A reconstrução de um casamento, ainda que trabalhosa, é possível de ser realizada, como nos explicou anteriormente a psicóloga Mara Lúcia Veríssimo. E isso, mesmo após a separação, a mudança de casa e até mesmo o divórcio.
A experiência do convívio entre o casal é perpassada por grandes desafios de adaptação à vida conjugal, sendo fundamental a comunicação objetiva e nítida entre eles para o amadurecimento e evolução do relacionamento. Porém, muitas vezes, quando a comunicação não ocorre como deveria e a convivência torna-se, em um primeiro momento, impossível ao casal, o divórcio acaba sendo, infelizmente, a solução encontrada por muitos.
Mas ainda que se chegue à formalização da separação, é possível que um casal se reaproxime e recomece. “Mas, isso, desde que feitas reflexões sobre o que os une e o que os separa”, explica Célia Mazza de Souza, psicoterapeuta de casais e famílias e conselheira Presidente do Conselho Regional de Psicologia do Paraná.
Como recomeçar?
Inicialmente, o primeiro passo que deve ser dado pelo casal é compreender o motivo que levou à separação, explica Clayton Machado, terapeuta familiar. Descoberta a causa, deve ser dada a oportunidade às partes para que trabalhem a situação motivadora, seja uma traição, discussões e até mesmo a ausência de um na vida do outro. “É importante zerar isso antes de iniciar esse novo momento na relação. Não dá para começar uma nova história com a mesma pessoa, sem ter ultrapassado a situação que levou àquela ruptura”, explica ele.
Sabemos que todo relacionamento traz uma complexidade de questões individuais, da família de origem e do casal em si. Então, para retomar o relacionamento anterior, Celia reforça a necessidade de resolver questões mal resolvidas anteriormente, como também seja estabelecida uma comunicação saudável. Refazer os combinados, se reavaliar individualmente, procurar afastar as questões pessoais que podem interferir no relacionamento também são pontos a serem observados nesse momento.
Muitas vezes é preciso um trabalho de autoconhecimento acompanhado por profissional, para que as mudanças sejam mais efetivas. “O diálogo acontece com a mediação de um psicoterapeuta de casais ou de famílias quando a busca terapêutica ocorre, no intuito de reavaliar e trabalhar as emoções e decisões quanto ao casamento/divórcio/recasamento”, orienta Célia.
Machado lembra que uma separação pode trazer marcas negativas e traumas e por isso é necessário trabalhar interiormente para ser, fazer e agir diferente. “O perdão precisa ser autêntico, verdadeiro e íntegro, assim uma vez perdoado, para sempre estará”, destaca ele.
Ainda, é importante perceber se esse desejo de um recomeço não parte de uma carência afetiva pessoal. Se sim, Machado sinaliza que esse movimento torna-se perigoso, pois se o relacionamento for retomado baseado na carência, após algum tempo ele pode se tornar desgastante novamente. “Não basta uma parte querer reatar se não há espaço para isso ou se o relacionamento já se tornou tóxico e abusivo. Não se conformar com um término de relacionamento pode ser um indício de que a pessoa precisa de ajuda profissional para lidar com a perda”, complementa Célia.
Os psicólogos destacam, ainda, que uma nova aproximação, sempre deve estar pautada na transparência, no respeito e no diálogo, quando cada um poderá falar sobre sentimentos e expectativas quanto ao que viveram, bem como, como será o relacionamento daqui pra frente, buscando tornar natural novamente a vida a dois em quatro paredes.
O recomeço com filhos
Após o casal estar ciente e certo da decisão de retorno, Célia orienta que haja também uma conversa com os filhos, de modo que o diálogo seja ampliado a todos os membros do núcleo familiar com uma comunicação nítida, afetuosa e respeitosa. Afinal, a decisão terá o envolvimento de emoções, sentimentos, expectativas e planos de mais de uma pessoa, sendo fundamental para reiniciar a nova fase com mais harmonia.
Por meio do diálogo com os filhos, pode ser verificada a necessidade de meios para a nova adaptação da família, inclusive buscando auxílio em processo de psicoterapia familiar. “Após o divórcio há na família uma nova adaptação, seja pela frequência de visitas, espaços individuais e familiares. Portanto, um retorno à vivência conjunta envolve uma readaptação, que traz novos desafios ao casal, que também são pais, e aos filhos”, conclui Célia.