Entre os milhares de documentos dos serviços de inteligência do governo norte-americano tornados públicos na internet – com ou sem aval da Casa Branca – dezenas citam Maringá.
A localização estratégica da cidade, no corredor do tráfico internacional de drogas e do contrabando de mercadorias, fez Maringá aparecer nos radares de diferentes agências de segurança sediadas nos Estados Unidos.
A fiscalização vem de longa data. Se hoje é rotina assaltos a ônibus de sacoleiros nas estradas da região, há 40 anos os alvos dos bandidos eram caminhões carregados de café. As quadrilhas roubavam as cargas e contrabandeavam para o Paraguai. A suspeita de que Maringá abrigava integrantes dessas facções criminosas chegou às autoridades norte-americanas por meio de um relatório feito em junho de 1980.
O arquivo “Narcóticos e drogas perigosas”, elaborado pela Agência Central de Inteligência (CIA), com 77 páginas, destaca reportagens da época, citando a onda de crimes envolvendo o transporte de café e assaltos a fazendas produtoras. Conforme o texto, a polícia vinha realizando investigações “nos municípios de Três Lagoas (MS), Corumbá (MS), Presidente Prudente (SP), Londrina e Maringá, onde provavelmente existem outras ramificações da quadrilha”.
Esses documentos integram uma massa de mais de 10 milhões de páginas que perderam o status de sigilosas e foram publicadas na internet pela agência de inteligência.
Tráfico de drogas
Boa parte dos relatórios confidenciais é abastecida por informações divulgadas pela imprensa. Notícias de apreensões de grandes volumes de drogas são anexadas em e-mails enviados com frequência para Washington, nos Estados Unidos.
Por exemplo, a notícia de que a Denarc apreendeu 10,5 toneladas de drogas na região de Maringá, em 2020, é o tipo de informação que despertaria interesse do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. É isso que mostram os e-mails vazados pelo WikiLeaks.
Dentre as mais de 5 milhões de mensagens vazadas a partir de 2012, o nome de Maringá é citado em 62 correspondências. Na maior parte delas, a cidade aparece por apreensões de toneladas de drogas e prisões de traficantes.
Em 14 de junho de 2010, um caminhão de transporte de óleo vegetal, com placa de Maringá, foi flagrado com 5 toneladas de maconha nos tanques. No mesmo mês, uma batida na PR-317, entre Maringá e Iguaraçu, envolveu um carro que transportava 525 quilos de maconha. Já em agosto, um caminhão com 200 mil maços de cigarros que seriam entregues em Maringá foi interceptado em uma operação policial. O que todos esses crimes têm em comum, além de citar Maringá, é que constam de relatórios da inteligência norte-americana, tornados públicos pelo WikiLeaks.
Jornal comunista
Os arquivos também citam o cenário da política nacional. Em meio à Guerra Fria, entre Estados Unidos e União Soviética, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) atraiu a atenção das autoridades norte-americanas. A criação do jornal Democracia Popular, em julho de 1950, um dos periódicos do PCB, colocou Maringá no radar das investigações.
Relatório produzido pela CIA em 25 de outubro de 1951 detalhava a estrutura e o funcionamento do periódico, com sede no Rio de Janeiro. Na listagem das 33 cidades em 15 Estados que contavam com colaboradores do jornal, Maringá era uma delas.
O documento, que leva o nome de “Democracia Popular, jornal comunista”, também informa que o semanário havia sido lançado como “um possível substituto do diário Imprensa Popular”, outro periódico do PCB.
Os documentos podem ser encontrados na página da CIA e no Wikileaks.
Do GMC Online