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“Dieta da natureza”: atividades ao ar livre beneficiam os filhos de diversas formas

Com cerca de 80% das crianças e adolescentes brasileiros vivendo em ambientes urbanos, o contato com a natureza durante a juventude se tornou escasso e até mesmo quem tem acesso a um quintal, praça ou parque da cidade prefere – muitas vezes – ficar dentro de casa usando aparelhos eletrônicos. “É uma intoxicação digital que não permite brincar livremente em espaços naturais e que só piorou durante a pandemia”, alerta o pediatra Ricardo Ghelman.

Pesquisador e membro do Grupo de Trabalho Saúde e Natureza da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ele afirma que essa realidade sedentária e estressante pode desencadear uma disfunção generalizada no metabolismo, colocando em risco a saúde física e mental dos pequenos. “Isso porque o estresse eleva o nível do hormônio cortisol que, por sua vez, aumenta o açúcar e o colesterol no sangue, assim como a pressão arterial”, explica.

Com isso, há mais chances de apresentar sobrepeso ou obesidade desde a infância e de desenvolver precocemente doenças cardiovasculares, diabetes e até câncer. Sem contar “o aumento de 50% nos casos de transtornos mentais como ansiedade e depressão, além de problemas de visão como a miopia”, aponta o especialista, que indica uma mudança urgente de rotina baseada na “dieta da natureza”.

Segundo ele, esse programa orienta a adoção de hábitos ao ar livre como brincar no parquinho mais próximo pelo menos uma hora por dia e passear ou caminhar na rua, em alguma praça ou na orla da praia uma vez na semana. Também é indicado “fazer um piquenique todo mês priorizando a alimentação saudável e planejar viagens para locais onde a criança usufrua de espaços abertos com autonomia, liberdade e segurança”, orienta Ricardo.

Essa “dieta” traz inúmeros benefícios e já tem sido colocada em prática por mães como a gaúcha Sheila Webber Pereira. Moradora de Torres, no Rio Grande do Sul, ela incentiva o filho Benjamin, de cinco anos, a realizar atividades ao ar livre diariamente e também a passear nos finais de semana. “Ele brinca na rua, no pátio da escola e nós sempre saímos em família para locais na natureza”, relata a mãe, comentando que o menino ama correr, fazer piqueniques, empinar pipa, jogar bola e pescar.

Incentivado desde pequeno a estar em contato com a natureza, o pequeno Benjamin ama correr, fazer piqueniques, empinar pipa, jogar bola e pescar. Crédito: Arquivo pessoal/Sheila Webber Pereira

De acordo com ela, essas atividades reduzem muito o tempo que o garoto passa assistindo desenhos ou usando o celular e ainda colaboram de forma significativa para o desenvolvimento físico e mental dele. “Sem contar que estamos criando memórias afetivas saudáveis que serão essenciais para sua vida adulta”, garante.

Só que a lista de vantagens não acaba aí. De acordo com o Manual da SBP a respeito dos benefícios da natureza para crianças e adolescentes, atividades ao ar livre também ajudam no controle de doenças crônicas como diabetes, asma e obesidade, diminuem o risco de dependência ao álcool e outras drogas, favorecem o desenvolvimento neuropsicomotor e reduzem problemas de comportamento. “Além de proporcionar bem-estar mental, equilibrar os níveis de Vitamina D e diminuir o número de visitas ao médico”, informa a publicação.

Por isso, o pediatra Ricardo Ghelman – que é um dos autores do Manual da SBP – reforça a necessidade de tirar as crianças de dentro de casa com segurança para que elas voltem a se sociabilizar e a ter contato com grama, areia, terra, árvores e flores.

“Precisamos fomentar o acesso ao brincar e ao convívio social ao ar livre, sem aglomerações e usando máscaras, para mitigar o impacto que a pandemia causou na saúde e no bem-estar dessa geração inteira de crianças e adolescentes”, finaliza o especialista, que apresenta algumas sugestões para ajudar nesse contato dos filhos, sobrinhos e netos com a natureza.

  • Priorize sempre a realização de atividades de lazer e convívio social em espaços ao ar livre com elementos naturais como grama, terra e árvores.
  • Sugira que a escola onde a criança ou adolescente estuda inclua aprendizagens ao ar livre na retomada das aulas presenciais, pois isso beneficiará a saúde e bem-estar dos alunos e evitará a transmissão do coronavírus durante a pandemia de Covid-19.
  • Evite oferecer alimentos ultraprocessados, dando preferência às frutas, verduras e às opções minimamente processadas. O Guia de Alimentação para Crianças de 0 a 2 anos do Ministério da Saúde traz várias sugestões para isso.  
  • Apoie e participe de iniciativas que fortaleçam o acesso a áreas naturais e à realização de brincadeiras com segurança adequada no contexto da pandemia.
  • Realize atividades físicas em casa quando não puder sair com os filhos por causas climáticas, por exemplo. Exercícios como yoga, músicas relaxantes e brincadeiras antigas são algumas opções.
  • Inclua na agenda semanal da família pelo menos cinco sessões de atividade física com 10 a 20 minutos de exercícios de equilíbrio e flexibilidade em cada sessão, além de brincadeiras ativas ao ar livre. 

Do Sempre Família/Gazeta do Povo

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