Ricardo Barros: um articulador no alvo de denúncias e próximo ao poder
Deputado foi um dos responsáveis pela entrada do Centrão no governo e se tornou o principal personagem das denúncias de irregularidades na compra da Covaxin
Expoente do Centrão, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) foi um dos mais importantes artífices da chegada do grupo político ao governo Bolsonaro, do qual se tornou líder na Câmara em agosto do ano passado. Nem a lista de problemas com a Justiça o impediu de chegar ao posto no mandato do presidente eleito com um discurso que atacava parlamentares justamente com o seu perfil. Agora, Barros se torna o principal personagem das denúncias de suspeitas de irregularidades na compra da vacina Covaxin.
Na Câmara desde 1995, Barros sempre esteve junto ao poder. Foi líder do governo na Câmara de Fernando Henrique (PSDB) e vice-líder nos mandatos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. No governo Michel Temer, tornou-se ministro da Saúde. Esse currículo deu a ele a musculatura para se cacifar ao posto que ocupa e que, por ora, deve se manter, apesar do avanço das investigações na CPI que envolvem seu nome.
O líder do governo na Câmara já foi alvo de pelo menos 12 inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo gestões suas à frente da prefeitura de Maringá e do Ministério da Saúde, pasta que comandou de 2016 a 2018, no governo de Michel Temer.
Um mês depois de ser alçado à liderança do governo, em setembro de 2020, Barros foi alvo de um mandado de busca e apreensão numa operação do MP do Paraná para apurar os crimes de lavagem de dinheiro e corrupção na compra de usinas eólicas, entre 2011 e 2014 — em contratos firmados com uma empresa do setor de energia e que teriam facilitado o desvio de verbas públicas. À época, Barros era secretário de Indústria e Comércio do Paraná. Ele nega as acusações.
Na mira de senadores
Na CPI da Covid, o líder do governo entrou na mira dos senadores na noite de anteontem, após os depoimentos do deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, Luís Ricardo Miranda, lotado no Departamento de Logística do Ministério da Saúde. Miranda afirmou que o presidente Jair Bolsonaro citou o nome de Barros ao ouvir as suspeitas sobre irregularidades na aquisição do imunizante indiano.
Essa conversa, aliás, não retirou a força de Barros junto ao presidente. Em 6 de maio, como revelou o colunista Lauro Jardim, Bolsonaro nomeou Maria Aparecida, mulher do líder, para cadeira no conselho de administração de Itaipu, vaga com salário de R$ 27 mil.
Membros do alto escalão do governo dizem que os irmãos Miranda não apresentam provas. Ponderam que um afastamento do líder poderia ser entendido com uma admissão de culpa e sem o contraditório, uma vez que até aqui o governo tem optado por negar denúncias e questionar a credibilidade dos denunciantes.
Já para os senadores da CPI, a atuação de Barros deixa indícios de sua atuação pró-Covaxin. Foi uma emenda do deputado que ajudou na importação do imunizante indiano. Barros é investigado por improbidade administrativa, quando era ministro, pelo favorecimento da Global Saúde. A Global é sócia da Precisa Medicamentos, empresa que vendeu a Covaxin ao governo. O deputado afirma que não houve qualquer favorecimento para atos de improvidade.
Em 29 de abril, Barros disse, em plenário, que queria mais agilidade da Anvisa para aprovar vacinas como a Covaxin. A fabricante, Bharat Biotech, teve o certificado de boas práticas negado pela agência, o que atrasou a autorização para a importação das doses compradas. Em entrevista ao Estadão, o líder do governo disse que iria “enquadrar a Anvisa.”
Após ser citado na CPI, o líder foi ao Twitter dizer que não participação de nenhuma negociação envolvendo a Covaxin. “Não sou esse parlamentar citado”, escreveu. Disse que está “disponível para quaisquer esclarecimentos.”
Do O Globo