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Mel: o adoçante de ouro

O mel possui propriedades que o tornam bastante popular no mundo todo. Conheça um pouco mais da história dele contado por ele mesmo.

Num dia de primavera, tomara que não muito distante, depois que as flores começarem a se abrir, uma abelha virá voando pelo quintal e atacará sua mesa de piquenique. Enquanto você pensa em evitar uma picada, essa abelha estará concentrada em algo bem diferente: em mim.

Uma abelha tem cerca de seis semanas de vida. Hoje, como na maior parte dos dias, sua tarefa é voar até cinco quilômetros, enfiar a língua comprida como um canudinho em umas cem flores, engolir gotículas de néctar doce e armazená-lo num órgão semelhante ao estômago chamado vesícula melífera. Saciada, a abelha volta para casa, com a barriga cheia de enzimas especiais já decompondo o néctar em glicose e frutose. Assim começa o pequeno milagre que me produz.

Prazer, eu sou o mel

Na colmeia, a abelha vai depositar sua coleta na boca de uma das colegas, que a passará a outra e mais outra durante uns vinte minutos, até a mistura ficar pronta para ser depositada num lindo favo geométrico. Então, ela e suas cinquenta mil colegas da colmeia vão voar e zumbir no escuro a noite toda, todas as noites, batendo as asas para criar o clima quente e o vento necessários a fim de desidratar a mistura aquosa. Várias auroras depois, elas me selarão numa célula dourada de cera, minha solução viscosa, de fluxo lento, com 18% de água, agora irrevogavelmente pronta.

No decorrer da vida, nossa abelha pode visitar 4 mil flores, mas todo o néctar que coletar produzirá somente um doze avos de colher (chá) de mel. Por causa dessa matemática assustadora, a colmeia tem de juntar todas as forças para me produzir em quantidade suficiente para as abelhas se alimentarem. (Veja só: em 2010, apicultores do Brooklyn, em Nova York, abriram suas colmeias e acharam um mel vistoso e vermelho-vivo com gosto enjoativo de xarope para tosse. O mistério persistiu durante meses, até descobrirem que as abelhas estavam desdenhando as flores e indo diretamente a uma fábrica local de cerejas ao marrasquino, como atalho para obter sua dose de açúcar.)

Quem veio antes: eu ou você?

O processo que me produz pode ter ajudado a formar você também. Os cientistas acreditam que colmeias selvagens cheias de mel forneceram as calorias que os primeiros seres humanos, como o Homoerectus, que habitava a África, precisaram para desenvolver o cérebro até chegar ao dos seres humanos modernos.

Isso me deixa na mesma classe dos ingredientes básicos da evolução humana que o fogo, o uso de ferramentas e a caça. Os outros adoçantes que os seres humanos utilizam – feitos de seiva, néctar de agave e suco de cana-de-açúcar – exigem ferver o líquido doce até virar xarope ou açúcar granulado, processo desenvolvido muito depois.

Com o tempo, esse cérebro evoluído aprendeu a domesticar abelhas para me produzir em ambiente agrícola. Os apicultores de hoje sustentam extensas fazendas industriais, que seriam incapazes de cultivar seus produtos sem contratar grupos de abelhas viajantes para polinizar os vastos campos plantados com uma só espécie. Sem cessar, as abelhas encherão as torres de favos empilhadas em suas colmeias pelo apicultor, que então coleta o excesso de mel para nosso consumo enquanto ainda lhes deixa o que precisam para comer.

Hoje, cada americano consome, em média, quase 700g de mel por ano, no chá, na torrada e em muito mais. Se me permitem dizer, sou um tesouro atemporal. Literalmente: nunca me estrago. Amostras de quase 3 mil anos encontradas nas pirâmides egípcias são tão comestíveis hoje quanto no dia em que foram enterradas. Com a combinação certa de baixo teor de água, pH elevado e a presença natural de peróxido de hidrogênio, sou extremamente antimicrobiano e, portanto, invulnerável à deterioração. Minha natureza antimicrobiana me torna um excelente bálsamo para feridas crônicas, pois impeço infecções e guardo a umidade de que a pele precisa para sarar.

Por favor, me salvem!

Mas a minha boa saúde não está garantida. Apicultores dos EUA estão perdendo cerca de 40% das colmeias por ano com o transtorno do colapso das colônias. O problema é o crescimento da agricultura industrial e do uso de agrotóxicos, além do crescimento urbano e das mudanças dos padrões climáticos. Todos esses fatores reduzem o número de flores que as abelhas podem visitar. Se as abelhas continuarem a morrer nesse ritmo, amêndoas, maçãs e pêssegos (além de todas as culturas que dependem de sua polinização) ficarão mais raros e caros. Eu também.

Dada essa tendência, não surpreende que eu talvez seja o alimento mais adulterado do supermercado, misturado a xarope barato de milho ou açúcar para aumentar a oferta. Em 2010, a maior fraude alimentar da história americana foi revelada: as autoridades descobriram 80 milhões de dólares em mel chinês adulterado e contrabandeado. Essa é uma das razões pelas quais espero que você verifique a procedência do mel que consome.

Eu também gostaria que você deixasse seu jardim um pouco mais selvagem e evitasse usar herbicidas e cortador de grama com frequência. Meu futuro depende de todos nós promovermos as flores selvagens da primavera e do verão, ajudando assim as abelhas, que tanto dão a você e a mim sem pedir nada em troca.

Dica extra: manteiga de mel feita em casa

No pão

Com o mixer ou uma espátula de borracha, misture muito bem 8 colheres (sopa) de manteiga sem sal amolecida com 4 colheres (sopa) de mel. Tempere com sal e guarde na geladeira. Retorne à temperatura ambiente e passe em bolinhos, torradas, panquecas, no que quiser.

Como calda

Numa frigideira grande com laterais inclinadas, derreta 6 colheres (sopa) de manteiga sem sal com 4 colheres (sopa) de mel em fogo médio, mexendo para misturar. Tempere com sal e derrame sobre pipoca, batata frita, torradas, waffles, frango frito etc.

Sabores a acrescentar

Canela, noz-moscada ou gengibre; ervas como alecrim e tomilho picadinhos; casca ralada de frutas cítricas; água de rosas ou de flor de laranjeira; ou extrato de baunilha e amêndoa.

POR KATE LOWENSTEIN E DANIEL GRITZER, na Seleções

Kate Lowenstein é editora-chefe do Tonic, site sobre saúde da revista Vice; Daniel Gritzer é diretor culinário do site especializado Serious Eats.

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