Pesquisadores brasileiros descobriram que bagaço da cana-de-açúcar, um dos principais resíduos da agroindústria nacional, é capaz de “limpar” água contaminada com cobre ou crômio.
A pesquisa, feita por cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em colaboração com Unifesp – Universidade Federal de São Paulo – e com apoio da Fapesp e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi publicada em dois artigos na revista especializada Environmental Science and Pollution Research.
Como
Eles explicam que um compósito – material híbrido que apresenta características distintas de seus precursores – produzido a partir do bagaço e de nanopartículas magnéticas removeu cobre e crômio em meio aquoso.
O compósito apresenta propriedades adsorventes e magnéticas, sendo eficiente na remoção de diferentes espécies químicas contaminantes presentes no meio aquoso.
Após a remoção do contaminante pelo compósito por processo de adsorção (pelo qual espécies químicas são retidas nas superfícies sólidas do adsorvente), o material é retirado do meio aquoso pela ação de um ímã, deixando a água limpa.
“Sua natureza híbrida, que une as propriedades da matriz biológica [bagaço de cana] com as magnéticas das nanopartículas de magnetita, permite que os materiais propostos no trabalho sejam versáteis. Ou seja, o material também pode ser aplicado na remoção de moléculas orgânicas [corantes sintéticos, drogas, hormônios e pesticidas], o que reforça seu potencial para tratamento de água e efluentes”, escreveu o grupo nos artigos Nanomodified sugarcane bagasse biosorbent: synthesis, characterization, and application for Cu(II) removal from aqueous medium e Hexavalent chromium removal from water: adsorption properties of in natura and magnetic nanomodified sugarcane bagasse.
Os pesquisadores
As pesquisas tiveram como primeiras autoras as alunas Juliana Tosta Theodoro Carvalho e Thais Eduarda Abílio, com a supervisão da pesquisadora Elma Neide Vasconcelos Martins Carrilho, do Laboratório de Materiais Poliméricos e Biossorventes (Lab-MPB), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no campus de Araras, em colaboração com Geórgia Labuto, do Laboratory of Integrated Sciences (LabInSciences) do Departamento de Química da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Diadema. A linha de pesquisa tem apoio da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
De acordo com Elma Carrilho, o estudo faz parte de uma série de outros trabalhos que seu grupo vem desenvolvendo no Lab-MPB (UFSCar), usando biomassas como biossorventes, alternativa viável e eficiente para a descontaminação de ambientes aquáticos.
“Com esses materiais, a proposta é criar colunas de adsorção em leito fixo contendo os compósitos adsorventes produzidos com resíduos de biomassa que seriam descartados, considerados lixo, para atuarem como filtros biossorventes. Esperamos que a produção científica com base no uso desse tipo de tecnologia continue crescendo no Brasil e impulsione a bioeconomia no país”, afirma.
O cobre é um metal maleável e bom condutor de eletricidade, por isso muito usado na indústria, construção civil e em atividades agrícolas. É largamente utilizado para controle de proliferação de cianobactérias em reservatórios de água para consumo humano. Em pequenas quantidades é elemento essencial a organismos vivos, mas em altas concentrações na água pode provocar náusea, vômito e diarreia, segundo análises da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
Outras aplicações
A técnica pode ser adaptada também para a retirada de corantes sintéticos, drogas, hormônios e pesticidas da água.
Carrilho lembra que os nanocompósitos magnéticos estudados pelo grupo também têm potencial para auxiliar na remoção de óleos (como o petróleo cru) da superfície da água em casos de derramamento.
Em testes de laboratório, os cientistas já conseguiram que outros compósitos – feitos à base de resíduos de biomassa e magnetita – removessem petróleo bruto e outros tipos de óleo derramados em água, com mais de 80% de eficácia.
Do Só Notícia Boa com informações da Agência Fapesp