Valor do imóvel é quase quatro vezes maior que patrimônio declarado por ele em 2018
Enquanto o país vive seu pior momento da pandemia de Covid-19 neste início de ano, com média de mais de mil mortes por dia, o senador Flávio Bolsonaro dá mostra de que o distanciamento social não tem atrapalhado seus negócios. O filho chamado de 01 pelo presidente Jair Bolsonaro reforçou sua ‘expertise’ em negócios imobiliários ao comprar uma mansão no Lago Sul, área nobre de Brasília, por R$ 5,97 milhões, conforme revelou nesta segunda-feira (01) o site “O Antagonista”. O negócio também foi confirmado por outros veículos de imprensa, como o jornal O Globo, que teve acesso ao registro da compra em cartório.
Assim que a nova aquisição de Flávio Bolsonaro veio a público, pipocaram imagens e vídeos da suposta mansão nas redes sociais. O jornalista George Marques, que trabalhou para o Intercept Brasil, Revista Fórum e Metropoles, divulgou em sua conta no Twitter um vídeo da casa. Imagens do imóvel também foram veiculadas pela CNN Brasil e pelo site do jornal Folha de S. Paulo.
Esta é a super-mansão de 6 milhões que o sena Flávio Bolsonaro financiou pelo Branco Regional de Brasília (BRB) em 30 anos, com juros de 3.75% ano, enquanto o pobre tem juros na Caixa de 4,5% ao ano pra cima
— George Marques ?? (@GeorgMarques) March 1, 2021
Isso é bem a cara do Brasil dos privilegiados pic.twitter.com/ta6QHECV1X
O senador Flávio Bolsonaro – investigado pela suposta existência de um esquema de desvios de recursos dos salários de seus assessores quando era deputado estadual da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) – tem um ‘histórico de sucesso’ com negócios imobiliários. Em muitas das transações, ele demonstrou grande habilidade para obter altos lucros.
Documento do Ministério Público (MP) do estado do Rio de Janeiro, tornado público pela revista Veja em 2019, mostra que, novembro de 2012, Flávio Bolsonaro, então deputado estadual do Rio, adquiriu um apartamento na avenida Prado Junior, em Copacabana, por R$ 140 mil. Apenas 15 meses depois, revendeu por R$ 550 mil. O lucro foi de 292%, um negócio e tanto, considerando uma valorização média dos imóveis no Rio de Janeiro de 11% no período.
De acordo com a reportagem, no mesmo mês, Flávio comprou um imóvel na rua Barata Ribeiro, em Copacabana, por R$ 170 mil. Um ano depois, fechou outro bom negócio. Revendeu o imóvel por R$ 573 mil. Lucro de 237% ante uma valorização média dos imóveis de 9% no período.
Segundo promotores Ministério Público do Rio de Janeiro que analisaram negócios imobiliários do filho 01 do presidente Jair Bolsonaro, entre 2010 e 2017 Flávio Bolsonaro lucrou 3,089 milhões de reais em transações imobiliárias.
O novo negócio no ramo de imóveis, agora em Brasília, parece ser o mais valioso do senador. Conforme documento a que o jornal O Globo teve acesso, a mansão localizada em uma área batizada de ‘Setor de Mansões Dom Bosco’ tem 2.400 m² de área total. A compra foi registrada no dia 29 de janeiro. Constam como compradores Flávio e sua esposa, Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, com quem é casado sob comunhão parcial de bens. O imóvel foi vendido pela RVA Construções e Incorporações.
O financiamento a juros baixos mostra a ‘expertise’ de Flávio Bolsonaro nos negócios. O documento registrado em cartório consta que houve a contratação de um financiamento junto ao Banco de Brasília (BRB) para o pagamento de R$ 3,1 milhões. Serão 360 prestações mensais, com taxas de juros entre 3,65% e 4,85%.
Com a compra da mansão em Brasília, Flávio Bolsonaro deverá dar um salto em seu valor patrimonial. Nas eleições de 2018, o senador declarou possuir bens no valor total de R$ 1,7 milhão, entre eles um apartamento na Barra da Tijuca, no valor de R$ 917 mil, e salas comerciais no mesmo bairro no valor de R$ 150 mil. Como senador, seu salário é de R$ 33 mil mensais.
Em meio à pandemia, a maré está favorável a Flávio Bolsonaro. Na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou a quebra de sigilo bancário e fiscal do senador no âmbito das investigações do caso das “rachadinhas” de quando era deputado estadual pelo Rio de Janeiro. As quebras de sigilos haviam sido autorizadas em abril de 2019 pelo juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, mas os ministros da Quinta Turma do STJ identificaram problemas de fundamentação na decisão judicial.
O senador não havia se pronunciado até o final da noite desta segunda-feira (01) a respeito da compra da casa em Brasília nem confirmado se as imagens veiculadas são do imóvel adquirido por ele. O BRB também não havia comentado sobre o financiamento.
Da Gazeta do Povo