Não tem “terceira via” não: é Bolso ou ladrão!
Por Rodrigo Constantino, na Gazeta do Povo
A cada dia vem um novo balão de ensaio. Já tentaram João Doria, Mandetta, Luciano Huck, Tasso Jereissati, Eduardo Leite, Rodrigo Pacheco, João Amoedo, Joaquim Barbosa e até Danilo Gentili. Tentam de tudo para sair da polarização entre Lula e Bolsonaro pela esquerda, mas nada parece prosperar.
Se os verdadeiramente mais moderados não tivessem enveredado por esse caminho sensacionalista de demonizar qualquer um que enxergue virtudes no governo, tratando Bolsonaro como “genocida”, talvez fosse possível evitar o afunilamento binário.
Talvez um nome efetivamente de centro-direita, que propusesse abandonar os excessos bolsonaristas sem jogar fora o bebê junto, pudesse ter alguma chance. Não foi isso que aconteceu.
Para começo de conversa, todos esses nomes são de alguma forma “tucanos”, ou seja, centro-esquerda ou esquerda mesmo. E o destino de todo tucano é, quando descer do muro, fazê-lo pelo lado esquerdo, normalmente caindo direto no colo de um petista.
Essa turma toda não fez críticas construtivas ao governo Bolsonaro; preferiu trata-lo como a pior coisa que aconteceu em nosso país, isso mesmo com Paulo Guedes, Tarcísio, Marcos Pontes, Tereza Cristina, Ricardo Salles, fora o quadro sério ocupando as estatais, Roberto Campos Neto no Banco Central e mais, muito mais. Não era uma questão de tecer críticas pontuais, legítimas, mas sim de demonizar todo um governo com quadro técnico e sem escândalo de corrupção até aqui.
Ou seja, as máscaras caíram, uma a uma, e os tucanos e seus satélites expuseram a única coisa que lhes interessa: o projeto de poder, não o Brasil. O público não é trouxa e percebeu. Mesmo quem enxerga vários defeitos no presidente, em sua postura, inclusive ou especialmente na pandemia, sabe que essas narrativas contra ele são oportunistas, abjetas, patéticas. Basta ver a postura de boa parte da mídia, conivente com esses adversários. A chamada da Folha para reportar as 400 mil mortes diz tudo:
Qual a diferença para esse tipo de ilação ridícula e o que diz um socialista como Freixo, por exemplo?
Essa tem sido a narrativa predominante dessa patota tucana, que explora a pandemia de forma eleitoreira. O povo, atento, enxerga com nojo uma tática desumana e antipatriota. Uma CPI circense com relatoria de Renan Calheiros e presidida por um companheiro lulista era a pitada de canalhice que faltava para o pote transbordar.
Estão todos unidos no esforço de derrubar o governo. Basta ver os novos ataques contra o ministro Ricardo Salles. O pedido de CPI do Meio Ambiente foi proposto pelos partidos PT, PSB, PDT, Psol, PCdoB, Rede e PV. Ou seja, a esquerda radical toda unida. Nunca foi tão fácil saber de qual lado ficar numa disputa binária…
Os “moderados”, os “liberais”, os de “centro”, no afã de responsabilizar Bolsonaro por tudo de ruim que acontece no país, passaram pano para os abusos escandalosos do Supremo Tribunal Federal, deixaram de apontar para o sensacionalismo esquerdista da imprensa, e chegaram ao ápice de normalizar até figuras radicais como Ciro Gomes. Quem pode levar a sério quem chama Bolsonaro de radical ao lado do Ciro?
Por isso tudo e muito mais, esses “moderados” da tal “terceira via” não têm chance em 2022. Pelo visto até o líder do MBL, um dos ícones dessa guinada de comportamento, passando a adotar postura lamentável e oportunista, admite a derrota. Em sua coluna de hoje, Renan Santos conclui:
Esqueçam a ideia de um candidato único na terceira via. Não haverá. Os “partidos do centro” já acertaram com Lula seu papel eleitoral no jogo vindouro. Congestionarão o caminho do centro, permitindo ao moribundo Bolsonaro um ingresso claudicante no segundo turno. O PSD de Kassab já declarou oficialmente que terá candidato. “Derrotados” — mas fortalecidos no parlamento —, unir-se-ão a Lula no segundo turno, em nome da democracia, dos cargos e dos ministérios.
Bolsonaro só está “moribundo” em sua torcida, o que prejudica qualquer análise. Mas mesmo assim ele reconhece que a probabilidade grande é de um segundo turno entre Lula ou Bolsonaro. E será bem curioso ver para qual lado esses “liberais” que passaram a confundir Bolsonaro com o vírus chinês vão pender no ano que vem. Pois eles podem espernear o quanto for, não importa: tudo leva a crer que será uma escolha binária entre Bolso e o ladrão do Foro de SP!
Rodrigo Constantino
Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.