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Dia Nacional do Vinho: conheça as tendências, mitos e curiosidades sobre a bebida

Especialistas da área enxergam o Brasil com grande potencial de desenvolvimento; número de consumidores da bebida dobrou em 10 anos

Neste 4 de junho foi celebrado o Dia Nacional do Vinho. O projeto de lei de 2008 foi aprovado em 2017 e desde então o primeiro domingo do mês seis é destinado à comemoração, que tem o intuito de enaltecer o mercado brasileiro, formado por grandes profissionais, produtores, empresas, e, claro, os consumidores – personagens fundamentais de todo o cenário.

Os vinhos brasileiros têm ganhado destaque em premiações mundo afora e a valorização do produto nacional tem acontecido de forma crescente. A região da Serra da Mantiqueira ganha o destaque do momento, além dos primeiros e tradicionais produtores localizados no sul do país, responsáveis também por 90% da produção dos espumantes brasileiros, que são exaltados em diversos países.

Apesar disso, o Brasil ainda não figura entre os players mundiais deste mercado – o que, apesar de parecer paradoxo, é visto com otimismo por especialistas da área.

“Em termos de história e produção talvez estejamos engatinhando, mas com certeza a passos mais largos que tempos atrás. O Brasil é muito diverso e consumimos muito pouco do que ele tem para oferecer. Enxergo o país com bastante potencial para o futuro, pensando o quanto podemos evoluir também em questão mercadológica e tributária”, analisa Ricardo Santinho, sommelier do Complexo Vila Anália

“Por termos menos produções, acabamos nos especializando, tendo mais conhecimento sobre diversos países e provando um pouco de tudo. Me alegro em ver grupos de jovens brasileiros entrando cada vez mais rápido neste meio. Não temos a questão cultural e histórica como há em outros países, mas a curiosidade tem feito as pessoas irem cada vez mais atrás de informações sobre a bebida”, completa.

Ricardo Santinho é sommelier do Complexo Vila Anália / Divulgação

Para Manoel Beato, sommelier do Grupo Fasano há quase 30 anos e um dos principais do país, o vinho em um determinado momento da história deixa de ser apenas um alimento para tornar-se algo cultural. Essa percepção, entretanto, chega ao Brasil de forma um pouco atrasada.

“Esse interesse foi crescendo de forma gradativa, principalmente entre os anos 80 e 90. No Brasil, vi um salto com a abertura das importações. Isso começa a aquecer mais o mercado. Junto, vem o aprimoramento das vinícolas pelo mundo. As pessoas passaram a entender mais sobre o assunto, mas ainda era algo muito elitizado”, reflete.

“Vejo que nos últimos 10 anos, o mercado teve outra curva de aquecimento, com mais consumidores fora deste nicho de elite. Isso andou com o desenvolvimento da gastronomia. Alimentos e bebidas estão inseridos dentro do mesmo contexto. Se você pegar o dicionário gastronômico vai ver que os dois são classificados juntos. O fator econômico, a onda de programas de televisão, ampla divulgação e marketing despertaram ainda mais o interesse das pessoas sobre diversos assuntos, incluindo o vinho”, enfatiza.

Os números de consumo no Brasil

A experiência e percepção dos sommeliers brasileiros são comprovadas por números, registrados em pesquisas sobre o tema nos últimos anos. De acordo com um levantamento feito pela Wine Intelligence em 2021, o número de consumidores de vinhos havia dobrado comparado a 2011.

Calcularam ainda que a população mensal de consumo de vinho havia saltado para mais de 50 milhões de adultos, considerando aqueles que o bebiam pelo menos uma vez por mês. Cerca de 36% da população adulta brasileira já consumia a bebida em 2021.

Outro levantamento, feito agora pela Euromonitor, aponta a evolução dos litros de vinho vendidos no Brasil nos últimos anos. Em 2017, foram 317 milhões de litros, aumentando para 400 milhões em 2020, ano de pandemia.

Os anos seguintes apontaram quedas de volumes para: 391 milhões em 2021 e 383 milhões em 2022. O saldo total, entretanto, foi positivo, com crescimento de vendas em 21% nos últimos cinco anos. A expectativa é que a curva volte a subir até 2027, com projeção de 483 milhões de litros vendidos.

Segundo especialistas ouvidos pela CNN Viagem & Gastronomia, há várias linhas de raciocínio para este boom ter acontecido durante a pandemia – nenhum comprovado ao certo. A maioria acredita que o isolamento fez com que as pessoas tivessem mais tempo em buscar coisas novas, aliado também a novos materiais e fontes de informação sobre o tema.

O professor e sommelier brasileiro Pedro Ramos, com passagem pelo duas estrelas Michelin Alma e atualmente no também estrelado Feitoria, de Portugal, traz uma visão similar do Velho Continente. Apesar da curva de consumo ser diferentes – por ser algo já intrínseco da cultura europeia – percebeu o aumento da curiosidade dos clientes no salão.

“O período trouxe o produtor mais perto do consumidor, que ficou mais curioso. Eles perguntam mais, querem conhecer novos rótulos e não apenas o que já era consumido em casa. Tive de criar menus degustação englobando também vinhos internacionais, não só os portugueses”, conta o profissional, que percebe ainda pouca entrada de rótulos brasileiros na Europa.

Brasileiro Pedro Ramos é sommelier de destaque em Portugal, com passagens por restaurantes estrelados do país / Arquivo pessoal

Outros profissionais destacam que a companhia de amigos e familiares na mesma casa despertou ainda mais este quesito. Com o intuito de partilhar o momento, sabores e aromas, as pessoas foram descobrindo e arriscando novos rótulos. Há quem diga também que a imagem “saudável” do vinho contribuiu para esse aumento de consumo.

“As pessoas associam o vinho à saúde, muito por conta daquela velha história que uma tacinha por dia faz bem. Por mais que seja uma bebida alcoólica, grande parcela da população tem a percepção de ser uma bebida saudável”, ressalta Rodrigo Mattos, analista sênior de Bebidas da Euromonitor.

Para Mattos, o vinho é um produto alcoólico de ocasião de baixa energia, principalmente consumido dentro de casa. Isso também acaba explicando a queda nesses índices no ano seguinte, que marcou a volta parcial das atividades comerciais em diferentes cidades.

“Em 2021, com a reabertura dos estabelecimentos no Brasil, as pessoas começaram a se sentir mais seguras em sair de casa. Elas, então, começam a consumir diferentes bebidas em restaurantes. Este ambiente acaba não favorecendo o vinho. A inflação também impactou os preços dos produtos vindos principalmente da Europa”, completa.

As tendências do mercado de vinho 

Percebendo o perfil do consumidor brasileiro e principalmente identificando que o custo era um dos principais fatores levados em conta pelos novos bebedores de vinho, a Wine viu seu negócio crescer de forma exponencial nos últimos anos.

Seu clube saltou de 116 mil assinantes em 2019 para 370 mil em 2023. O boom também chegou a outros clubes, mas para Alexandre Magno, diretor de operações da empresa, a Companhia soube se destacar ao interpretar muitos fatores e tendências para que continuassem em crescimento, mesmo após três anos.

“Analisamos o cenário como um todo. Na pandemia, o e-commerce bombou, mas sabíamos que quando tudo passasse as pessoas voltariam a procurar as lojas físicas. Nos estruturamos para isso e abrimos 16 lojas em 11 cidades. Tendo em vista que cerca de 80% dos clientes costumam comprar seus vinhos em mercados, começamos também a trabalhar como distribuidora. Colocamos nossos rótulos em diferentes endereços e tivemos uma visão além do momento de pandemia”, ressalta.

Após a pandemia, Wine abriu lojas físicas em diferentes cidades para acompanhar o crescimento do mercado / ERIC NORIYUKI YAMASHITA

“Temos nosso portfólio exclusivo pensado diretamente no que o consumidor brasileiro mais procura. Identificamos que os clientes estão privilegiando os produtos de baixo custo. Claro que temos diferentes perfis e os clientes mais experientes também são levados em consideração em nossa seleção, mas essa nova demanda vem com uma outra característica. Querem conhecer mais, mas estão dispostos a gastar até certo ponto”, completa.

Outra percepção de Alexandre dentro da Wine foi a busca de vinhos com menor teor alcoólico. O estilo de vida saudável e a sustentabilidade foram temas recorrentes em pautas televisivas e redes sociais nos últimos anos. Todos queriam saber o que fazer para contribuir com o meio ambiente, além de olhar internamente para introdução de hábitos mais saudáveis. Algumas das novas tendências do mundo do vinho acompanharam esse movimento.

“Antigamente, os vinhos giravam em torno de 14% de teor alcoólico. Hoje em dia vemos muito rótulos entre 11 e 12,5%. Isso, além de atender uma demanda que busca essa saudabilidade, faz com que a pessoa passe a degustar mais. Os bares de vinho na Europa estão cada vez mais seguindo essa tendência”, ressalta Pedro Ramos.

Além do teor alcóolico, o que tem sido notado em pesquisas é a procura de vinhos mais ‘fáceis’ de serem tomados. Enquanto o percentual de consumo de vinho tinto vem caindo, os brancos, rosés e espumantes estão em ascensão no Brasil – o último batendo, inclusive, recorde de consumo segundo a Euromonitor.

Outra tendência que vem dando passos largos é o mercado de vinhos naturais e orgânicos. Apesar de não ter uma legislação ainda específica para esta categoria, eles, em linhas bem gerais, são vinhos produzidos sem químicos, pesticidas ou herbicidas, também seguindo a onda gastronômica de restaurantes orgânicos e sustentáveis.

“Vejo isso como algo que não vai voltar. O mundo está caminhando para essa direção. Além disso, os vinhos locais, de diversas regiões, ganharam representatividade e devem seguir em destaque. O que aconteceu principalmente nos anos 90 foi uma uniformização do plantio. Todo mundo plantava Cabernet Sauvignon ou Chardonnay. Os produtores de regiões específicas vieram na contramão e provaram que poderiam fazer belíssimos vinhos com uvas locais e assim tem sido a exploração de diversas áreas, em diferentes países”, destaca Beato.

Mitos, verdades e curiosidades sobre o mundo do vinho

Vinho é feito 100% de uva? Descubra a resposta com os mitos e verdades sobre o mundo dos vinhos / Pexels

Se você faz parte desta população que passou a tomar mais vinho nos últimos anos, mas não é um grande conhecedor do tema, certamente já ouviu algumas afirmações que tornaram-se verdades absolutas. Mas será que tudo o que é falado com tanta certeza por aí é verdade?

Descubra os principais mitos e verdades sobre o vinho sob o ponto de vista dos sommelieres Ricardo Santinho e Pedro Ramos.

“Vinho branco só harmoniza com peixe e vinho tinto só com carne”

Mito. Hoje temos muitas opções e variações de brancos e tintos, com vinhos leves e encorpados em ambos. É perfeitamente possível fazer diferentes harmonizações, levando em conta também as guarnições que o prato terá. Aqui em Portugal, por exemplo, nada mais clássico do que harmonizar o bacalhau com um bom tinto”, ressalta Pedro.

“Quanto mais velho, melhor o vinho”

Mito. Segundo os profissionais, a maioria dos vinhos hoje é feita para ser consumida em poucos anos – de três a cinco. Provavelmente, se você comprar um vinho na prateleira do mercado e consumir daqui a 10 anos, ele já estará oxidado. Os vinhos chamados de “guarda”, com essa característica, representam apenas 10% do mercado.

“A rolha classifica a qualidade do vinho”

Mito. Santinho enfatiza que é preciso desassociar a sofisticação de vinhos aos tipos de rolha. “O Screw cap, além de evitar contaminação e ser extremamente asséptico, veda muito bem. Existem grandes produtores em diferentes regiões fazendo experimentos com esse tipo de rolha”. Resumo: a tradicional rolha de cortiça acaba tendo um processo de produção mais caro, mas nada tem a ver com a qualidade do vinho.

“Vinho branco só se faz com uva branca”

Mito. “Inclusive, a maioria dos espumantes leva uma variedade de uvas tintas. A pigmentação, a maioria das vezes, está em sua casca. São poucas as uvas chamadas de “tintureiras”, que têm a “pele” e o suco escuro. Se espremer a conhecida Cabernet Sauvignon sem tirar a coloração da casca pode-se fazer um vinho branco, por exemplo”, explica Ricardo Santinho.

“O vinho pode ser guardado fora de uma adega”

Verdade. “O fato é que o vinho é inimigo da luz e do oxigênio. Precisamos tentar preservá-lo nas melhores condições, mas não é todo mundo que tem uma adega em casa. Então, procure aquele ambiente mais reservado, com menos variação de temperatura e luminosidade. Embaixo de uma escada, no baú da cama, enrolado em um pano, por exemplo, que ele ficará tranquilamente armazenado”, aponta o sommelier do complexo Vila Anália.

“É possível guardar o vinho depois de aberto”

Verdade. É comum abrirmos uma garrafa e sobrar um pouquinho. O melhor lugar para guardá-lo é na porta da geladeira. A temperatura mais baixa vai fazer com que ele desacelere este processo de oxidação. Em média, os vinhos mais leves e frescos duram de 2 a 3 dias armazenados no local. Os tintos mais potentes, com taninos e bastante fruta aguentam alguns dias a mais.

“Vinho é feito apenas com uva”

Verdade. “Segundo a legislação brasileira vinho é classificado como a bebida obtida pela fermentação alcoólica de mosto [sumo] de uva sã, fresca e madura, já na União Europeia, o vinho é legalmente definido como o produto obtido exclusivamente por fermentação parcial ou total de uvas frescas, inteiras, esmagadas ou de mostos”, explica Pedro Ramos.

“É possível produzir vinhos em regiões quentes”

Verdade. Hoje, com a evolução das técnicas e maquinários, é possível fazer vinho em diferentes locais.

“Espumante é vinho”

Verdade. Espumante é um vinho obtido da fermentação de uvas, portanto, sim, é vinho.

“Na produção dos vinhos, as uvas são amassadas com os pés”

Depende do produtor, da cultura e da região. “Mas a grande maioria faz a prensa das uvas por meio de máquinas”, ressalta Pedro.

“Os melhores sommelieres estão na Europa”

Mito. Os sommelieres brasileiros ganham destaque mundo afora, estudando a fundo regiões e produções de diversos países. Não à toa, Pedro Ramos, brasileiro, tem passagens por estrelados restaurantes portugueses e é referência no assunto no país.

Fonte: CNN Brasil

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