Quando os médicos perceberam que o filho de Lorena Navarrete tinha uma complicação rara da Covid-19 que atinge algumas crianças e adolescentes, era tarde demais para salvar a vida de Emilio, de 16 anos.
Lorena, mãe solteira que mora em Puerto Montt, cidade portuária do litoral sul do Chile, disse à rede TVN que seu filho amante de música morreu cerca de uma semana depois de se queixar pela primeira vez de cansaço e dor nas pernas no final de janeiro.
Em poucos dias ele havia desenvolvido manchas na pele, febre alta, vômitos e urina escura. Médicos do hospital da cidade, sobrecarregados com casos graves de Covid, o submeteram a vários exames, mas tiveram dificuldades para descobrir o que estava errado com ele.
Quando sua doença foi identificada como Síndrome Inflamatória Multissistêmica em Crianças (Pims), era tarde demais.
Lorena não pôde estar ao lado do leito do filho por causa dos protocolos de saúde rigorosos, mas uma assistente social ligou para passar a mensagem de que o filho a amava muito. Ela pediu à assistente social para dizer ao filho que o veria em breve e que seus animais de estimação estavam bem.
“Um médico disse que, se eu tenho fé, deveria rezar, porque meu filho estava muito doente”, disse Navarrete, que trabalha como técnica de enfermagem. “Eles conseguiram um diagnóstico e era Pims”.
A Pims é uma síndrome rara e potencialmente fatal que está ligada à Covid-19.
Ela compartilha sintomas do choque tóxico e da Doença de Kawasaki, como febre, irritações na pele, glândulas inchadas, conjuntivite e, em casos graves, inflamação cardíaca, e pode causar falência múltipla de órgãos — mas não é fatal se descoberta e tratada rapidamente.
Em janeiro, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) disse que está investigando se variantes da Covid estão aumentando o número ou a gravidade dos casos depois de relatos ocasionais de alguns Estados norte-americano.
A pediatra Loreto Twele, especializada em doenças infecciosas do hospital de Puerto Montt, disse que detectar a Pims foi como montar um quebra-cabeça.
“Não existe um exame único. Você tem que montar as peças para conseguir estabelecer um diagnóstico precoce e iniciar o tratamento”.
Para a mãe de Emilio, a dor de perder o filho único é suavizada em parte por saber que pode conscientizar as pessoas.
“Não quero que a morte de Emilio seja em vão, mas que isto seja conhecido para que não aconteça com outros pais”, disse.
Da Reuters