Há 18 anos, um caso chamou a atenção em Maringá e levou o nome da Cidade Canção aos principais jornais do país: uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, lapidada em gesso e com aproximadamente 25 cm, chorava e, segundo relatos da época, a santa operava milagres em pessoas com enfermidades.
A história começa quando uma mulher de 40 anos, que trabalhava como zeladora em Maringá, ganhou a imagem da santa católica de um amigo que havia feito uma viagem para Aparecida do Norte, no interior de São Paulo.
Alguns dias depois de ganhar a santa, a mulher foi até o Hospital Universitário de Maringá, onde uma criança estava internada na Unidade de Terapia Intensiva, em estado grave. O menino havia sido baleado e corria risco de vida.
Três dias depois de receber a ‘visita’ da imagem de Nossa Senhora, o menino teve alta do hospital, contou a mulher.
“O menino Eric estava muito mal, mas três dias depois que levamos o manto ele saiu da UTI e foi neste dia que a santa começou a chorar“, disse a mulher dona da santa, ao jornal O Diário do Norte do Paraná, em junho de 2005.
O fato ganhou muita repercussão. Hoje, a fiel mudou de endereço, mas casa onde ela residia naquele tempo, localizada no Jardim Liberdade em Maringá, passou a receber centenas de fiéis que “buscavam por milagres”.
O QUE DIZEM OS MORADORES DO BAIRRO?
Na quarta-feira, 18 de janeiro, o GMC Online foi até o bairro onde tudo aconteceu, em busca de algumas respostas que ficaram em aberto, mesmo depois de tanto tempo.
Na casa onde a zeladora morava e a imagem da santa foi colocada em um altar, mora outra família, que se mudou para o local há pouco mais de cinco anos. A atual inquilina do imóvel, que preferiu não se identificar, diz que já presenciou vultos e sons anormais, vindos do cômodo onde a imagem ficava exposta.
“Passado bastante tempo, já… mais de três anos que eu já estava aqui, passou um senhor [na rua] e falou que ele vinha muito nessa casa. Aí eu perguntei: o senhor tinha parente aqui? E ele disse que não. Diz que ele vinha numa mulher que tinha uma santa que chorava. Aí eu falei: mas eu não acredito que era essa casa. E ele disse que era aqui. Logo que eu me mudei, eu já via vultos, né?! Barulho eu escutava, mas eu não fazia ideia que era aqui [a casa onde a santa ficava]. Não fazia ideia que era essa casa. Depois que ele falou eu fiquei mais atenta, sabe?! Aí sempre, de vez em quando, eu vejo. Até que agora eu me acostumei. De vez em quando eu vejo sim, de manhã, vejo a noite. Um dia eu vi um vulto, era umas 2h da tarde, e fez um barulho, aí eu olhei assim pela porta e vi que passou um vulto escuro…umas coisas esquisitas“, conta a atual moradora da casa ao portal GMC Online.
A moradora da casa onde a santa era exposta conta que a residência tem uma energia “bastante carregada“.
“Eu acho que é porque vinha muita gente ‘carregada’ nessa casa, né?! Pra falar bem a verdade, eu oro muito, oro bastante. Então eu não tenho mais medo, né?! No começo eu fiquei bastante assustada, mas eu fico aqui, porque senão…eu vou pra onde?“, comentou a mulher ao GMC Online.
Andando pelo bairro em busca de relatos a respeito do caso que marcou aquele ano, muitos moradores se recordavam do acontecido, sobretudo os mais velhos. Pelos estabelecimentos, como loterias, lojas de roupas e presentes e botequins, sempre havia alguém para falar, seja de algo que ouviu, ou até mesmo das visitas que foram feitas à santa.
Outra moradora disse que o padre da Paróquia Nossa Senhora da Liberdade, naquela época, chegou a propor uma vigília, mas a dona da imagem havia negado. Assim, o assunto não foi levado adiante pela igreja.
“Na época que surgiu essa situação, que a santa estava chorando, eles [os moradores da casa onde a santa era exposta] pegaram e vieram trazer a situação pro padre. O padre não duvidou, mas também não afirmou nada. Ele só falou que teria que pegar a santa e deixar ela numa noite de vigília, com algumas pessoas, pra realmente comprovar se ela chorava ou não. E se ela realmente chorasse, seria dado total apoio à ela [a dona da santa], mas ela se negou, então não se falou mais nada. Não teve repercussão dentro da igreja sobre esse assunto“, comentou a moradora ao portal GMC Online.
DESDOBRAMENTOS DO CASO DA ‘SANTA QUE CHORAVA’ EM MARINGÁ
Alguns meses após a repercussão do caso, o líquido que saia da imagem foi analisado pelo Laboratório de Águas e Alimentos, do departamento de química da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
O técnico responsável pela análise, que hoje é servidor aposentado da instituição de ensino, preferiu não conversar com essa equipe de reportagem, e afirmou que, atualmente, o assunto é de responsabilidade da Universidade.
A análise foi concluída no dia 1º de julho de 2005 e o resultado foi divulgado em uma reportagem veiculada pelo jornal O Diário. “O laudo emitido pelo químico revela que a amostra analisada ‘foi coletada no endereço citado, diretamente do recipiente coletor localizado abaixo da imagem’. Além disso, o documento atesta que o líquido tem ‘aspecto límpido’, transparente e inodoro, com os parâmetros de cor, turbidez e pH compatíveis com os padrões de água potável. No entanto, o químico alerta no texto do laudo que […] a amostra analisada é imprópria para consumo“, dizia a reportagem da época.
O QUE DIZ A DONA DA ‘SANTA QUE CHORAVA’ EM MARINGÁ
A equipe de reportagem do GMC Online foi até a residência onde a mulher que foi dona da ‘santa que chorava‘ vive atualmente em Maringá. Ela preferiu não se identificar, mas conversou sobre os acontecimentos que marcaram a cidade à época. Hoje, com quase 60 anos de idade, ela não trabalha mais e vive com o esposo.
Ao perguntar à mulher sobre o paradeiro da santa, ela respondeu que havia entregado a imagem à igreja católica, em Aparecida do Norte. O GMC Online entrou em contato com a assessoria de imprensa do Santuário Nacional de Aparecida, mas não obteve retorno.
Alguns moradores do bairro, que presenciaram o caso à época, deram versões diferentes sobre o paradeiro da imagem de Nossa Senhora. Há quem diga que a santa foi roubada, já outras pessoas afirmam que a imagem foi descartada.
Fonte: GMC Online