Organização criminosa funcionava em família. Apenas uma avenida de Mariluz dividia as gangues: do lado direito a ‘Gangue dos Ned’, do esquerdo, os rivais
A organização criminosa que vinha atuando em Mariluz, foi identificada pela polícia como a “GANGUE DOS NED”, voltada ao tráfico de entorpecentes. Existia dentro do bando, um esquema hierárquico, com divisão de tarefas. O chefe do grupo era o mandante de assassinatos cometidos pela organização criminosa, haviam os executores. Outros serviam como ‘laranjas’, que cediam seus nomes para a aquisição de imóveis, usados como esconderijos, pontos de armazenamento de armas e de drogas e outros que eram utilizados como bocas de fumo.
Os integrantes são responsáveis por atentados e assassinatos praticados há meses, tanto em Mariluz, quanto em cidades da microrregião. As investigações levaram a polícia a identificar os membros e descobrir qual o grau de envolvimento de cada um deles. O comando era de Reginaldo Ribeiro da Silva, o “NED”. Este ordenava a prática de ações violentas contra qualquer pessoa que ele entendesse ser seu adversário.
A organização criminosa é formada em família, esposas, sobrinhos, irmãos, filhos e filhas, todos fazem parte e estão envolvidos desde o tráfico de drogas à assassinatos.
Últimos atentados
Na terça-feira (18/04), houve o registro de uma tentativa de homicídio em Mariluz, tendo como vítima uma adolescente. Ela foi alvejada com dois tiros nas costas. Em 21 de abril, por volta das 21h, próximo à Rua Barão do Rio Branco outro atentado aconteceu. Um rapaz deu entrada no hospital municipal, vítima de disparos de arma de fogo em uma das pernas. Outro ferido foi identificado como João Paulo almeida de Souza, vulgo “Cadin”, ferido na panturrilha esquerda. Este seria o braço direito de Ned na quadrilha. Os dois envolvidos trocaram tiros no centro de Mariluz.
Última morte
Na noite do último domingo (23/04), Sergio Nigele Alves do Espirito Santo foi executado por três homens, dentro de casa, na frente da esposa e de três filhos pequenos. A esposa dele reconheceu um dos autores, como sendo um adolescente. Ele era conhecido como “Ninjão”.
Esconderijo das armas
Um imóvel situado à na Rua Marcelino Medeiros, foi descoberto pela polícia como sendo o ponto armazenamento de armas da gangue. Uma testemunha revelou que o local também servia para o tráfico de drogas. A informação foi colhida pelos policiais que conseguiram interrogar o homem que seria o guarda desta boca de fumo, um soldado que estava sempre armado.
Esconderijo da gangue
O sítio localizado no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, onde residem os pais de uma jovem considerada a amante de Reginaldo Ribeiro da Silva, o “Reginaldo Ned, era o local utilizado pelos membros da Gangue como esconderijo depois que praticavam os crimes violentos a mando de Ned. Lá eles também escondiam as armas utilizadas nos assassinatos.
A viúva
Foi pedido à Justiça, a prisão temporária e um mandado de busca em face de D. R. D. de L., residente na rua Augusto José Barbosa, centro de Mariluz. Esta mulher é a viúva de Mateus Ribeiro da Silva, filho de Reginaldo Ned, morto com diversos disparos de arma de fogo na noite de 09 de março de 2023. A morte dele, o primeiro na ‘linha de sucessão’ do crime, foi o estopim para que a onda de violência iniciasse na cidade.
Violência ‘desmedida’
Foi apurado pelos investigadores que 4 dias depois da morte de Mateus, sua esposa realizava postagens no status do WhatsApp pelo número de Mateus, passando a integrar ativamente a Gangue dos Ned, comercializando drogas e portando armas de fogo (no dia do homicídio o celular da vítima não foi encontrado com ele, questionados, os familiares disseram não saber o paradeiro do celular). Inclusive, praticava tiros no quintal de sua casa e postava fotos do treinamento nas redes sociais.
‘Tocando o terror’
Após a morte de Mateus, a Gangue dos Ned passou a aterrorizar toda a cidade, ameaçando e coagindo sistematicamente todos os moradores, para que não tivessem coragem de depor à polícia, tampouco ao judiciário. Os integrantes passaram a ser consideradas pessoas extremamente perigosas, criminosas contumazes, matadoras a sangue frio, que se encontram em poder de um verdadeiro arsenal, coletes à prova de balas e até de carros blindados. De acordo com as investigações da Polícia Civil, ainda há uma lista de pessoas marcadas para morrer, inclusive idosos e adolescentes.
Medo e silêncio
O município, que tem menos de 10 mil habitantes, passou a sofrer com uma elevadíssima taxa de criminalidade nos últimos meses, permeada por intenso esquema de tráfico de drogas, alto índice de homicídios, roubos, além de outras ações praticadas por dois grupos criminosos que se dividiam pela avenida central de Mariluz. Cada uma agia de um lado da cidade: do lado direito da avenida, o domínio seria da ‘Gangue dos Ned’, já do lado esquerdo, os rivais, tornando a cidade em um verdadeiro faroeste.
Pacto de silêncio
O cenário fez com que os moradores passassem a ter medo de denunciar qualquer crime. A mais perigosa organização era a Gangue dos Ned, que há anos atuava na cidade realizando intenso tráfico de drogas e inúmeros outros crimes.
Reginaldo Ned era quem comandava e dava as ordens a todos seus asseclas, inclusive de como lidar com o tráfico no município, cooptando até adolescentes em seu grupo criminoso. Foi considerado um homem extremamente perigoso, frio, calculista, articulado, que desde que passou a chefiar o grupo, transformou a vida dos moradores da cidade em um verdadeiro pesadelo diário. Para se manter no poder, a gangue também realiza roubos, golpes e, a mando de Ned cometeu crimes dolosos contra a vida de seus oponentes.
Dono da cidade
Reginaldo Ned se achava o dono da cidade. Possui múltiplos imóveis tanto em Mariluz, quanto na região e usava todos eles como “biqueiras” para venda de entorpecentes, bem como, para esconder seus seguidores e pistoleiros. Carlos Vinicius da Silva Dovalli, o ‘Alemãozinho’ era um deles, mas o mais perigoso era João Paulo Almeida de Souza, o ‘Cadin’.
Outro também identificado foi Geovani Henrique dos Santos, o ‘Pança’. Cada um deles tinha uma função no grupo, entre eles, difundir o tráfico. Silvana Dioclecio Alexandre, esposa de Ned, suas duas filhas e seu filho, também faziam parte da gangue. Um sobrinho de Ned, de 18 anos, que responde a diversos procedimentos enquanto era menor de idade, atuava diretamente no tráfico e participou de alguns homicídios.
A morte do herdeiro
Mateus Ribeiro da Silva, morto em 9 de março, era o filho de Ned. Ele foi executado aos 22 anos com tiros à “queima-roupa”, em uma lanchonete no centro de Mariluz. Mateus era ventilado como herdeiro sucessor das atividades de Ned e inclusive, já estava utilizando-se do tráfico como meio de ganhar a vida.
Com a morte de Mateus, no dia seguinte começou a série de assassinatos, decorrentes do plano de vingança arquitetado por Ned contra pessoas que ele acreditava estarem relacionadas com a morte do filho.
Ordem para matar
Ned emitiu as ordens para que seus subordinados cometessem a sequência de homicídios posteriormente constatados (em um período de 60 dias, seis mortes foram registradas, sendo cinco em Mariluz e uma em Moreira Sales, além de outras tentativas). Entre as vítimas, estavam inúmeros informantes. Ned jurava vingar a morte do filho, mandando recado para todos os habitantes da cidade de “que mataria pai, mãe, mulher e filhos de quem matou Mateus”.
Na mesma noite após o homicídio de Mateus, todos os integrantes da Gangue dos Ned saíram em comboio pelas ruas da cidade, com armas de fogo em punho à procura dos supostos autores do crime. Os autores foram identificados.
Um deles seria Wesley da Silva der Oliveira, vulgo ‘Dentinho’, morto a tiros em Moreira Sales na noite de 12 de março. Outro trata-se de um adolescente que está com mandado de internação em aberto e foragido, pois tem ciência de que se for encontrado, será morto imediatamente pela gangue.
Morto por um sorriso
Antônio Estércio Novais, de 61 anos, foi assassinado a tiros pela Gangue, após NED ficar sabendo que ele teria comemorado a morte de Mateus. A ordem de execução foi cumprida por ‘Cadin’, que matou o homem dentro da cabine de seu caminhão, no dia seguinte a morte de Mateus. O carro usado no crime era de um irmão de Ned.
O senhor era pai de Antônio Marcos Novaes, conhecido como ‘Fininho’, de 33 anos, que também foi morto a tiros em maio de 2021 pela Gangue dos NED.
O desertor
Rogger Vinicius Mello foi baleado em uma troca de tiros na noite de 28 de março no centro de Mariluz. Ele era vigilante do Banco Itaú e foi alvo de um atentado praticado a mando de Ned. Rogger havia acabado de sair de um banco, quando foi surpreendido por dois criminosos que já chegaram atirando. A dupla estacionou um Fiat Uno na esquina da agência e ficou de tocaia, esperando a vítima sair. Mas, Rogger também estava armado.
Rogger, no passado, teria sido um dos membros da Gangue dos Ned. Um desentendimento com o ‘chefe’ o levou a sair do grupo. Foi então que Rogger passou a ser o responsável por fornecer armas de fogo aos integrantes do grupo rival à gangue, fazendo com que passasse a ser alvo de Ned.
Pachola
Elias Alcione Pachola de Jesus, vulgo “Pachola” foi executado pouco mais de duas horas depois da troca de tiros entre Rogger e Cadin. Ele foi assassinado a tiros de pistola calibre 9 milímetros, no quintal de sua própria casa. Pachola havia deixado a prisão há pouco tempo e fazia uso de tornozeleira eletrônica. Ambas as ações foram gravadas por câmeras de segurança.
OPERAÇÃO ULTIMATO
As prisões dos envolvidos aconteceram na manhã desta sexta-feira (27), durante a Operação Ultimato, deflagrada pela Polícia Civil e contou com 107 policiais, 25 viaturas, uma aeronave, um ônibus e três guinchos.
Foram expedidos mandados de prisão, busca e apreensão e sequestro de bens. Participaram os grupos do GOA, NOC, DENARC, COPE, 9ª, 8ª, 16ª e 20ª SDPs, BPFron (Umuarama, Guaíra e Querência do Norte) 7º BPM de Cruzeiro do Oeste, 25º BPM de Umuarama e 6º SGBI de Umuarama ( Corpo de Bombeiros).
Nove pessoas foram presas, todas em Mariluz, sendo três homens por mandado de prisão temporária, um menor apreendido, quatro homens autuados em flagrante por posse de arma de fogo e posse de munições e mulher autuada em flagrante por crime ambiental.
Três carros, uma moto, dois revólveres, 16 munições calibre .9mm e duas munições calibre .38 foram apreendidas.
Fonte: UMUARAMA NEWS