Senador pelo Piauí preside o PP há 10 anos e foi principal articulador da entrada do Centrão no governo Bolsonaro
Prestes a ser nomeado ministro-chefe da Casa Civil, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos principais líderes do Centrão e fiador da entrada do bloco no governo Jair Bolsonaro, responde a duas denúncias apresentadas ao Supremo Tribunal Federal (STF) em decorrência das investigações da Lava-Jato e ainda é alvo de um inquérito decorrente da delação do empresário Joesley Batista. Também foi alvo de três ações por improbidade administrativa, de acordo com levantamento feito pelo GLOBO na Justiça Federal.
Senador desde 2010, a maior parte das questões judiciais envolvendo Ciro corre nas instâncias superiores em razão do foro privilegiado. Os casos na Suprema Corte caminham desde 2017.
Uma das denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em 2018 acusa o senador de tentar obstruir as investigações da Lava-Jato por supostamente ameaçar e tentar comprar uma testemunha que prestou depoimentos à Polícia Federal.
A outra denúncia, apresentada em fevereiro de 2020, aponta pagamento de dinheiro ilegal da Odebrecht para campanhas eleitorais de Ciro Nogueira. Os crimes apontados são corrupção passiva, lavagem de dinheiro e corrupção ativa.
Segundo os delatores, ele pediu à Odebrecht recursos para sua campanha eleitoral em 2010, tendo recebido R$ 300 mil, fora da contabilidade oficial. Segundo a PGR, as doações tinham como contrapartida a ajuda que Ciro poderia prestar à Odebrecht em razão do cargo público que ocupa.
O STF ainda não julgou o recebimento dessas ações contra Ciro. Caso elas sejam recebidas, ele se tornaria réu.
Há ainda o inquérito aberto a partir da delação de Joesley Batista que o investiga por suposto recebimento de propina da JBS para que o PP apoiasse a eleição e o governo de Dilma Rousseff. Em maio, a Polícia Federal informou que encontrou provas que reforçam a suspeita de que Ciro recebeu R$ 5 milhões, pediu prorrogação do inquérito e solicitou que o senador seja interrogado novamente. A ministra Rosa Weber ainda não se manifestou sobre o pedido.
No Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), responsável por analisar em segundo grau questões que chegam do Piauí, o senador figura em três ações por improbidade administrativa. Em uma delas, o Ministério Público Federal (MPF) acusa o senador de usar recursos públicos para a propaganda eleitoral da mulher dele, a deputada federal Iracema Portella (PP), nas eleições de 2014. O caso está concluso para decisão desde 2019.
A defesa do senador afirmou que Ciro Nogueira foi colocado sob foco de investigação num momento no qual havia, “claramente, uma tendência de criminalização da política” e que “não há nada que possa impedir a mais completa e livre definição política do que desejar o senador Ciro Nogueira””.
“Claro que ninguém está acima da lei, e todos podem e devem ser investigados. Mas não há, em nenhum dos inquéritos em trâmite no Supremo Tribunal Federal, qualquer coisa que preocupe a defesa. O tempo exagerado nas análises das questões faz com que exista um desequilíbrio entre os poderes” disse o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, em nota.
Da Agência O Globo