O apelo emocional que cerca o Natal pode gerar estresse por variados motivos, como um acontecimento traumático ou o aumento de um sentimento negativo
Natal é uma data popularmente conhecida como sendo símbolo de celebração e união. No entanto, essa festividade pode despertar sentimentos de aversão, apatia ou tristeza em algumas pessoas. Embora não seja uma condição oficialmente reconhecida, o termo Síndrome de Grinch é aplicado a quem não se sente bem com as tradições de fim de ano.
O nome foi inspirado em um personagem criado nos anos de 1950 pelo autor infantil Dr. Seuss. Na trama, Grinch não gosta do Natal e faz de tudo para sabotar a festa na cidade de Whoville. Nesse sentido, a psicóloga Daniele Leal, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), explica que o apelo emocional que cerca o período natalino pode gerar estresse por variados motivos, que vai desde um acontecimento traumático a um aumento de um sentimento que pode estar presente o ano inteiro e se intensificar justamente quando o trabalho, as aulas, outras atividades cessam e a pessoa tem mais tempo para se deparar com lembranças e sentimentos ainda não elaborados.
“É comum que a época do Natal seja associada com encontros felizes, família reunida, amigos, jantar em volta de uma mesa farta de comida, pessoas sorridentes, decorações natalinas, numa imagem que seria o ideal de felicidade. O incentivo e o apelo emocional são muito grandes no sentido de interpelar as pessoas a estarem felizes e realizadas, como se o Natal promovesse um milagre em nossas vidas e tudo que não está bom tivesse um desfecho positivo. É quase como se as pessoas se sentissem obrigadas a estarem felizes e sorridentes, apenas porque é Natal”, pontua a psicóloga.
Se para uma família o Natal é sinônimo de mesa farta ou troca de presentes, para outra pode significar sofrimento. “Não podemos esquecer que vivemos num país onde a desigualdade social é grande e o número de pessoas que não tem uma perspectiva positiva para si e sua família também é muito grande e isso causa sofrimento na sociedade em geral”, reflete Daniele.
Como lidar?
Segundo a psicóloga Daniele Leal, o primeiro passo para lidar com a síndrome é ser honesto consigo mesmo e entender que está tudo bem em não gostar do Natal e não querer participar das festividades. “Outra coisa é que se você conhecer uma pessoa com a síndrome de Grinch, respeite e entenda que o conceito e as fontes de felicidade não são iguais para todos. Não insista se o seu amigo não quer participar das festividades com você”, cita a especialista.
“É muito importante que a pessoa entenda que sentimentos são estes que a acometem, se são apenas no fim do ano, se é algo passageiro ou permanente e se o que está associado a este sentimento não ultrapassa os limites da saúde mental. É sempre bom estar atento e procurar um profissional qualificado caso apresente sintomas persistentes como choro, lembranças dolorosas ininterruptas, sentimentos de menos valia ou falta de expectativa generalizada com relação à vida”, emenda Daniele.
Outra estratégia que pode ajudar é ressignficar as tradições de fim de ano, desde que a pessoa possa se liberar de culpas por não atender as expectativas sociais sobre a data. Trocar a compra de presentes pela confecção própria ou substituir a casa cheia de convidados para uma atividade mais reservada e que faça sentido para si mesmo são bons caminhos para vivenciar o Natal de maneira mais tranquila.