aplicados cerca de 20 minutos antes da exposição ao sol para funcionar de forma eficiente.
Dentro dessas categorias, também é possível encontrar diferentes apresentações, como protetores líquidos, em spray e em bastão. A escolha depende das preferências pessoais e do tipo de atividade que a pessoa planeja realizar. Para peles mais secas, produtos mais hidratantes, para peles mais oleosas, produtos em gel, toque seco ou oil free. Para quem tem acne, os mais indicados são os não comedogênicos.
“Eu sempre digo que a gente não vai com vestido de paetê caminhar na praia. Da mesma maneira, não vamos usar um filtro solar que usamos no dia a dia para fazer uma prova de natação no mar. Então, cada protetor solar tem suas peculiaridades: alguns produtos são resistentes à água, outros podem ser aplicados em pele molhada, sendo indicados agora para o verão, para a prática de atividade física ao ar livre uma vez que o suor remove uma boa parte dos filtros solares e é necessária a reaplicação.”, ressalta Annia.
O que é FPS
O Fator de Proteção Solar, ou FPS, é a medida da eficácia do protetor solar na proteção contra os raios UVB, responsáveis pelas queimaduras solares. Escolher o FPS adequado é essencial, e isso depende do seu tipo de pele e das atividades ao ar livre que você planeja realizar.
“O FPS é um fator que representa o número de vezes a mais que você pode ficar no sol sem queimar. Por exemplo: para o FPS 30, se a dose eritematosa mínima (o primeiro momento de exposição ao sol que deixa a pele vermelha) for de 10 minutos, você poderá ficar 30 vezes mais tempo ao sol sem queimar. No entanto, é essencial aplicar a quantidade adequada de protetor solar para que esse número seja eficaz”, destaca a Dra. Annia.
Isso porque muitas pessoas aplicam quantidades insuficientes de protetor solar. Para o rosto, o recomendado é meia colher de chá, certificando-se de cobrir todas as áreas expostas, incluindo orelhas e pescoço. Para o corpo, ainda seguindo a regra da colher, o ideal é aplicar duas colheres de chá de protetor solar para cobrir adequadamente as costas e o abdômen. Da mesma forma, recomenda-se o uso de duas colheres de chá para cada uma das pernas e uma colher de chá para cada braço, garantindo assim uma proteção solar eficaz e uniforme em todo o corpo.
“Ao preencher a colher e usar apenas metade da dose indicada no rosto, ainda resta produto. Esse excedente, muitas vezes, é aplicado em outra parte do corpo, mas o correto seria usar toda a quantidade recomendada especificamente para o rosto. Se necessário, deve-se passar o protetor mais de uma vez, duas ou três, até atingir a dose indicada”, recomenda a dermatologista.
É altamente recomendável que um dermatologista seja consultado para a prescrição de um protetor solar personalizado, levando em consideração o estilo de vida e as necessidades individuais do paciente. A seleção do protetor pode abranger opções com ou sem coloração, e é essencial adaptá-la ao tipo de pele, incluindo a pele oleosa, bem como ao fator de proteção UV (FPS) apropriado.
Produtos com fatores mais altos tendem a ser mais oleosos, então para alguém com pele oleosa que passa o dia em ambientes fechados, como em frente a um computador, não se justifica o uso de FPS 70 ou 90, que poderia aumentar a oleosidade da pele. A proteção necessária para essa situação é diferente daquela requerida para alguém que esteja exposto ao sol no mar, por exemplo.
Escolher o protetor solar perfeito é apenas o primeiro passo. A aplicação e reaplicação também é crucial para a eficácia da proteção solar. Para exposições intensas ao sol, como um dia na praia, é essencial aplicar o protetor solar antes de sair de casa.
“A recomendação é fazer isso sem a roupa de banho, para garantir que todas as áreas sejam cobertas. Após a aplicação, deve-se aguardar alguns minutos antes de vestir o traje de banho. Isso é necessário para permitir que o protetor solar se fixe adequadamente na pele e ofereça a proteção necessária.”, ensina Cordeiro.
A frequência de reaplicação do protetor solar varia conforme a atividade exercida. Se a aplicação inicial foi adequada e não houve remoção por contato ou suor, pode ser suficiente apenas uma aplicação por dia. No entanto, em situações de exposição contínua, como suor excessivo, natação, ciclismo ou corrida, é crucial reaplicar o produto regularmente – a cada hora ou até meia hora, dependendo da intensidade do suor ou do contato físico com a pele.
“Para reforçar a proteção em momentos específicos do dia, como no almoço, pode-se optar por filtros solares minerais em pó. Em atividades onde o suor é intenso, filtros físicos em bastão, que tendem a ser mais resistentes e oleosos, são recomendados.”
De região para região
Moradores da região sul recebem pouco sol no dia a dia, em especial os residentes de Curitiba, que durante o inverno tem a menor incidência solar do Brasil. Contudo, essa sensação de exposição solar reduzida durante o ano pode levar a queimaduras solares agudas com a chegada do verão ou em dias mais ensolarados, e até a uma falta de cuidado com a exposição, que deve ser uma constante, mesmo em dias mais amenos. É importante destacar que nossa região registra uma alta incidência de melanoma, que está relacionado ao número de queimaduras e à exposição solar intensa e abrupta.
“Toda pessoa deveria ter a oportunidade de acessar pelo menos uma consulta dermatológica especializada por ano. Isso é crucial porque novas lesões podem surgir e algumas existentes podem evoluir para câncer de pele. As doenças de pele, muitas vezes agravadas pela exposição ao sol, podem ser subestimadas pela pessoa, sendo confundidas com simples manchas, casquinhas ou feridas menores. O acompanhamento dermatológico regular é, portanto, essencial”, finaliza Annia.
E vale lembrar que a incidência solar e a exposição aos raios UV estão cada vez mais relacionadas às mudanças climáticas. Proteger-se é uma ação fundamental para prevenir o câncer de pele e manter a saúde da pele. Com a orientação de especialistas e a escolha do protetor solar adequado, é possível desfrutar do sol de maneira segura.
Erros comuns ao utilizar o protetor solar
- Aplicar uma quantidade insuficiente de protetor solar para evitar manchar a roupa, o que pode deixar áreas da pele desprotegidas.
- No rosto, é um erro comum usar apenas uma pequena quantidade de protetor; uma gota não é suficiente para a proteção necessária.
- Protetores solares em spray, especialmente aqueles à base de álcool em aerossol, não são recomendados para o rosto.
- Crianças menores de 6 meses não devem ser expostas ao sol, pois ainda não podem usar protetor solar; aplicá-lo em bebês é um erro.
- Confiar em certos tipos de guarda-sol que oferecem pouca ou nenhuma proteção solar é um equívoco comum na proteção contra o sol.