O dia 8 de março marca mais de um século de lutas pelos direitos das mulheres. É uma data para se celebrar o que, enfim, foi alcançado e para nos mobilizarmos em prol dos avanços que ainda precisam ocorrer.
Acena é comum em muitas escolas e empresas brasileiras. Todos os anos, no dia 8 de março, as mulheres recebem flores ou chocolates em celebração ao Dia Internacional da Mulher com alguma mensagem inspiradora sobre feminilidade. Apesar de bem intencionada, essa homenagem costuma ocultar a real importância da data, que não tem nada de comercial em sua origem.
Mesmo com um resgate do seu significado impulsionado pela quarta onda feminista nos últimos anos, muita gente ainda tem dúvidas sobre os motivos de se existir uma data em celebração à mulher. Por isso, é importante ressaltar que o dia 8 de março não é uma comemoração à existência pura e simples das mulheres, mas, sim, um marco simbólico para lutas que buscam certificar que essa existência seja segura e com a garantia de direitos civis.
A ORIGEM DO DIA DA MULHER
A luta pelos direitos das mulheres está fortemente ligada ao movimento operário. Desde o final do século 19, pouco tempo após serem incorporadas ao mercado de trabalho pela Revolução Industrial, organizações femininas protestam em nome de melhores condições de trabalho nas fábricas dos Estados Unidos e da Europa. Nessa época, as jornadas eram de aproximadamente 15 horas, seis dias por semana – inclusive domingos –,e os salários eram extremamente baixos.
A primeira marcha de grande destaque foi realizada em maio de 1908, em Nova York, e reuniu cerca de 15 mil mulheres. As manifestantes pediam a diminuição da carga de trabalho, o aumento da remuneração e o direito ao voto feminino. No ano seguinte, foi celebrado o primeiro Dia Nacional da Mulher, em 28 de fevereiro, data designada pelo Partido Socialista da América – e, por quatro anos, a comemoração continuou acontecendo no último domingo do mês nos Estados Unidos.
Já em 1910, durante a 2ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, realizada em Copenhague, a alemã Clara Zetkin apresentou a ideia de uma jornada anual de manifestações das mulheres pela igualdade de direito, com atos no mundo todo para pressionar pelas reivindicações que eram comuns a trabalhadoras de diversos países. A sugestão foi aprovada e, assim, nasceu o Dia Internacional da Mulher.
POR QUE O DIA DA MULHER É COMEMORADO DIA 8 DE MARÇO
Em 1911, mulheres da Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça deram início ao plano de unificar a sua luta por direitos com uma data internacionalmente simbólica. Naquele ano, mais de um milhão de pessoas (incluindo homens) participaram de comícios em 19 de março para que, entre outras coisas, as mulheres pudessem trabalhar em condições dignas, votar e ocupar cargos públicos.
Poucos dias depois, em 25 de março, uma tragédia na fábrica da Triangle Shirtwaist, em Nova York, escancarou ainda mais as perigosas condições de trabalho a que as operárias eram submetidas nas fábricas. Um incêndio (criminoso!?) matou 125 mulheres e 21 homens, na maioria imigrantes italianos e judeus, dos 600 trabalhadores empregados no local. Esse terrível evento se tornou o foco de diversos atos que se seguiram pelos direitos das mulheres.
Nos anos subsequentes, diversos protestos de relevância histórica continuaram acontecendo ao redor do mundo, fortalecendo a luta das operárias e sufragistas. Porém, foi só em 1917 o acontecimento que acabou por definir 8 de março como Dia Internacional da Mulher.
Nessa data (23 de fevereiro no calendário Juliano, que foi adotado pela Rússia até 1918), cerca de 90 mil trabalhadoras se uniram para se manifestar contra o Czar Nicolau II e protestar contra as más condições de trabalho, a fome, a baixa qualidade de vida da população em geral e participação russa na Primeira Guerra Mundial. Os atos foram brutalmente reprimidos – o que acabou funcionando como estopim para a primeira fase da Revolução Russa –, mas uma demanda importante foi atendida: as russas puderam participar da eleição para formação da Assembleia Constituinte de 1918.
Desde então, o dia 8 de março esteve atrelado às jornadas de mulheres do mundo. A oficialização da data, no entanto, veio apenas em dezembro de 1977, em uma resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Antes disso, os países membros haviam celebrado o Ano Internacional da Mulher em 1975 e assinado o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres em 1945.
AS CONQUISTAS FEMININAS E AS PAUTAS ATUAIS
Nesse mais de um século de existência, a luta pelo direito das mulheres ampliou as suas pautas. A melhoria nas condições de trabalho segue sendo um dos pilares, mas agora a busca também é por igualdade salarial e de oportunidades, ampliação de políticas que ajudem a conciliar maternidade e carreira, combate ao assédio sexual nos ambientes de trabalho, entre outras pautas.
O sufrágio feminino, por sua vez, foi conquistado em todos os países. No Brasil, as mulheres conquistaram o direito ao voto e a serem eleitas para cargos no Executivo e no Legislativo em 1932. O último país da fila foi a Arábia Saudita: apenas em 2015 as mulheres foram autorizadas a participar das eleições, tanto como eleitoras quanto como candidatas. No entanto, a luta segue por maior representatividade parlamentar e por mais mulheres em cargos executivos.
A partir dos anos 1970, os movimentos feministas ocidentais também incluíram reivindicações pela liberdade sexual e direitos reprodutivos, incluindo descriminalização do aborto. O combate à violência doméstica e sexual também é um pilar importante no contexto atual da luta das mulheres.
A FORÇA DO DIA 8 DE MARÇO
Por mais que tenha ganhado um caráter comercial e superficial em muitos lugares nos últimos anos, o Dia Internacional da Mulher segue tendo um simbolismo importante na luta feminista. No mundo inteiro, a data é marcada por manifestações, eventos e comícios para celebrar as conquistas feitas no último século e reivindicar novos avanços.
A quarta onda feminista, iniciada por volta de 2012 e com forte presença nas redes sociais, têm contribuído bastante para resgatar a relevância da data de uma forma mais abrangente. Nos últimos anos, um debate intenso sobre discriminações e violências têm dominado o mês de março em todas as plataformas. Nas redes sociais e mídias tradicionais, a mobilização em prol dos direitos que as mulheres ainda buscam conquistar se mostra cada vez mais forte – o que se reflete, inclusive, nas ruas.