Um morador da cidade de São Mateus do Sul, no Paraná, encontrou nesta quarta-feira (16) um estranho objeto de metal retorcido em sua propriedade na zona rural do município. Astrônomos afirmam que se trata de um pedaço do foguete Falcon 9 da SpaceX, cuja reentrada foi vista no céu do Estado no dia 8 da semana passada.
O RDX, um portal da região, esteve no local e registrou o objeto encontrado pelo mecânico e agricultor João Ricardo. João contou ao RDX que encontrou o objeto na manhã desta quarta-feira (16) enquanto percorria a propriedade da família. Inicialmente ele pensou que se tratava de uma barraca, mas quando percebeu que era algo metálico, João se lembrou do barulho que escutou na madrugada do dia 8, quando ocorreu a reentrada do segundo estágio do foguete da SpaceX sobre a região.
Confira o depoimento de João Ricardo ao Portal RDX:
Identificação
O primeiro palpite do Sr. João foi que aquilo era uma parte do foguete da SpaceX. O fato dele ter ouvido o barulho naquela madrugada e a repercussão que o tema ganhou durante o dia lhe pareciam evidências suficientes. Mas havia outro fato que reforçava essa possibilidade: o local onde caiu.
Ao analisar o caso, a equipe da BRAMON, a Rede Brasileira de Observação de Meteoros, percebeu que São Mateus do Sul fica praticamente abaixo da trajetória da reentrada observada na semana anterior. Entretanto, algo parecia muito estranho: o material encontrado parecia grande e feito de um metal muito fino, algo que dificilmente resistiria a passagem atmosférica. Grande parte dos foguetes são construídos a partir de liga de alumínio que, além de ser mais leve, garante que será completamente vaporizado na reentrada.
Mas, numa análise detalhada das imagens, foram encontradas algumas semelhanças entre o objeto encontrado pelo Sr. João e a tubeira do motor Merlin 1D utilizado no segundo estágio do foguete Falcon 9 da SpaceX. As semelhanças são apontadas na imagem abaixo e estão na solda das emendas e nos buracos de rebites que podem ser visto nos dois objetos.
Além disso, o Portal RDX informa que o objeto tem cerca de 4 metros de comprimento, o que também é compatível com a tubeira do Merlin 1D, que tem pouco mais de 3 metros de comprimento (antes de ser destroçado por uma reentrada atmosférica.
Outro ponto interessante dessa peça é que ela é feita de uma liga de nióbio e titânio, que garante à estrutura uma resistência adicional às altas temperaturas, o que explicaria o fato dela ter resistido à reentrada atmosférica.
Embora seja necessária uma análise in loco para uma conclusão definitiva, a BRAMON acredita que, somados todos esses fatores, existe uma enorme possibilidade que o objeto encontrado pelo Sr. João Ricardo seja, de fato, a tubeira do motor Merlin 1D do foguete Falcon-9 da SpaceX que reentrou em nossa atmosfera no último dia 8 de março.
O foguete
O objeto que gerou esse lixo espacial era o segundo estágio do Falcon 9, lançado em 19 de dezembro do ano passado da Base da Força Espacial dos EUA em Cabo Canaveral, na Flórida, levando à órbita o Satélite Geoestacionário Turksat 5B. Trata-se de um equipamento fabricado pela Airbus Defense and Space, em Toulouse, na França, e de propriedade da operadora turca Turksat, desenvolvido para fins militares e comerciais.
Após cumprir sua missão, o foguete permaneceu em órbita da Terra até o dia 8 deste mês, quando reentrou em nossa atmosfera às 04:36 da madrugada, cruzando os céus de Santa Catarina e Paraná.
E agora? O que fazer com o lixo espacial?
Em seu depoimento ao Portal RDX, o Sr. João afirma que não tocou e nem vai tocar no objeto até que ele tenha sido analisado pelas autoridades. E essa é a coisa certa a se fazer. Não porque o material vindo do espaço ofereça algum risco de intoxicação ou algo do tipo. É que, segundo acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, a propriedade responsabilidade sobre o lixo espacial caído na Terra é sempre de seu proprietário original. Ou seja, mesmo tendo caído em propriedade privada, a SpaceX é dona do objeto caído em São Mateus do Sul. Por isso, ela deve se responsabilizar por recolher o objeto e cobrir possíveis prejuízos que ele possa ter causado.
Só que na prática, isso dificilmente acontece. Então, daqui pra frente, o que o Sr. João tem a fazer é procurar as autoridades para que a SpaceX seja informada sobre o ocorrido e, caso não manifestem disposição para recolher seu lixo espacial, vai sobrar para o morador dar destino ao pedaço de foguete que caiu na sua fazenda.
Com Olhar Digital