Exames detectaram presença de sangue em roupa e no carro de Jean Michel de Souza, que também teria deixado pegada de chinelo no local do crime
A polícia não tem dúvida. Jean Michel de Souza matou o sogro e a sogra, já idosos, e depois tirou a vida da esposa. Os corpos foram encontrados por uma funcionária na casa da família na manhã desta segunda-feira (9), na avenida São Paulo, centro de Umuarama.
De acordo com a Polícia Civil, tudo leva a crer que o crime foi cometido por volta das 22h do domingo, após uma forte discussão entre o empresário e o sogro, Antonio Soares dos Santos, de aproximadamente 60 anos.
Ainda não há certeza sobre a dinâmica do crime, mas de acordo com as informações reunidas pela equipe de criminalística no interior da residência, um sobrado, Antonio foi o primeiro a ser morto com pelo menos um golpe de faca na região do pescoço.
Helena Marra dos Santos, igualmente na faixa dos 60 anos, fora assassinada na sequência, a poucos metros do marido, também com uma perfuração no pescoço. O casal estava na parte de baixo da casa.
A filha deles, Jaqueline, possivelmente tentava se esconder no andar de cima. Dados extraoficiais apontam que o corpo dela apresenta pelo menos cinco hematomas causados por objeto perfurocortante no peito e nos braços, sinal de uma possível luta corporal para se defender.
Jaqueline foi encontrada de roupa, dentro de uma banheira vazia em um dos quartos.
Três laudos da perícia reverberam a crença da equipe chefiada pelo delegado Osnildo Carneiro Lemes, da 7aSubdivisão Policial, de que Jean Michel é o autor do triplo homicídio.
Pegada em poça de sangue coincide com chinelo usado por suspeito
Dentro da residência, havia pegada de chinelo em uma das poças de sangue. O calçado coincide com o usado pelo empresário. Manchas de sangue também foram encontradas na lavanderia da casa da mãe de Jean e no volante do carro dele, um Astra prata.
Embora fossem casados, Jean Michel e Jaqueline moravam em residências separadas. O casal discutia muito e Jean optou por morar com a mãe. Estava à procura de um apartamento para viver com a esposa, longe dos pais dela.
Os primeiros depoimentos de pessoas próximas do suspeito e das vítimas corroboram que ele mentiu ao ser ouvido pelos policiais. Jean dissera que havia saído de casa somente às 13h de domingo, para ir ao encontro da esposa, mas um familiar relatou que o rapaz também se ausentou no período da noite, sem levar o celular.
Esposa reclamava de brigas e agressões
De acordo com depoimentos tomados pela Polícia Civil, Jaqueline reclamava de agressões e abusos cometidos pelo marido, mas que relevava na expectativa de que as coisas melhorassem em breve. Os dois frequentavam uma igreja evangélica.
Testemunhas reforçaram que o empresário tinha uma relação difícil com o sogro, dono de lojas de aviamentos em Guaíra, no Paraná, e Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul.
Antes de abrir a loja de aviamentos nas proximidades da praça Miguel Rossafa, em Umuarama, Jean trabalhou no almoxarifado de um hospital da cidade e na Regional de Saúde.
“Sempre tivemos ele (Jean) como um profissional atencioso, dedicado, humano. Custa acreditar que ele tenha feito isso”, disse um antigo colega de serviço, que preferiu não se identificar.
O delegado Gabriel Menezes estava de férias e foi chamado pelo delegado-chefe Osnildo Lemes para atuar no caso em regime extraordinário, junto com a equipe de investigadores e peritos da criminalística.
A cada minuto situação ia se complicando
Menezes disse que o Jean chegou a abrir a loja na manhã desta segunda-feira. Ao ser encontrado no local pela equipe de investigadores, afirmou que já sabia da morte dos familiares, através da imprensa.
Jean Michel foi levado à delegacia no início da tarde. Permaneceu cerca de cinco horas em uma sala reservada aguardando para depor. Até então não estava preso. Tanto que, se quisesse, podia até sair do local, como fez, diversas vezes, seu advogado.
Porém, a cada minuto que passava o cerco ia se apertando e novos indícios iam surgindo. Era em torno de 19h quando o suspeito foi chamado para a sala da superintendência e nem chegou a usar a cadeira, sendo conduzido direto para uma das celas da cadeia.
Por cautela, os delegados Lemes e Menezes preferiram esperar o resultado de uma nova prova pericial, no carro do suspeito. Com o uso de uma substância conhecida como luminol, foi possível encontrar partículas de sangue no interior do veículo. Exames mais aprofundados permitirão identificar de quem é o material.
Delegado diz que frieza de Jean gerou estranheza
Para o delegado Gabriel Menezes, não é possível dizer que Jean tenha premeditado os crimes. Porém, a tranquilidade e a frieza esboçadas pelo suspeito na abordagem dentro de sua empresa e na cena do crime geraram estranheza.
“(Quando chegamos ao local de trabalho dele) ele estava tranquilo. Em nenhum momento ele apresentou sinal de estar consternado em saber que a esposa, o sogro e a sobra estavam mortos. Posteriormente ele foi levado à residência onde os fatos aconteceram, havia muito sangue no local, ele presenciou toda essa cena, e em nenhum momento ele demonstrou abalo emocional”, disse Menezes.
O delegado afirmou que uma eventual hipótese de Jean em se apoderar do patrimônio dos sogros não está descartada, mas que pelo que foi levantado até o momento, pesa mais a tese de passionalidade. O suspeito tinha um comportamento possessivo em relação à esposa. “Não é possível afirmar que ele seja um psicopata”, reforçou.
De acordo com o delegado, o conjunto de provas reunidas é robusto e ainda que Jean negue os crimes, isso não faz diferença para polícia. “Temos provas suficientes para garantir a manutenção da prisão dele, reunidas na cena no crime, em perícias e em depoimentos”.
Corpos serão sepultados em Goiás
A expectativa é que os corpos de Antonio e Helena fossem liberados ainda na noite desta segunda-feira. Já o corpo de Jaqueline precisou ser encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) de Toledo, para exames mais detalhados. Assim que retornasse a Umuarama, os três deveram ser transladados a Pires do Rio, no interior de Goiás. A cidade é terra natal da família.
A liberação dos corpos foi acompanhada por amigos de uma segunda filha do casal, juíza na cidade de Paranavaí. Ela está prestes a dar à luz o segundo filho.
Do O Bem Dito