Para conseguir atingir a meta estipulada pelo próprio Governo do Estado, de vacinar pelo menos 4 milhões de pessoas contra a Covid-19 até o final de maio, o Paraná terá de acelerar – e muito – o ritmo da imunização da população paranaense. Segundo levantamento feito pelo Bem Paraná, considerando o ritmo atual da vacinação o estado precisaria de aproximadamente um ano para aplicar ao menos a primeira dose do imunizante em toda a população de risco do estado, ao passo que para a imunização completa de todos os paranaenses o período ultrapassaria quatro anos.
Para fazer o cálculo, o Bem Paraná se baseou no número total de paranaenses a serem vacinados — 8.736.014 pessoas segundo o IBGE, já que os menores de 18 anos não serão imunizados agora — e também na própria meta da Secretaria da Saúde (Sesa), que prevê vacinar o total de 4.080.110 pessoas até o quinto mês do ano. Além disso, foi feito o levantamento sobre o número de doses aplicadas no estado, dia a dia, de forma a se verificar quantas pessoas estão sedo imunizadas diariamente (em média), considerando-se ainda que os imunizantes utilizados no Brasil devem ser aplicados em duas doses.
No Paraná, a vacinação contra a Covid-19 teve início em 20 de janeiro. Naquele dia, pouco depois das 15 horas, todos os municípios já haviam retirado as suas cargas de imunizantes, a maioria iniciando a vacinação no mesmo dia, embora algumas cidades já tivessem feito vacinações simbólicas nos dias anteriores: em Curitiba, por exemplo, a enfermeira Lucimar Josiane de Oliveira, do Hospital do Trabalhador, foi a primeira paranaense a ser vacinada contra a Covid-19, na noite do dia 18. No dia seguinte, Londrina e Maringá, no norte do Paraná, e Umuruama, no noroeste do estado, também deram início à vacinação com eventos simbólicos.
Desde então, 215. 798 doses do imunizante foram aplicadas no estado, considerando-se o intervalo entre os dias 20 de janeiro e 9 de fevereiro. Descontando os domingos, então, foram 18 dias com a vacinação acontecendo no Paraná, o que dá uma média de 11.989 doses aplicadas da vacina contra o novo coronavírus por dia.
Dessa forma, para alcançar a meta de 4.080.110 pessoas imunizadas, o Paraná, no ritmo atual, precisaria de pelo menos 340 dias de trabalho das equipes de vacinação, considerando apenas a aplicação da primeira dose do imunizante (o que já poderia garantir uma imunização mínima aos paranaenses).
Já para a imunização completa da população acima de 18 anos, seria necessária a aplicação de 17,47 milhões de doses no estado, o que levaria aproximadamente 1.457 dias de trabalho ininterruptos. Ou seja, seriam pelo menos quatro anos vacinando a população, mas como há folgas e feriados, o período chegaria a algo entre quatro anos e meio a cinco anos – e isso sem considerar o fato de que ainda não se sabe qual o “prazo de validade” da imunização, ou seja, quanto tempo a vacina consegue garantir a imunidade do indivíduo.
Principal problema é a falta de estoque de imunizantes
O cálculo feito pelo Bem Paraná chegou a um resultado muito próximo do levantado pelo microbiologista da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Gustavo de Almeida, que levantou quanto tempo o Brasil levaria pra vacinar toda a população, no ritmo atual. A similaridade entre os resultados, inclusive, pode ser uma evidência de que a maior causa na lentidão do processo não seja exatamente a falta de estrutura ou pessoal, mas sim a escassez de vacinas.
“Já em plena pandemia do Covid, conseguimos vacinar 54 milhões de pessoas contra a gripe [no país] em cem dias, sem grandes esforços. No caso da Covid, deveríamos conseguir no mínimo o mesmo número, idealmente mais, se abríssemos postos de vacinação em estádios e escolas”, disse Almeida em entrevista ao Estadão, explicando ainda que, diante da falta de imunizantes contra o coronavírus, a saída tem sido estabelecer prioridades, limitando também a quantidade de pessoas que poderiam ser vacinadas por dia.
“Um dos grandes gargalos é a questão das prioridades. Se tivesse vacina para todo mundo, era muito mais simples vacinar um milhão por dia. Se tivesse muita vacina, ninguém ia furar a fila, como aconteceu em Manaus”, explicou ainda o epidemiologista Fernando Barros, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). “Se não houver um clamor popular, uma grande pressão para a compra de vacinas, vão continuar morrendo mais de mil pessoas por dia.”
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, é possível até mesmo que a campanha brasileira de vacinação tenha de ser interrompida em breve. “Na situação em que estamos, provavelmente vamos ficar um tempo sem vacinar ninguém, uns vinte dias, se não recebermos outras vacinas, até a Fiocruz e o Butantan começarem a produzir em larga escala”, afirmou.
Do Bem Paraná